Cabral do arranque difícil até à Luz: passou pelo futsal e pensou desistir do futebol
Com a família sempre a seu lado, contando com o incentivo e os reparos do pai Hélio, Arthur Cabral afirmou-se no Ceará, onde ganhou a alcunha de rei Arthur. Fã de Ronaldo, foi alvo de reparos de Scolari.
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À espreita da estreia, e logo como titular, pelo Benfica, diante do Estrela da Amadora, Arthur Cabral chega à Luz com a missão de marcar golos e fazer esquecer Gonçalo Ramos.
O goleador brasileiro, que na Europa faturou por 65 vezes pelo Basileia e 19 na Fiorentina, começou cedo a dar os primeiros pontapés na bola, mas numa quadra, tendo começado pelo futsal, aos sete anos, algo que continuou a fazer até aos 11.
Depois, aventurou-se pelo futebol, mas o arranque não foi fácil. Passou por vários clubes brasileiros, mas foi acumulando dispensas e frustrações.
Natural de Campina Grande, no Paraíba, nordeste do Brasil, começou à procura de uma oportunidade a sul: Fluminense, São Paulo, Internacional de Porto Alegre foram pontos de passagem, mas sem sucesso. Tentou ainda no Vitória, na Bahia, mas o desfecho foi idêntico. Por isso, chegou a pensar em desistir. "Houve um momento, quando ele voltou da Bahia, em que ficou muito desanimado, não queria mais treinar", contou Hélio Cabral, pai do jogador, ao portal "Torcida K".
"Eu trabalhava num clube do Paraíba e levei-o para fazer a pré-temporada comigo. Começou a gostar de novo do futebol e teve a oportunidade de ir para um clube de Pernambuco, o Barreira. Daí foi para o Ceará", recordou Hélio Cabral, abordando as constantes viagens de avião que o filho teve de fazer ainda na infância e adolescência. "Para mim, por fazer parte do futebol, por ter jogado e ser treinador, era normal. Para a família não. Achavam absurdo ele, com 14 anos, passar seis meses no Rio de Janeiro sozinho. E ainda foi para a Bahia e Pernambuco. Mas serviu como amadurecimento."
A partir do Ceará, o passo acertou. Já a ganhar nome na formação do Vozão, chegou a ser emprestado ao Palmeiras, mas voltou à base, onde viria a assinar contrato profissional e a ganhar dois títulos no Campeonato Cearense, em 2017 e 2018. Os muitos golos valeram-lhe uma alcunha especial: rei Arthur. No ano seguinte voltou ao Verdão, mas fez apenas meia época, pois não conseguiu afirmar-se às ordens de Luiz Felipe Scolari.
Scolari queria mais explosão
No Palmeiras enfrentou a concorrência de avançados mais experientes como Borja e Deyverson. Fez apenas cinco jogos e marcou um golo. Limitado por questões físicas, ficou para trás nas opções porque Scolari entendia que Cabral tinha "de ser um pouco mais explosivo". O antigo selecionador de Portugal chegou a revelar: "Estamos a insistir em alguns trabalhos especiais para que tenha uma maior movimentação, melhores deslocamentos. Não só imposição física, mas trabalho técnico."
Arthur Cabral viu a passagem falhada pela equipa de São Paulo como uma "aprendizagem". "Foram oito meses muito difíceis. A parte em que mais evoluí foi a psicológica. Ajudou-me a chegar à Fiorentina, onde sei que tenho de lugar por um lugar a titular", contou em entrevista ao portal UOL.
Puxões de orelhas do pai e a comida da mãe
Religioso, de tal forma que reza antes dos jogos, Arthur Cabral é muito ligado à família - onde o futebol tem força. O pai, Hélio, a quem homenageou ao dar esse nome ao seu filho, foi jogador e depois de ter sido preparador-físico é agora treinador, e há ainda um primo, Hugo Cabral, também futebolista. Sempre que pode, a família junta-se. Exemplo disso é que os pais fizeram questão de estar presentes na assinatura de contrato com o Benfica. A mãe "estraga" o filho com mimos durante as férias, nomeadamente o arroz com feijão, prato que Arthur aprecia. Já o pai, grande influência, assume-se também como o primeiro crítico. "Estou sempre em cima dele. Qualquer descuido que ele dá, converso com ele. Se tiver de puxar as orelhas, puxo. Pode ter a idade que tiver. Eu e a mãe dele exigimos muito", admitiu Hélio Cabral, revelando que já preparou o filho para sofrer com os defesas: "O avançado recebe muitas faltas e digo-lhe que o atacante tem de apanhar mesmo e que tem de aguentar."
O ídolo Ronaldo e o sonho do escrete
Nascido em 1998, Arthur Cabral tinha apenas quatro anos quando o Brasil conquistou o Mundial pela última vez. Com um tal de Ronaldo como referência no ataque. O craque canarinho, agora dono do Valladolid e Cruzeiro, sempre foi o ídolo do atacante das águias. "Sempre fui um grande fã dele. Usava a 9 por causa dele, jogava videojogos com a equipa em que ele estava", contou em tempos ao UOL, emocionando-se quando conheceu Ronaldo. "Realizei um sonho de criança ao conhecer o melhor jogador que vi jogar", atirou, em dezembro de 2018.
Outro sonho concretizado, ainda que apenas pela metade, foi chegar à seleção. Foi convocado por Tite em outubro de 2021, mas não se estreou. "Estava em casa e por volta das 21h00 ligou-me um número desconhecido do Rio de Janeiro. Geralmente não atendo, mas atendi e era o Juninho Paulista [coordenador da seleção brasileira]. Lembro-me até à parte em que ele se apresentou, entrei em choque. Depois, não me lembro de mais nada", assumiu.