Carlos Carvalhal, treinador do Braga, concedeu uma entrevista à Rádio Marca, de Espanha. Confira alguns dos pontos abordados pelo técnico.
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Última época: "O ano passado foi muito bom para o clube. Em cem anos de história, a equipa esteve muito bem em todas as frentes. Marcámos presença na final da Taça da Liga, vencemos a Taça de Portugal e disputámos a Supertaça. Conseguimos o quarto lugar no campeonato e chegámos aos 16 avos de final da Liga Europa. Valorizámos muito os nossos jogadores. O Braga tem três Taças de Portugal no seu palmarés e nós ganhámos uma. Depois de um ano tão bom o que aconteceu? Os jogadores estavam muito valorizados, alguns que estavam há vários anos no clube tinham o objetivo de se mudar para outros clubes. E isso compreende-se quando um clube atinge um pico elevado. O nosso presidente é muito experiente e sabe que não pode fechar portas a saídas de jogadores. Este tem sido um ano de completa renovação. Temos um plantel renovado, com muitos mais jovens."
Juventude: "Desde que cheguei, há um ano e meio, estreei na primeira equipa 12 jogadores da formação e o objetivo continua a ser o mesmo: tentar o máximo em todas as competições. Ainda estamos em prova na Liga Europa e o próximo jogo será contra o Sheriff e seguimos em quarto lugar no campeonato, que, normalmente, é o objetivo mínimo do clube. Sabemos bem a diferença que há entre o Braga e o Sporting, Benfica e FC Porto. Estamos sempre à espera que uma dessas equipas fique para trás. Há um objetivo importante e o presidente do clube falou-me dele logo no primeiro dia: disse-me para estar atento à formação, aos jovens jogadores. O clube investiu muito na construção de uma academia e quer tirar partido da formação. Ainda na última jornada atuaram sete jogadores da formação: um com 16 anos (Roger) e outro com 17 (Falé). Com esses jogadores, ganhámos 6-0 ao Arouca".
Renovação do plantel: "Este ano têm surgido mais oportunidades para os mais jovens. O plantel está numa fase de renovação e apostámos nos jovens. Temos vários na primeira equipa e até incluo nesse grupo três que não passaram pela formação do clube: Yan Couto, Diogo Leite e Abel Ruiz. No jogo que disputámos em Arouca, foram utilizados nove jogadores com menos de 20 anos".
Abel Ruiz: "Começou muito bem em Braga, conquistando facilmente um lugar na equipa. Depois de ter sido chamado à seleção de Espanha, passou por uma fase em que não esteve tão bem e o Vitinha, que é um dos jovens da equipa vindos da formação, aproveitou muito bem a oportunidade, mas o Abel continua a ser um jogador titular para nós. É um valor inquestionável, acreditamos muito nele. No nosso esquema tanto pode jogar como ponta de lança como interior esquerdo. Joga muito bem como segundo avançado, entre linhas, e estamos muito satisfeitos com ele. É titularíssimo".
Roger Fernandes: "É um miúdo fantástico. Simboliza o futebol de rua. Joga com um sorriso nos lábios e, ao mesmo tempo, com muita concentração. Tem uma capacidade impressionante. É muito forte na finalização com os dois pés e entende muito bem o jogo, o que não é normal num miúdo com 16 anos."
Ainda Roger: "Quando perdi o Galeno, não vi na equipa B outro jogador com as mesmas características e o responsável pela formação recomendou-me o Roger. Quando o vi treinar fiquei impressionado. Meti-o depois a jogar num particular e ele jogou muito bem. Quando visionei o vídeo do jogo, até comentei com os meus adjuntos que aquilo não era normal. No dia seguinte, chamei-o ao meu gabinete e perguntei-lhe como é que ele jogou tão bem como ala. E respondeu-me que via muitos vídeos da equipa principal e que já estava identificado com a forma de jogar da equipa. Disse-me também que teve o cuidado de rever as movimentações do Galeno quando lhe disseram que eu iria substituí-lo. Achei isso absolutamente fantástico. Como é que um miúdo de apenas 16 anos tem tanta maturidade? Para além disso, é um jogador muito rápido, potente e que finaliza muito bem com os dois pés. Tem uma energia contagiante. É um jovem valor. Lembro-me que quando se estreou a marcar na Taça de Portugal veio abraçar-me na comemoração. Teve um significado especial esse abraço porque o pai dele tinha falecido uma semana antes. Puxei muito por ele no sentido de compensar a perda dele, pelo que esse momento foi muito emocionante."
Três centrais: "Nesta altura, o Braga está a jogar de facto com três centrais, mas eu não gosto muito de jogar assim. O meu sistema é completamente diferente dos outros. Temos sido inovadores a esse nível, desde a minha passagem pelo Rio Ave. Costumamos jogar com três defesas, sendo o terceiro um lateral-esquerdo. Isso dá-nos muita flexibilidade na movimentação. Quando o lateral sobe, o guarda-redes ou um dos médios podem fazer de terceiro central. Só que perdemos o único lateral-esquerdo que tínhamos no plantel para o resto da época: o Sequeira. Entrou para essa posição o Diogo Leite, um esquerdino, e estamos a tentar que também consiga causar desequilíbrios. Só que trata-se de um central, não tem a flexibilidade de um lateral. Em Inglaterra eu e os meus adjuntos já nos inquietávamos com a movimentação das equipas que treinávamos. O Rio Ave foi um desafio nesse sentido e resolvemos fazer um corte completo com tudo aquilo que havíamos feito antes. Fizemos isso por uma questão de motivação e também por entendermos que o jogo está sempre a evoluir. Queríamos criar algo de novo no futebol. Foi fantástica essa experiência no Rio Ave e prosseguimos em Braga. Fomos muito criativos. Temos plasticidade defensiva e ainda em termos ofensivos, em função também do adversário."