O tridente ofensivo utilizado por Fernando Santos no jogo de Portugal com a Andorra foi made in Braga, com Paulinho, Trincão e Pedro Neto. O ponta de lança bisou.
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O jogo entre Portugal e Andorra serviu para bem mais do que a Seleção Nacional encher-se de golos.
O tridente ofensivo escolhido por Fernando Santos para iniciar a partida teve a assinatura de autor do Braga, com a estreia, e um bis, de Paulinho, a referência atacante da equipa de Carlos Carvalhal, e dois extremos formados na Academia minhota, Trincão (Barcelona) e Pedro Neto (Wolverhampton), entretanto exportados rpara o estrangeiro.
Ligando as duas coisas, o Braga foi o clube que maior preponderância teve na jornada europeia da Seleção Nacional. Paulinho foi o 29.º jogador do Braga que integrou uma convocatória de Portugal neste século.
O cenário confirma o crescimento dos minhotos enquanto clube formador e também capaz de reter qualidade no caso do goleador. Se Pedro Neto foi emprestado à Lázio muito novo (2017/18), e de lá saltou para o Wolverhampton, tudo isto com apenas três jogos realizados na equipa principal bracarense, a capacidade de fabricar talento na Academia ficou desde logo provada. O médio Bruno Jordão (atualmente no Famalicão por empréstimo dos "Wolves") fez o mesmo trajeto de Neto, se bem que neste caso o jogador só tenha chegado ao Minho na última etapa da formação, saindo até sem se estrear com a camisola principal arsenalista.
Descoberto no Vianense, já depois de ter estado no FC Porto (meia época apenas), Trincão foi a maior pérola da Academia do Braga, onde se formou ao lado de Pedro Neto, Francisco Moura e David Carmo, por exemplo. De resto, os produtos da formação arsenalista têm sido escoados para a equipa principal a um ritmo frequente. Esta temporada, por opção de Carlos Carvalhal, o plantel não é muito extenso, precisamente para poder absorver os jogadores jovens, que assim encontram espaço de afirmação mesmo com idades tenras. Além de Francisco Moura, o herói da equipa na vitória alcançada no Estádio da Luz na última jornada, o treinador já estreou esta época Rodrigo Gomes, de apenas 17 anos; frente ao Benfica o extremo somou o segundo jogo. Hernâni, também extremo, e o guarda-redes Hornicek são as outras caras da formação com lugar no grupo de Carvalhal.
A afirmação do Braga como emblema formador, e também exportador de talento, coincide com o ano do centenário e com a já anunciada intenção, por parte de António Salvador, de o clube poder lutar pelo título de campeão. A ideia tem sido refreada por Carlos Carvalhal, que ciclicamente fala somente em ganhar o próximo jogo, mas a verdade é que o Braga segue no segundo lugar do campeonato.
Minhotos com vigor europeu
O Braga contabiliza 22 épocas com presenças nas provas europeias e 16 delas foram conseguidas neste século. Ou seja, 72 por cento do trajeto europeu dos arsenalistas foi percorrido desde a temporada 2004/05. Sem surpresa, o emblema minhoto é o quarto clube português que mais contribui para o ranking europeu; nas últimas cinco temporadas somou 30 pontos. De resto, o Braga não está muito longe da pontuação conseguida pelo Sporting nesse período (45,5). O Benfica contribuiu com 53 pontos e o FC Porto com 72. Para se ter uma ideia da diferença em relação às outras equipas portuguesas, o Vitória somou oito pontos nas últimas cinco épocas e o Rio Ave cinco.
Os adeptos mais novos do Braga estão habituados às noites europeias, mas esse é um cenário muito diferente quando se olha para trás no calendário. No século anterior, as idas da equipa minhota à Europa foram escassas e, mais significativo, com grandes intervalos de tempo: duas vezes numa década foi o máximo (aconteceu em 1980 e 1990). Neste século, o clube minhoto só não esteve nos palcos da UEFA em cinco temporadas (2000/01, 2001/02, 2002/03, 2003/04 e 2014/15). António Salvador entrou para a presidência do Braga em fevereiro de 2003, pelo que, no seu consulado, o clube apenas falhou duas idas à Europa. Nas últimas seis temporadas, incluindo a atual, os minhotos marcaram sempre presença nas provas da UEFA.
Venda de Trincão é bandeira negocial
Há vários anos que o Braga se assumiu como um clube vendedor de talentos, com negócios de números volumosos e todos feitos na era de António Salvador. Rafa (16 milhões, Benfica), Pizzi (13,5 milhões, Atlético Madrid), Pedro Neto (11 milhões, Lázio) e Danilo (dez milhões, Nice) foram alguns exemplos. No entanto, a grande etiqueta de emblema formador e vendedor surgiu com a transferência recorde de Trincão para o Barcelona, por quase 31 milhões de euros, feita a meio da época passada, embora o jogador tenha permanecido no Minho até à conclusão do campeonato. Com esse negócio, o Braga conseguiu afirmar-se no mercado internacional e, mediante aquilo que Trincão tem feito no Barcelona, passou a ser visto como um clube capaz de fabricar talento na Cidade Desportiva.
Banco arsenalista faz escola
O sucesso do Braga também pode ser medido pela quantidade de treinadores que tem potenciado neste século e a lista é longa. Alguns dos técnicos que, atualmente, estão em projetos de dimensão superior, tanto em Portugal como no estrangeiro, tiveram passagens meritórias pelo banco arsenalista desde o ano 2000, como Jorge Jesus (Benfica), Sérgio Conceição (FC Porto), Paulo Fonseca (Roma), Abel Ferreira (Palmeiras) e Rúben Amorim (Sporting). Há ainda Leonardo Jardim e Jesualdo Ferreira. Curiosamente, Domingos Paciência, que foi o treinador que mais perto esteve de entregar ao Braga o título (ficou em segundo) e a Liga Europa (finalista), está sem trabalho há muito tempo. José Peseiro (selecionador da Venezuela) e Sá Pinto (Vasco da Gama) também passaram pelo clube minhoto.
Recorde do treinador mais caro
Em 2011, a verba de 15 milhões de euros paga pelo Chelsea ao FC Porto para contratar André Villas-Boas entrou diretamente para o primeiro lugar de transferências mais avultadas de treinadores. Pois bem, na época passada o Braga ficou a deter o recorde de venda mais cara de um treinador para o mercado nacional, no caso Rúben Amorim (na foto) para o Sporting. O montante foi de dez milhões de euros, que era a cláusula de rescisão do treinador, mas como o emblema leonino não cumpriu o prazo de pagamento, o valor disparou para cerca de 12 milhões de euros.