ENTREVISTA, PARTE I - Craque argelino, estrela no Catar, confessa dias difíceis por não ver o FC Porto a vencer, mas projeta viragem com André Villas-Boas, recordando ainda Sérgio Conceição e Pinto da Costa. Deixou o Dragão e rumou ao Catar ao fim de cinco épocas, onde deliciou bancadas com jogadas cheias de recorte
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Animou as bancadas serpenteando rivais, individualista mas eletrizante. A era de Brahimi no Dragão rendeu espetáculo mas não os títulos desejados. Carreira revisitada nesta entrevista a O JOGO.
Ainda há um grande adepto do FC Porto no Catar, a sentir estes anos mais complicados?
— O FC Porto é, sinceramente, o clube que me ficou no coração, o mesmo se passa com a cidade e os adeptos. Foram cinco anos memoráveis. Claro que quando não ganham, e os anos recentes não têm sido fáceis, dói um pouco. Estou seguro que vai voltar aos seus melhores anos, ao seu melhor nível e vencer muitos títulos. O FC Porto é um clube assim! Mas sabemos que existem tempos mais difíceis, períodos de mudança. Em breve, os portistas vão ver a sua equipa ganhar tudo.
Lembra-se de festejar alguma vitória do FC Porto, estando a viver no Catar?
— Falo muito com o Marega, um grande amigo, e não há dia em que não nos passe pela cabeça recordar o que vivemos no FC Porto. Vi alguns jogos dos últimos anos com ele. Assim mais especial, lembro-me de comemorar essa vitória contra a Juventus, que fez a equipa seguir em frente na Champions. Foi através de um golo do Sérgio Oliveira. Deu para festejar um bocadinho.
Sabe-lhe a pouco rebobinar os cinco anos no Dragão e só ter conquistado um Campeonato?
—É verdade! Com os jogadores que tínhamos, o grupo envolvido, pelo que jogávamos, devíamos ter ganho mais títulos. Tenho esse sabor amargo de ter conquistado só um campeonato. Mas aprendi muito, vivi por dentro um dos melhores clubes do mundo, tanto pelos jogadores, como estrutura, e ainda pelo profissionalismo. Era tudo de máximo nível. Foram cinco fantásticos para mim, como homem também. Mas ficou mal ganhar só uma liga, é uma tristeza que ficou e sempre me custa quando me perguntam por isso. Devíamos ter ganho muito mais que um campeonato, uma taça e uma supertaça. De resto foi tudo positivo. Desejo o maior sucesso ao FC Porto.
Ser dirigido por Conceição e lidar com a sua exigência, foi mais um gozo pessoal ou uma dificuldade?
— Grande homem o Sérgio! No mundo e ainda mais no futebol, não há muitas pessoas com sinceridade, tão genuínas. Com ele era tudo direitinho, era claro no que dizia, sincero no que fazia e gostava muito do clube. Era mais um adepto do que treinador, queria ganhar tudo! Tive a sorte de vencer com ele o campeonato e foi um momento apaixonante e incrível. Eu sou um pouco como ele, quente e apaixonado, fazemos tudo do nosso corpo e coração. Exageros fazem parte, somos humanos, é como os adeptos, ou os jogadores, no balneário. Quando perdíamos ficávamos imediatamente furiosos! A mentalidade no FC Porto é assim e tem de continuar assim! Não é clube onde se possa viver com a derrota.
Algo por conta do que viveu com Conceição?
— A primeira vez que falei com o Sérgio foi engraçado, eu não o conhecia bem, ele falou diretamente comigo e só dizia "com a qualidade que tens, quero que sejas dos melhores do mundo". Foi muito importante ver um treinador falar assim comigo. Nunca tinha sentido algo assim!
Além de um treinador com carisma, também tem memórias de Pinto da Costa?
—É o maior presidente do mundo, pelos títulos e pela maneira como dirigiu o FC Porto durante tantos anos. Foi uma grande honra para mim tê-lo conhecido e trabalhado na sua liderança cinco anos. Ele era a figura, não tanto os jogadores. Fez muito pelo emblema e não há muito mais a dizer, tornou-se a pessoa mais importante da história do clube. Espero que o FC Porto siga assim, vejo André Villas-Boas a respeitar esse legado. Desejo todo o sucesso, vendo um FC Porto ganhador, tal como Pinto da Costa queria. Há muita gente a trabalhar por esse regresso ao topo. Merecem consegui-lo. Penso muito na alegria dos adeptos.