Na derradeira época como árbitro, em 2017/18, fez 27 partidas entre Liga, II Liga e Taça e ainda 18 desafios como VAR. Na mira da Justiça no âmbito do processo "Saco Azul" por suspeita de corrupção por parte do Benfica, o antigo juiz declarou, como empresário, 194 mil euros entre 2015 e 2018.
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Investigado no âmbito do processo "Saco Azul" por suspeitas de ser alvo de corrupção por parte do Benfica, Bruno Paixão terminou em 2021 uma carreira com cerca de 30 anos. Começou como árbitro entre 1990/1991 e terminou como videoárbitro, mas fez a sua última época como juiz no campo em 2017/18.
Nesse ano, o então árbitro da Associação de Futebol de Setúbal apitou 27 partidas, 12 da I Liga, 13 da II Liga e duas da Taça de Portugal, sendo nomeado para VAR ainda para 18 embates. Olhando aos valores pagos nessa altura, Bruno Paixão arrecadou, brutos, quase 44 mil euros (43694).
Na mira da Justiça por ter recebido pagamentos por parte da Best for Business, empresa investigada no processo "Saco Azul" - que investiga a movimentação de 1,9 milhões de euros entre a Benfica SAD e três empresas com ligação ao empresário José Bernardes por serviços alegadamente não prestados -, Bruno Paixão foi internacional de 2004 a 2012. Já sem os prémios pelos jogos europeus, após esse período, e com a profissionalização dos árbitros, não teve direito a salário base, fixado em 2017/18 nos 2500 euros. Assim, recebia 500 euros de subsídio de treino, mais 1342 euros por cada partida na I Liga (fez 12), 939 por jogo na II Liga (fez 13) e ainda 134 euros de diária por cada desafio apitado durante a semana (foram oito, entre primeiro e segundo escalão).
Além disso, os jogos de Taça de Portugal eram pagos então em função do nível do principal clube (fez dois, um com o Benfica, da I Liga, e outro com o Penafiel, da II Liga). A última época da carreira de Paixão ficou marcada ainda por 18 nomeações para VAR, cuja função valia 335 euros por jogo.
Engenheiro de gestão industrial de profissão, Bruno Paixão, que apitou 239 jogos na I Liga, começou a sua ligação com José Bernardes em novembro de 2013. Nesse ano, e segundo revelou a Sábado, a sua empresa, a "Átomo Célebres Unipessoal" apresentou 3900 euros em vendas, sendo que em 2014 as receitas baixaram para 642 euros. A partir de 2015 os valores subiram consideravelmente, sendo que segundo a mesma publicação Bruno Paixão faturou 194 mil euros de 2015 a 2018: 59607 euros em 2015, 59538 em 2016, 52 mil euros em 2017 e 32 mil em 2018.
Sem contactos da PJ
Para além de explicar a ligação a José Bernardes, arguido na Operação Saco Azul, Bruno Paixão confirmou na sexta-feira ao jornal Expresso que quando trabalhou para a empresa do empresário, a Best for Business, como consultor de qualidade, recebeu "875 euros por mês, mais subsídio de refeição, por oito horas de trabalho" durante nove meses, num total de "oito mil euros".
Esta é apenas uma receita de uma vida profissional que, segundo o próprio, desaguou atualmente em "falência técnica". "Vivo no quarto do meu irmão quando ele era adolescente", revela o ex-árbitro, informando ainda que chegou "a ter IRS de 55 a 60 mil euros".
Agora, a sua "situação financeira está caótica", principalmente depois de se ter divorciado há cerca de dois anos. Por tudo isto, ficou surpreendido por ser apontado como suspeito em caso de corrupção desportiva, ele que garante não ter sido "contactado por ninguém da Polícia Judiciária". "Levem o meu computador. Nunca fui corrompido", atirou.
Quanto a ligações ao Benfica, lembra-se de ter "deixado Luís Filipe Vieira de mão estendida" porque o então presidente das águias o chamou de "gatuno e ladrão" após um jogo.