Marchesín (PARTE 1) - O argentino rapidamente fez esquecer Casillas, mas a história até podia ter sido outra, se aos 13 anos um colega não tivesse faltado a um jogo.
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Era uma vez um miúdo, nascido em San Cayetano, um pequeno povo do interior da província de Buenos Aires, que tentava a sorte como avançado no Clube Sportivo San Cayetano. Gabriel Batistuta, que todos os fins de semana furava as redes em Itália [nessa altura estava na Fiorentina], e que o jovem acompanhava no café central daquela localidade com o sonho de ser como ele, era o seu ídolo.
Tranquilidade e liderança na baliza são-lhe reconhecidas desde os 13 anos de idade
Mas um dia, quando tinha 13 anos, Agustín Marchesín - a personagem desta história - viu-se confrontado com a falta de guarda-redes no seu clube e foi mandado para a baliza, um lugar que, mais tarde, confirmou só ter ocupado "por profissionalismo e não por vocação".
A história começou aos quatro anos de idade. "Foi aí que comecei a jogar no Sportivo. O meu tio jogava na equipa principal, fazia de mim mascote nos jogos e levou-me a um treino. Até aos 13 anos joguei como número 9, mas um dia o guarda-redes faltou e eu entrei na baliza. Vistas agora as coisas, no ataque era muito difícil, para dizer a verdade", confessou em entrevista ao "El Grafico" o agora dono da baliza do FC Porto.
Apesar do sucesso entre os postes, que fez dele um dos jogadores mais admirados do América do México, e que rapidamente conquistou os adeptos do FC Porto, Marchesín sempre ficou com a sensação de que poderia ter tido sucesso no ataque. De resto, em 2016, quando representava o Santos Laguna, o internacional argentino teve a oportunidade de concretizar aquele sonho... por alguns minutos. O guardião fraturou a mão direita na saída a um cruzamento, num jogo com o Puebla, e como a equipa já havia esgotado as substituições, recusou sair do campo e foi posicionar-se no ataque.
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Naquela jornada, "Marche" recordou o seu quarto, que tinha as paredes decoradas com pósteres de Batigol e Ronaldo Fenómeno, entre outros grandes jogadores. Esses gritos de golos frustrados foram concretizados em alguns treinos, como quando marcou um grande golo de bicicleta no América e a conta oficial do clube mexicano no Twitter escreveu: "Um mundo onde os laterais direitos param penáltis... mas os guarda-redes marcam de bicicleta", com um vídeo com a grande conclusão de Marche.
Jogou como "9" no América e até decidiu um troféu ao converter com classe um penálti
Marchesín foi criado numa casa em que nunca lhe faltou nada. Filho de Pablo, médico ginecologista, e de Pachir Ríos, peça chave no estado emocional do guarda-redes, esteve perto de abandonar o futebol aos 17 anos para dar continuidade ao legado profissional do pai. Nessa altura, a seleção argentina mudou-lhe o futuro. Era comum a equipa nacional fazer testes em cada região do país, para observar jogadores desconhecidos que pudessem reunir condições para chegar a outro nível.
Nesses campos estavam presentes clubes mais importantes, que depois encaminhariam os jogadores. Aconteceu com Marchesín. Essa convocatória marcou um antes e um depois, especialmente do ponto de vista do investimento na carreira. Marche ganhou confiança e acreditou que poderia ser profissional de futebol no futuro e adiar a ideia de ser médico, se definisse isso como prioridade. Dali saltou para o Huracán de Tres Arroyos (II Divisão) e depois chegou ao Lanús, um clube da I Liga e com uma estrutura já muito profissional.
O resto da história do novo ídolo do FC Porto é mais ou menos conhecida. E bate certo com o início. Os tais golos que sempre quis marcar chegaram da forma mais gloriosa. Há pouco mais de um mês, ainda como guardião do América, foi encarregado de marcar o penálti decisivo que fez do clube campeão dos campeões do futebol mexicano (Taça que se disputa entre o vencedor do torneio abertura e o vencedor do torneio clausura), num jogo com o Tigres.
Os seus colegas já tinham falhado três, mas Marchesín não vacilou, bateu de forma muito tranquila para o lado contrário do guarda-redes e saiu a festejar. Se o FC Porto tiver tantos desempates por penáltis esta época como na anterior, talvez a sorte seja diferente. É que além de marcar, também defendeu três!
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Futuro no ataque antes de Medicina
Como profissional de futebol, Marchesín não terá a oportunidade de ser como Batistuta, que um dia idolatrou. Mas o guarda-redes não quer deixar de jogar sem ser avançado e sentir as emoções de festejar golos semana após semana.
Por isso, confidenciou várias vezes aos amigos, planeia jogar em competições menores de divisões inferiores como ponta de lança, num registo recreativo de final de carreira, se possível perto da cidade que o viu nascer. Nessa altura quer também estudar medicina, como forma de homenagear o pai. "Nunca se sabe quando tempo vai durar isto do futebol. De certeza que vou estudar quando deixar de jogar. Prefiro estudar na minha casa do que nos estágios", contou há algum tempo.
"O meu pai sempre foi um exemplo. Não só pelo que faz [é obstetra], mas pelo compromisso que tem. Sacrifica-se muito. Já lhe tocaram bebés com sete meses ou mães com problemas na gravidez e nunca se deu por vencido. Está sempre a procurar soluções, sofre junto das mães. Essas coisas enchem-me de orgulho", justificou então.
Aperta cerco a Armandi na Seleção
Marchesín disputa com Franco Armani, do River Plate, o lugar de número 1 da Seleção argentina. Armani leva vantagem pelo histórico, mas "Marche" aproxima-se perigosamente por gozar agora do estatuto europeu, que Armani não tem. Para os argentinos, um guarda-redes do América dificilmente pode ter mais moral do que o número 1 do River Plate, mas o portista defende agora a baliza de uma equipa reputada na Europa e que até já cedeu alguns jogadores à Argentina no passado. Além do mais, Marchesín impôs-se logo e com muita qualidade.
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