Figura do Ourense, Jairo Noriega foi um dos melhores amigos de Álvaro Carreras nos anos do Depor. A visão de um talento descomunal, o estilo frenético de quem enfrenta os jogos sem travão
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Álvaro Carreras é a máquina do Benfica, não é líder supremo de jogos – esse é Pavlidis –, mas comanda em minutos, atualmente com 4091 no reino da águia, superando, nesse capítulo, Otamendi. Os desempenhos do espanhol traduzem-se num festim de espetáculo, coroação de melhor em campo algumas vezes, juntando quatro golos e cinco assistências. Por isso, foi tão importante acautelar a sua disponibilidade para o embate do título, que acontece na Luz com o Sporting, acalmando o ímpeto com um jogo de castigo na visita ao Estoril.
Aos 22 anos, estamos perante a versão mais eletrizante do galego, elo endiabrado da orquestra de Lage. O lateral-esquerdo tem maravilhado os adeptos pela desenvoltura ofensiva, impondo esse apetite com uma facilidade estonteante, dançando sobre os rivais, abalando as linhas de defesa contrárias.
A contratação feita por seis milhões ao Manchester United já abre suspeitas de lucro extraordinário, pois não faltam tubarões no encalço do espanhol, sugestivo para os olheiros. Com escola feita entre Real Madrid e Manchester United, Carreras atingiu o esplendor na Luz, está a fazer a melhor época, dando corda pelo seu corredor às pretensões de um Benfica campeão. Antes de existirem clubes grandes na vida do lateral, o Depor foi a sua casa, a Corunha recebeu-o após impressionar, mais imberbe, no seu clube local, Racing Ferrol. Ao seu lado, na cidade herculina, honra à Torre de Hércules, estava Jairo Noriega, 21 anos, médio-ofensivo do CF Ourense. Maravilhavam-se dois canhotos, cobertos de afinidades, travessuras e gargalhadas.
“Tivemos logo uma grande relação, que se prolongou quatro ou cinco anos. Faz tempo que não o vejo, é o normal da nossa vida, cada um segue o seu caminho. Álvaro era muito extrovertido, brincalhão e cheio de graça. Guardo-lhe grande carinho, feito de muitas recordações. O contacto é que se escapou com o passar dos anos”, evidencia Jairo, pondo ênfase nas qualidades assombrosas que já deixavam deslumbrado quem visse Carreras cavalgar. Já era um comboio de alta velocidade. “Destacava-se logo pelas arrancadas, poderio físico e jogo associativo com os colegas”, situa-nos quanto aos predicados que, imediatamente, saltaram à vista. Jairo não esconde a satisfação de ver um companheiro já em montra tão invejável. “Desde que chegou de Ferrol, viram-se essas condições de uma besta física. Já o era com curta idade e no Ferrol, contra nós, já se viam coisas muito boas. Chegou a Madrid e acho que não jogou o que esperava. Mas, em Manchester, rompeu todas as escalas, passou por todas as equipas e chegou a ser convocado para a principal. É um jogador de topo, está destinado às melhores equipas”, relata.
Jairo em nada está espantado pela dimensão ofensiva que Carreras oferece ao Benfica, quebrando oponentes, abrindo brechas e penetrando que nem uma seta. “Sempre teve essa maneira de jogar, essa potência física tanto no ataque como na defesa. Já muito miúdo era a tal ‘besta’, a subir e descer pela esquerda como um avião. O difícil era fazer isto ao mais alto nível. Mas ele faz! Na liga portuguesa e na Champions. E fará em qualquer sítio. Joga igual e faz as mesmas diferenças que fazia com 13 ou 14 anos”, atira, num tributo radioso a um velho amigo.