Pandemia da covid-19 poderá levar vários clientes (no caso clubes que compraram atletas) a solicitar moratórias de adiamento ou suspensão dos pagamentos. Benfica pode ser o mais afetado.
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É um montante próximo dos 90 milhões de euros (M€) aquele que os três principais emblemas nacionais arriscam não poder incluir nas suas contas dentro dos prazos que tinham previsto para o efeito no presente exercício financeiro.
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Isto, claro, se os emblemas que, a 31 de dezembro último, constam como clientes e devedores de verbas pela contratação de atletas, não cumprirem com o acordado no exercício em curso - e constante dos relatórios do primeiro semestre das SAD de Benfica, FC Porto e Sporting, enviados à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). E aqueles podem fazê-lo por via de moratórias que solicitam o adiamento ou suspensão do pagamento por força da pandemia covid-19, que, como se sabe, tem levado a que várias empresas, neste caso clubes, optem por esta via devido à quebra de receitas que tinham projetadas e, por via disso, encontram-se em dificuldades financeiras para proceder à liquidação de montantes devidos em função das suas ações no mercado de transferências a partir de 1 de julho de 2019, quando começou o presente exercício.
FC Porto, Benfica e Sporting têm contabilizadas vendas que podem não ser pagas nos prazos definidos
Com efeito, olhando caso a caso, é o Benfica aquele que, do montante global de 86,8 M€, pode sofrer mais com este tipo de procedimentos, dado que tinha a receber 57,2 M€ pela transação de atletas, que, apesar de não especificados na sua totalidade, dizem respeito, sobretudo, às transferências de Raúl Jiménez, Luka Jovic e João Carvalho para Wolverhampton, Eintracht Frankfurt e Notthingham Forest, respetivamente. Neste contexto, não está contabilizada ainda a transação de Raúl de Tomás por 20 M€ para o Espanhol, de Barcelona, ocorrida em janeiro e cujos prazos de pagamento podem entrar parcialmente nas contas anuais. Por sua vez, o FC Porto tem em risco de contabilização financeira efetiva nas suas contas 25,3 M€.
Dentro deste valor corrente, a pagar no exercício em curso, o Atlético de Madrid é aquele que mais tem de liquidar aos dragões, com uma verba ligeiramente acima dos 6,4 M€, isto devido ao negócio de Felipe, seguindo-se o AC Milan por causa da compra de André Silva, no caso 5,9 M€. Já o Sporting é aquele que surge menos exposto se considerarmos apenas os movimentos de mercado até dezembro último, porque tem a receber somente 4,2 M€ - o Atlético de Madrid surge como principal devedor, no caso com 3,7 M€, por via do acordo estabelecido por Gelson Martins. No entanto, o valor pode ser bem superior devido ao negócio Bruno Fernandes, realizado em janeiro e que valeu uma verba fixa de 55 M€, acrescidos de valores variáveis por objetivos que não entram, para já, nesta equação.
As dúvidas até podem chegar aos 163 M€
Se olharmos além do que são os dados relacionados com as transações dos clubes provenientes das vendas de jogadores nas contas semestrais apresentadas, verificamos que o montante que Benfica, FC Porto e Sporting têm a receber dos clientes pode chegar a 163 M€, isto englobando naturalmente receitas de jogos e atividades comerciais no que respeita à Benfica, SAD, - esta última rubrica pode ir mesmo aos 9,9 M€ -, operações correntes por especificar de 33 M€ no caso do FC Porto, ou movimentos com entidades relacionadas no caso do Sporting, que pode ascender aos 19,2 M€. Ou seja, com empresas pertencentes ao grupo Sporting.
Assim, juntando todos os montantes a receber pelas três sociedades anónimas, o Benfica tem pendentes 68,6 M€, o FC Porto 58,5 M€ e o Sporting 35,9 M€. Resta aqui perceber como é que cada uma das sociedades irá abordar as questões que possam ser suscitadas com pedidos de moratórias por parte de parceiros de negócio. Para já, a postura recente conhecida neste âmbito foi a do Sporting, em toda a polémica decorrente da falta de pagamento do treinador Rúben Amorim ao Braga.