Em declarações a O JOGO, Manuel Cajuda elogia a capacidade de liderança do novo treinador e acredita que este terá sucesso "se souber utilizar o melhor jogador" do clube, referindo-se aos adeptos
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Escolhido pela SAD do V. Guimarães para abraçar o cargo de treinador da equipa principal, Tiago Mendes costuma surpreender sempre que tem pela frente desafios elevados. Assim foi quando ascendeu, ainda júnior, aos seniores do Braga por decisão de Manuel Cajuda e, uma época e meia depois, se transferiu para o Benfica (2002).
Numa viagem ao passado, o ex-treinador vitoriano recorda que Tiago dispensava explicações por "assimilar tudo depressa"
O ex-treinador do Vitória assistiu então a um dos primeiros jogos que disputou na Luz, já pelos encarnados, e rapidamente se espantou, mesmo sabendo que o jovem médio em que havia apostado tinha características especiais. "Aos 20 segundos, comentei logo isto: "este miúdo já não sai da equipa". Mal começou o jogo, já andava de dedo no ar a dar indicações ao Zahovic e companhia", contou a O JOGO.
Os primeiros sinais de capacidade para liderar manifestaram-se bem cedo, assim como uma apetência especial para ler o jogo. Manuel Cajuda garante mesmo que até foi enriquecendo os seus conhecimentos à medida que observava o médio em campo.
"O Tiago não era um expoente técnico, mas era um expoente tático. Enquanto corria, andava sempre a ver o que se passava nas costas dele. Tinha uma visão periférica do terreno de jogo. Olhe, aprendi com ele a importância da visão ampla. Assim, ele conseguia ser mais rápido e eficiente na tomada de decisões. Quando se fala em falta de intensidade no futebol português, isso deve-se à forma errada como os jogadores olham para o jogo. Não se deve à falta de capacidade física", apreciou Cajuda, garantindo que Tiago "assimilava tudo muito depressa". "Não era muito de levantar questões. Era assim por ser mais inteligente do que os outros", referiu.
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Treze títulos depois, com 66 internacionalizações pela Seleção Nacional, Tiago está por fim no ponto, na opinião de Manuel Cajuda, para vingar como treinador. "Lida muito bem com a pressão. Não é homem de desesperar com as críticas, porque sabe o que quer. Foi campeão em Inglaterra, França e Espanha. É um ganhador, sabe decidir. Está mais do que habilitado para trabalhar num clube onde a pressão é permanente. Teve a oportunidade de trabalhar com grandes treinadores e adquiriu muitos conhecimentos", assinalou o antigo técnico dos minhotos, certo de que o melhor atalho para Tiago ter êxito ao serviço do Vitória será jogar com os adeptos.
"Tem muito a ganhar se souber utilizar o melhor jogador do Vitória: a massa associativa. Foi o que eu fiz, com inteligência e respeito. Isso é meio caminho para o êxito em Guimarães. Tem de perceber muito bem onde se meteu e, atenção, é um clube muito bom", vincou. Já a inexperiência de Tiago como treinador não passará de uma falsa questão. "Ele tem 39 anos, eu comecei com 32. O que importa é a competência", argumentou Cajuda.
A história do júnior "fininho" que teve direito a apresentação
Sem dinheiro para reforços no Braga, Tiago foi uma das melhores improvisações de Manuel Cajuda. O treinador viu-o pela primeira vez num jogo de juniores e, antes do apito final, ficou definida a promoção.
"O presidente [João Gomes Oliveira] estava ao meu lado e disse-lhe isto: "olhe, o jogador que eu quero é aquele número 7 fininho". Ele ainda pensou que eu estaria a gozar. Fiz questão, no entanto, que o clube enviasse um fax para os jornais e televisões a anunciar que numa terça-feira o clube iria apresentar um jogador e assim foi. A sala de Imprensa encheu-se de jornalistas, todos à espera de um brasileiro qualquer, e acabou por ser apresentado o Tiago. Houve "haaaa" de desilusão, enquanto alguns perguntavam: "Mandaram-nos vir aqui para isto? Um júnior?""