Terceiro classificado na Distrital de Honra de Vila Real, o Régua tem neste momento a defesa menos batida em Portugal, entre divisões nacionais e distritais. A equipa duriense sofreu apenas quatro golos em 21 jogos, num registo que muito se deve a Bruno Santos, guarda-redes brasileiro de 28 anos que concedeu esta entrevista a O JOGO.
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O Régua só sofreu quatro golos em 21 jogos e tem a defesa menos batida de Portugal. Que explicação pode dar para este êxito defensivo?
Trabalhamos para isso. Desde o início que o treinador, Marco Malheiro, impôs o objetivo de sermos a melhor defesa e o melhor ataque da nossa série. E nós trabalhámos em cima dessa ideia. Já estivemos a ficar sete jogos seguidos sem sofrer golos. Fomos ganhando o gosto nesse objetivo e em cada jogo entramos concentrados para não sofrer golos. Até porque sabemos que, se não sofrermos, a probabilidade de ganharmos será bem maior, porque temos jogadores de grande qualidade na frente.
A prioridade principal em cada jogo é não sofrer golos?
Sim, mas por incrível que pareça a nossa equipa é muito ofensiva. Em vários jogos fizemos cinco, seis, sete golos. Portanto, confiamos que se atrás correr bem, depois os da frente vão conseguir marcar.
Considera-se o principal responsável por esse desempenho defensivo tão bom?
Não me sinto o principal responsável porque os meus companheiros ajudam muito mesmo. Mas fico feliz por corresponder bem e ajudá-los. Há jogos em que não sofremos muito atrás, mas o futebol é assim mesmo, às vezes basta irem lá uma vez e conseguem marcar.
Isso significa que os vossos adversários não criam muitas oportunidades contra vocês?
Sim, mas eu estou preparado para quando essas ocasiões acontecem, nem que seja no último minuto.
E tem estado em destaque?
Às vezes. No último jogo, por exemplo, aconteceu isso. Fiz quatro defesas de golo. Fiz uma de livre direto, em que a bola ia ao ângulo e eu defendi de mão trocada. Depois houve outra, que considero a mais difícil, que foi um remate em zona frontal que desviou num central mas eu consegui defender. Foram todas difíceis.
Qual foi a mais difícil?
Foi a de livre. A bola ia com muita força e colocada, mas consegui chegar lá com a ponta dos dedos, de mão trocada, em voo.
Nestes 20 jogos, quantos golos feitos já foram evitados por si?
Alguns. Só neste último jogo foram quatro. No total talvez uns 13 ou 14 em situações muito claras.
Você considera-se um guarda-redes normal ou acima da média?
Eu sou muito esforçado para concretizar os meus objetivos. Mas o futebol é muito difícil, às vezes as oportunidades não dependem só de nós. A nossa posição é muito difícil porque num clube só pode jogar um. Se eu chegar a um clube e estiver lá um guarda-redes que esteja numa boa sequência, dificilmente eu vou ter a minha oportunidade. Isso significa que muitos guarda-redes de qualidade acabam passando despercebidos porque não têm oportunidades.
É verdade. Há bons guarda-redes que passam uma carreira inteira quase sem jogar, sempre no banco, à sombra de outros guarda-redes...
Sim, é verdade, acontece muito isso. Quanto a mim, felizmente está a aparecer esta sequência, já vou em 20 jogos só com quatro golos sofridos e não tenho tido lesões nem grandes problemas.
Como vai parar um bom guarda-redes brasileiro a um clube dos distritais portugueses?
Foi a oportunidade que eu tive. Acreditei no projeto do Régua, que é para subir. Acredito que vamos conseguir esse objetivo.
Quantas equipas sobem?
Sobe apenas uma, que deveria ser o Chaves B, mas pelo que sei o Chaves B vai participar na prova de Sub-23 da FPF pelo que abre outra vaga. Aí, entre nós e o Vila Real deve subir um ao Campeonato de Portugal. As duas equipas estão na luta, eles têm três pontos de avanço, mas nós temos menos um jogo e por isso acho que estamos em vantagem.
E o Régua tem capacidade para se safar bem no Campeonato de Portugal?
Nó estamos na distrital, mas temos jogadores que eu às vezes pergunto para mim mesmo: "o que estão eles a fazer aqui?".
Esse é o seu caso? Tem qualidade para jogar noutro escalão?
Eu acredito muito em mim e que até podia jogar numa I Liga.
I Liga? Não é de mais?
Eu acredito. Poderia fazer parte de um plantel da I Liga.
A I Liga portuguesa tem muito bons guarda-redes, como o Rui Patrício ou o Casillas. Qual deles prefere?
Sou muito fã do Casillas, até porque ele chegou cedo a um clube grande e conseguiu sempre manter-se lá. E o Rui é igual.
E o Bruno é mais parecido com o Casillas ou com o Patrício?
Pergunta difícil... como posso comparar-me a esses dois??? Mas como eu admiro muito o Casillas, talvez seja mais parecido com ele.
E você teria qualidade para jogar num grande clube como FC Porto, Sporting ou Benfica?
Nós temos que sonhar. Fazer parte do plantel acho que sim.
Quais as suas principais características como guarda-redes?
O meu ponto mais forte é as saídas a cruzamentos, mas também entre os postes. E dizem que também sou muito bom a jogar com os pés. Num dos últimos jogos até fiz uma assistência para golo num pontapé de baliza.
Mas foi com intenção?
Sim, a bola passou por toda a gente e isolou o avançado. Foi mesmo com intenção.
Um guarda-redes bom a jogar com os pés é o Ederson, que já foi do Benfica. Você é parecido com ele nesse aspeto?
Gosto muito dele. Ele é muito bom com os pés e hoje em dia isso diferencia muito um guarda-redes. Agora, não sei se sou tão bom como ele, porque não cheguei onde ele está e por isso é difícil comparar. O que posso dizer é chegar onde ele chegou.
Qual a sua ambição atual?
Tenho contrato até fim da época e depois logo se vê. Recentemente houve hipóteses de sair para clubes do Campeonato de Portugal, mas quis ficar aqui e terminar a época.
Vocês ganham muito dinheiro aí no clube?
Não muito. Por isso é que muitos cá da terra têm o seu trabalho e jogam ao mesmo tempo.
E o Bruno não trabalha?
Não. Tirei este ano para dar um salto na minha vida.
Mas tem outras fontes de rendimento?
Não, mas nós temos tudo aqui no clube. Eu e mais dez estrangeiros, acho. Temos casa gratuita, almoçamos e jantamos no restaurante do clube. Nisso este clube é cem por cento, tem uma estrutura melhor do que muitos dos campeonatos nacionais. Tudo pago, nada nos falta, temos uma boa casa, muitos têm um quarto só para eles e tudo.