O clube já não estava inscrito na Taça da AF Porto e desiste agora do campeonato sem ter competido em 2025/26, ao contrário da SAD, 18.ª e última classificada da primeira divisão distrital, com um ponto, volvido um empate e quatro derrotas em cinco jornadas.
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O Boavista desistiu de competir no quarto e último escalão distrital da Associação de Futebol do Porto, após falhar os derradeiros três jogos, numa altura em que está impedido de registar novos atletas, anunciou o organismo. Em comunicado, a AF Porto confirmou que os axadrezados abdicaram de competir na Série 5, após um pedido efetuado junto do organismo, cujo Conselho de Disciplina tinha aberto em 21 de outubro um processo ao clube, que se arriscava a ser desclassificado.
As panteras deveriam ter recebido o Marechal Gomes da Costa em 19 de outubro, em Ramalde, mas viram esse jogo da quinta jornada ser anulado, já depois de falharem as visitas ao Ventura, quatro dias antes, para a primeira ronda, e ao Panteras Negras FC - fundado em julho por adeptos contestatários da atual direção e cuja designação faz referência à claque e ao nome original do Boavista -, no dia 5 deste mês, na terceira.
Hoje, em comunicado o Boavista FC refere a impossibilidade de inscrever jogadores devido a impedimentos FIFA não resolvidos pela Boavista SAD tornou o projeto insustentável. A situação afetou diretamente a Formação, incluindo o cancelamento da equipa de Sub-16 e limitações nas Sub-15 e Sub-17. Face à falta de soluções a curto prazo e ao incumprimento reiterado da SAD, o Clube comunicou a desistência da equipa sénior, mantendo o compromisso de retomar a atividade assim que possível.
Comunicado na íntegra
"O Boavista Futebol Clube vem informar os seus sócios e adeptos, bem como o País desportivo, de que, legalmente representado pelo seu Presidente da Direção, comunicou hoje ao Senhor Presidente da Associação de Futebol do Porto o seguinte:
O Boavista Futebol Clube, por decisão da sua Direção, devidamente suportada e aprovada por unanimidade pelo Conselho Geral, decidiu avançar para a criação de uma equipa sénior em nome e sob inscrição direta do Clube.
Ao fim de 24 anos, considerou-se essencial restituir aos sócios do Clube uma equipa sénior verdadeiramente representativa do Boavista Futebol Clube, registada em seu nome e em conformidade com os princípios e valores que o norteiam há 122 anos.
O único obstáculo à inscrição de jogadores residia na promessa, que agora se revela vã e infundada, do Conselho de Administração da Boavista Futebol Clube, Futebol, SAD, de que resolveria os denominados "FIFA Bans", promessa essa feita na presença de V. Ex.ª e dos seus colaboradores.
Nas últimas semanas ficou comprovado que os impedimentos FIFA não foram resolvidos e até se agravaram, comprometendo totalmente o nosso projeto desportivo.
Perante esta realidade, o Clube não pode continuar a pactuar com uma situação prolongada para além de qualquer limite aceitável.
Até à presente data, a Boavista SAD não comunicou ao Clube Fundador e acionista o seu projeto desportivo para a época em curso, nem apresentou qualquer plano de regularização dos impedimentos ou cumprimento das obrigações assumidas.
Foram, ao longo dos últimos meses, formuladas promessas reiteradas que se verificaram incumpridas, tornando insustentável a relação institucional entre o Clube e a SAD no domínio do futebol profissional.
Os impedimentos FIFA impostos à Boavista SAD já tiveram repercussões diretas na Formação do Clube, nomeadamente com o cancelamento da equipa de Sub-16, cuja inscrição estava prevista.
Este prejuízo é irreversível, afetando também as equipas de Sub-15 e Sub-17, que competem em condições limitadas, situação que o Clube não pode continuar a tolerar.
Verificando-se, no final de outubro, que os impedimentos se mantêm e não existe qualquer perspectiva de resolução a curto prazo, o Boavista Futebol Clube, em respeito pela ética desportiva e pelos princípios que sempre o guiaram, comunica que não dará continuidade à sua equipa sénior, formalizando através do presente documento a respetiva desistência, para todos os efeitos legais.
Aos clubes adversários que colaboraram e partilharam connosco o entusiasmo competitivo, o Boavista Futebol Clube apresenta os seus respeitosos cumprimentos e sinceras desculpas, expressando o desejo de poder regressar em breve às competições oficiais.
O Clube considera inaceitável e infame que a Formação, base social, educativa e desportiva do futebol, seja prejudicada pela incompetência e incumprimento do futebol profissional, situação que afeta inúmeros clubes e que desvirtua o papel formativo essencial que deveria ser protegido pelo sistema desportivo nacional.
O Boavista Futebol Clube recusa ser cúmplice de uma situação que fere a verdade desportiva e a dignidade da instituição.
Finalmente, recorda-se que foram solicitados diversos apoios, pessoalmente a V. Ex.ª, à Associação de Futebol do Porto, à Federação Portuguesa de Futebol e ao IPDJ, sem que tenha resultado qualquer solução para este problema, que decorre diretamente das regras e restrições impostas pela FIFA.
Uma palavra final de agradecimento aos associados do Boavista Futebol Clube, que desde o início deste processo entenderam a urgência do momento vivido e se colocaram ao lado do Clube, compreendendo que as dificuldades vividas não são de hoje. A todos, a Direção quer deixar a garantia de que permanecerá empenhada em retomar - tão cedo quanto possível - a atividade da equipa sénior de futebol, de modo a assegurar que o Boavista FC possa iniciar a caminhada de volta aos palcos maiores do futebol Português e Europeu."
A Boavista SAD deveria disputar a II Liga em 2025/26, mas não conseguiu inscrever-se nas provas organizadas pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) e, mais tarde, também viu negado o licenciamento para participar na Liga 3, tutelada pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), sendo relegada para os escalões distritais da AF Porto.
A ausência de pressupostos financeiros sustentou esse desfecho e levou o clube a criar uma equipa sénior independente da SAD, cujo direito de apresentar um plano de recuperação foi aprovado por maioria pelos credores, que votaram por unanimidade a continuidade da atividade "axadrezada".
A liquidação do clube também foi ratificada em assembleia de credores, ao rejeitarem o adiamento por 30 dias da votação do plano de recuperação da direção de Rui Garrido Pereira, que já recorreu da deliberação.
Despromovido à II Liga em maio, após fechar a edição 2024/25 da I Liga no 18.º e último lugar, com 24 pontos, o Boavista concluiu um trajeto de 11 épocas consecutivas no escalão principal, sendo um dos cinco campeões nacionais da história, face ao título conquistado em 2000/01.

