Treinador reconheceu a importância do jornal O JOGO e destacou os pontos que transformaram a qualidade do futebol em Portugal, como a maior regularidade nas exibições e trabalho.
Corpo do artigo
Carlos Queiroz foi o primeiro convidado do ciclo “Conversas com Campeões” e, ao longo de uma hora, recordou o percurso no futebol ao longo destes 40 anos, recheado de desafios, altos e baixos. “Não foi um trabalho de um homem só, nunca me senti um super-homem, embora ao longo da história se reconheçam certas lideranças. Por muito que estas lideranças seja marcantes, não são resultados de milagres. Há sempre razões e pessoas que nos ajudam”, começou por dizer, perante uma sala lotada.
Selecionador das memoráveis equipas nacionais de sub-20 que conquistaram o Mundial em 1989 e 1991, Carlos Queiroz recordou o início do futebol no nosso país, altura em que os jogadores eram considerados “jeitosos” para disputar o desporto-rei: “‘Os portugueses são muito jeitosos a jogar futebol’, diziam. Era-nos reconhecido o jeito de jogar à bola. O sermos jeitosos para jogar futebol mostrou que não chegou na nossa história para demonstrarmos consistência. Tivemos momentos jeitosos como quando fomos campeões europeus de juniores, tivemos os resultados das equipas de clubes, que beneficiaram termos um recrutamento alargado. Tivemos o Europeu de 84, o expoente máximo que foi 86. Fomos capazes de ter picos de excelência mas nunca conseguimos ter regularidades. Para ser bom, é preciso fazer as coisas bem feitas todos os dias. A partir de 1986, com a minha formação e experiencia, comecei a refletir, analisar, ouvir e estudar. Depois de várias anos, cheguei a um ponto em que percebi que uma das questões fundamentais do treino não estavam a ser bem trabalhadas, como a metodologia específica de futebol. A experiência deles era o jogo. Nos anos 70, o dia mais horroroso era a terça-feira, em que corríamos à volta do campo e subíamos e descíamos escadas. Normalmente, nesse dia, o grupo de jogadores era só metade. As infraestruturas que existem hoje, comparando com as de antes, são dia e noite. O Sporting era tido como um dos melhores clubes de futebol. Os juniores começavam a treinar às seis horas da tarde, a partir das sete só podiam treinar em metade do campo, para treinarem também os juvenis. Nesse tempo, os miúdos de 10 anos começavam a treinar depois de sair do liceu, até às 22 horas, e depois as pessoas ficavam muito surpreendidas pelo abandono escolar. Todos os miúdos ligados à área de desporto eram considerados os burros, por terem as piores notas.”
Finalizando que a evolução de um jogador é como tratar “de uma flor” - “a flor precisa de sementes, terra, água, de luz e jardineiros. Se transformarmos isto para este lado temos os jeitosos, sempre tivemos esta semente” - Carlos Queiroz não esqueceu os 40 anos do jornal O JOGO. “Tenho 46 anos seguidos de treino, tive o privilégio de nunca estar parado. Tive essa sorte e privilégio que o futebol meu deu. O jornal O JOGO representa uma referência da minha evolução. A imprensa institucional, imprensa que até um determinado momento das nossas vidas marcou opiniões. Era através da imprensa que muitas vezes se instruía a sociedade. Até que surgiu o telemóvel, que mudou o mundo e nos obriga a mudanças mais rápidas. A vossa resistência é um marco”, rematou.