ENTREVISTA - A O JOGO, Hélder Cristóvão fala das metas traçadas para o seu futuro e conta histórias do passado no Benfica
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Em entrevista a O JOGO, Hélder Cristóvão fala das metas traçadas para o seu futuro e conta histórias do passado, de águia ao peito.
O que falta para treinar em Portugal?
Falta estímulo, estímulo de quem dirige o futebol em Portugal. Falta um projeto, falta organização. E digo isto baseado em duas entrevistas que tive com presidentes de clubes e, contrariamente ao que esperava, fui eu que apresentei o projeto e não eles. Ou seja, isto mostra um pouco o nível dos dirigentes que temos. Não podemos continuar a pensar que um clube pequeno não pode ser bem estruturado, não pode ter uma filosofia nova. Isso tem-me afastado um pouco do futebol português e vai afastar-me cada vez mais.
Que clubes foram esses?
Não me parece relevante dizer que clubes eram. Mas há um clube, e o presidente desse clube sabe do que falo, a quem estou agradecido por me ter convidado. O timing não foi o melhor, mas ficou uma porta aberta para o futuro. É um clube que eu gosto. Não foi possível porque já tenho outros projetos num estado muito avançado, mas senti-me lisonjeado com o convite.
"Falta estímulo, estímulo de quem dirige o futebol em Portugal. Falta um projeto, falta organização. E digo isto baseado em duas entrevistas que tive com presidentes de clubes e, contrariamente ao que esperava, fui eu que apresentei o projeto e não eles"
Vai trabalhar novamente no estrangeiro, certo?
Sim. Dentro de muito pouco tempo ficará tudo decidido. Estes anos no estrangeiro permitem-me uma aprendizagem diferente, uma vez que conheço outras culturas, outros jogadores, outros dirigentes.
Parece querer mais do que simplesmente ser treinador?
Não é isso. O que se passa é que estou numa etapa diferente da minha carreira e preciso de conhecer todas as realidades que envolvem um clube de futebol. Sem essa aprendizagem é impossível cumprir as etapas que devem estar presentes no currículo de um treinador. Sei que ainda me falta treinar um clube da I Liga portuguesa, mas admito que ter estado no Benfica B e na Arábia foi determinante para a minha aprendizagem e estou pronto para cumprir, como disse, todas as etapas. Quero continuar a ser um treinador interventivo: criar um modelo de jogo, uma filosofia, uma identidade forte. Não quero ser o homem que chega, dá o treino e vai-se embora. Quero estruturar as coisas para que o futebol seja bem jogado e, depois, rentável.
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Esteve na Arábia Saudita, um mercado periférico. Estar afastado dos grandes centros não prejudica os seus objetivos? Não tem medo de cair no esquecimento?
Pode acontecer, mas é um risco que tenho de correr para abrir outros horizontes. Estar encostado ao sofá, numa zona confortável não é para mim...
Foi responsável pela ida de Rui Vitória para o Al-Nassr?
Não fui o responsável, mas concordei quando foi pedida a minha opinião. Mas essencialmente quem abriu o caminho ao Rui foi o Benfica. Pela sua grandeza e pelo o impacto que tiveram os resultados que ele conseguiu no clube.
" Estiveram em Lisboa a negociar um novo contrato de três anos comigo. Cheguei a ter voo marcado para ir para lá, mas, repentinamente, tudo mudou"
Como era a sua relação com Rui Vitória?
Uma relação de trabalho normal entre duas pessoas que queriam ver o Al-Nassr campeão e que fizeram tudo para que isso acontecesse. Quando ele chegou, entreguei-lhe uma equipa organizada e o clube estruturado para poder ser campeão. A nossa vitória - fiz doze jogos na liderança da equipa - foi muito importante para o clube. Foi um orgulho para mim ter estado na génese de todo esse trabalho. Aliás, o sucesso estendeu-se aos sub-21, onde era diretor.
Porque não continuou no clube?
Eles queriam que eu continuasse. Estiveram em Lisboa a negociar um novo contrato de três anos comigo. Cheguei a ter voo marcado para ir para lá, mas, repentinamente, tudo mudou.
Tentou levar alguns jogadores do Benfica para lá?
Não. Nem tão-pouco tinha poder para isso. Apenas aconselhava, quando me era pedido algum parecer.
Mas quem eram esses jogadores?
Eram bons... (risos).
Bruno Lage também esteve na formação do clube. Naquela altura já se projetava a ascensão até à equipa principal?
O Bruno é um produto da formação do Benfica, mas não é um produto acabado do Benfica porque esteve um longo período fora do clube. Depois, reentrou pela porta da equipa B, com algum conhecimento dos jogadores, embora não tenha lançado nenhum atleta nessa equipa. O trabalho estava feito e ele deu continuidade. O processo foi natural e teve muito mérito no percurso até ao título de campeão. Aproveitou bem os miúdos que estavam na equipa B.