União é a palavra mais repetida por adeptos, seccionistas e atletas do Canelas que relataram a O JOGO a tristeza pela polémica em torno de um clube que, no entanto, não pára de crescer
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Os evidentes sinais do tempo no já degradado estádio do Canelas indicam que há mais história antes de 2010, ano da fundação de um clube que tem estado envolto, nas últimas duas temporadas, numa polémica ainda sem solução. Na verdade, o Canelas 2010 foi criado depois da extinção do Canelas de Gaia, emblema que esteve oito épocas nos campeonatos nacionais, repartidas pelas II e III Divisão. Saudades é o que geram esses tempos a Armando Martins, 62 anos, e António Silva, 61 anos, antigos diretores do clube que todos os sábados de manhã juntam-se no Estádio para, como dizem, "passarem o tempo". "Tínhamos sempre muita gente a ver os jogos, à volta de 1500 a 2000 pessoas", recorda Armando Martins, enquanto António Silva lembra-se bem do dia em que o Canelas fez a vida negra ao Sporting, que viria a ser campeão, de Augusto Inácio. "Em 1999/2000 perdemos aqui, para a Taça, 1-0, com o Sporting do tempo do Acosta. O estádio estava cheio, mais de seis mil pessoas...", contou.
Agora, os dois amigos ocupam as tardes de domingo a ver as equipas das redondezas, devido ao boicote imposto pelos adversários do Canelas na Divisão de Elite da AF Porto. "Vamos aqui e acolá, mas é diferente e isto dói-nos. Estas bancadas foram feitas por pessoas que trabalhavam por carolice ao fim de semana. Tínhamos muitos clubes que se diziam nossos amigos, mas afinal... isto é tudo uma cabala", remata Armando Martins, olhando com orgulho para as dezenas de taças expostas junto ao bar do clube que ultimamente já não tem a mesa posta para os jogadores almoçarem em dias de jogo.
"Isto dói-nos. Estas bancadas foram feitas por pessoas que trabalhavam ao fim de semana"
Numa sala logo ao lado, vários seccionistas adiantam as fichas de jogo para os encontros, do dia seguinte, dos diversos escalões de formação. A opinião é unânime: o ruído em torno do Canelas não afetou o clube, antes pelo contrário. "Isto não afetou em nada as camadas jovens e, prova disso, é que, no ano passado, eu tinha dez a doze jogadores nos juniores e, este ano, tenho 26", refere Rosa Oliveira, diretora dos juniores, escalão que, segundo a própria, apoia "incondicionalmente" os seniores. "É claro que eles falam disto tudo entre eles, mas apoiam muito os seniores e só estão tristes por não poderem jogar lá, já que eles têm essa esperança de serem chamados aos seniores", acrescenta, apoiada por Paulo Sousa, diretor dos iniciados. "A mim só me obrigaram a fazer esta maldade", refere, mostrando o braço direito onde tem tatuado, a azul, "Canelas 2010".