A terceira vida do treinador em Braga começa num momento sensível e um falhanço com o Servette pode ter custos penosos. Mas quem o conhece vê ferramentas para pronta estabilidade.
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Carlos Carvalhal regressa a Braga para se propor a mais do que já fizera na última passagem pelo clube, conseguindo conquistar a Taça de Portugal no ciclo entre 2020 e 2022. Um trabalho coroado com uma peça preciosa para o museu, mas também por indicadores exibicionais amplamente satisfatórios e exposição à Europa de diamantes feitos na Pedreira, patrocinando vendas bombásticas de David Carmo e Vitinha.
António Salvador agarrou essas pistas, viu essa segurança e reconheceu o menor risco fazendo voltar um técnico identificado com cada canto e entusiasta do crescimento do clube. Mas é uma prova de fogo de alta pressão que se apresenta, face a um jogo no terreno do Servette, que decidirá aspirações no assalto à Liga Europa, traçada como obrigatória, tendo o nulo em casa com a formação suíça deixado o presidente apreensivo. Sem responsabilidades neste plantel, sem tempo consistente de trabalho, Carvalhal sabe que um descuido europeu deixará sabor amargo e potencial ruído sobre a cúpula. É um jogo que acentuará sempre o entusiasmo, em caso de continuidade, e radicalizará a crítica, pelo golpe duríssimo nas aspirações, sabendo-se que o Chelsea ficará como obstáculo de um acesso à Liga Conferência.
Vítor Santos, antigo colega de Carlos Carvalhal, aprova aposta pela identificação com o clube e o conhecimento do plantel
Há pressa de fazer as coisas bem, mas inevitável calculismo, pois não se pode falhar. O técnico escolhido tem lastro para reduzir riscos, empatia imensa para animar as tropas, mas nada pode garantir num momento gerador de dúvidas. Vítor Santos, nome forte do clube, antigo colega de Carvalhal em Braga, quando ambos faziam parte do plantel na década de oitenta, reage com agrado à mudança, consciente do abanão abrupto na Pedreira. “É uma mudança que temos de considerar súbita e precoce. Existiram motivos fortes, certamente, para esta decisão do presidente. A escolha de Carvalhal é a opção certa no momento certo. Numa fase sensível, era importante optar por alguém que conhecesse em profundidade o clube. É a pessoa indicada para preparar já este jogo”, relata o antigo latera-esquerdo/médio, que fez 222 jogos pelos bracarenses, justificando a leitura abonatória desta cartada de Salvador. “Não sendo Carvalhal, que sabe tudo do clube, que está identificado na plenitude com a estrutura e com jogadores já treinados por ele, era muito complicado”, revela Vítor Santos, diminuindo o choque do despedimento que colheu Daniel Sousa ao cabo de quatro jogos, em que até não tinha perdido: “Estando por fora, mas sendo sócio e adepto ferrenho, entendo que uma decisão tão drástica está assente em várias razões. Foi desencadeada por algo forte, por muito que se emitam várias opiniões”.
Agora, o bracarense tem esperança em fortes ventos de mudança. “É anseio de todos que a equipa possa produzir mais e apresentar melhores performances. O plantel é suficientemente bom para se fazerem melhores exibições. Tenho a convicção que o Carvalhal vai dar esse clique e a equipa vai elevar a produção, fazendo muito mais do que vinha fazendo”, atira Santos, curvando-se a um amigo de longa data. “A ligação dele ao Braga é de nascença, nasceu num bairro por cima da Pedreira. Não o digo por ser amigo, mas é alguém que responde pela competência, factos são factos. Tem trabalhos muito meritórios no Braga, contribuiu para que o clube crescesse e se desenvolvesse. Tornou o Braga maior e pode seguir nesse caminho”.