Bruno Varela: "Onana estava muito em baixo e mostrei-lhe o resumo do jogo com o FC Porto"

Esteve a um passo da final da Champions. Como viveu a prova e a derrota com o Tottenham?

- Foi cruel. Antes da fase de grupos, o Ajax fez três eliminatórias e de fora nunca havia a expectativa de chegar à meia-final. Ao olhar para o grupo, a ideia era que passassem Bayern e Benfica e, além de ultrapassar o Benfica, o Ajax não perdeu com o Bayern e foi muito superior. Com o Real Madrid, também fomos superiores nos dois jogos e depois pensariam que vencer a Juventus era quase impossível, mas demos uma lição de futebol à Juventus. A mim, não me surpreendeu.

Falou com Cristiano Ronaldo?

- Sim, em Amesterdão. Estive à conversa com o João Cancelo, que é um irmão para mim, e fui ao balneário deles. O Cristiano disse que tínhamos um futebol muito atraente e personalidade a jogar. Fomos superiores e acabámos por apanhar o Tottenham na meia-final. No primeiro jogo, fomos superiores em alguns momentos, mas no segundo jogo fomos muito superiores na primeira parte e não tanto na segunda. Foi muito cruel sofrer o golo nos últimos segundos e não é normal sofrer três golos na segunda parte. Foi duro, mas os jogadores sabiam que havia um campeonato para ganhar e essa motivação ajudou-nos.

O último golo do Tottenham é comparável ao que sofreu de Herrera na Luz?

- Sim e é engraçado, porque o Onana estava muito em baixo e mostrei-lhe o resumo do jogo com o FC Porto, em 2017/18. Praticamente, perdi a liga em casa, com 65 mil adeptos, e era o histórico penta. E ele disse-me "ah, já passaste por isso". Era um campeonato e não a Champions, mas foi cruel e custa.

Substituto de Rui Vitória, Lage manteve, diz Varela, o mesmo método de quando treinava os miúdos, algo decisivo para o êxito.

Antes de sair, ainda trabalhou com Bruno Lage. O que mudou?

- O míster Lage falava muito da questão do "treino a treino e jogo a jogo" e o Benfica ganhava treino a treino. O foco estava aí para que no jogo tudo saísse com naturalidade.

Que diferenças destaca?

- Notava-se que o Benfica jogava com mais alegria e naturalidade e os jogadores desfrutavam do jogo. Quando éramos mais novos, ele já nos dizia "vou interferir no vosso posicionamento e massacrar-vos a cabeça pelo que têm de fazer, mas a partir do momento em que tiverem de tomar decisões, será a vossa qualidade a decidir. Têm de acreditar nisso".

E com Rui Vitória, faltava essa crença?

- Houve uma diferença muito grande com Lage, mas quando as coisas não estão a correr bem e entra sangue novo é quase sempre positivo para a equipa. Pela maneira de ser e pelo modo como Lage lida com os jogadores, o desfecho só podia ser este. O que fazia antes com miúdos faz agora com homens, mas não temos de ser injustos com Rui Vitória, que em três anos e meio ganhou dois campeonatos e deu títulos ao clube.

Como avalia a recuperação de Taarabt, que só se estreou esta época?

- Houve dedo de Lage, porque já ninguém acreditava nele e deve ter-lhe dito que reconhecia qualidades no seu estilo de jogo e pedido para fazer um esforço e agarrar a oportunidade. Taarabt tem qualidade muito acima da média e agradeceu em campo ao míster Lage por lhe ter aberto portas.

"Samaris acabou como pilar"

Para Varela, "todos foram jogadores-chave". Bem-disposto, dá "nota 10" a João Félix e destaca vários outros elementos, casos de André Almeida, "que se fartou de assistir", Rafa, Pizzi, ou Seferovic, "o melhor marcador da liga, que esteve praticamente na porta de saída no início da época". Todavia, ao falar dos companheiros, não esquece Samaris, "pela maneira como começou e como acabou". "Acaba como um pilar da equipa e na fase inicial não sabia por que razão estava de lado e não era convocado. Estava fora das opções e andava a trabalhar no duro. Deu qualidade e estabilidade ao meio-campo. Não é daqueles que marca muitas vezes, mas marca de vez em quando e até brinco com ele por causa disso", revela.

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