António Simões recorda as conquistas e lembra que é preciso honrar “sempre o que já foi feito”
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No dia em que o Benfica completa 120 anos de história, O JOGO foi falar com António Simões, campeão europeu pelas águias em 1961/62 e uma das lendas do clube. O jogador recordou o passado, falou do presente e perspetivou o futuro benfiquista.
“120 anos é uma vida e é uma vida de glória, paixão porque o Benfica nasceu através e de pessoas de grande devoção, grande entusiasmo e foram pessoas do povo. É por isso que o Benfica se tornou o clube mais popular, ainda hoje tem essa matriz. A glória expandiu-se e criou internacionalmente uma imagem de marca de grande prestígio, que hoje o clube dispõe. Eu tive o privilégio de fazer parte de uma geração que assim o fez e regozijo em ter contribuído para isso. 120 anos é uma vida e nunca podemos esquecer os pioneiros, os que criaram o clube. Para esses vai a minha homenagem, sempre”, começou por dizer, pedindo “mais glória”, “respeito pelos princípios e valores da gente que fez o Benfica existir” e sublinhado que “tem de haver memória para não se apagar a história e a identidade”.
Para Simões, o maior legado da história é, sem dúvida, o sucesso europeu, destacando o bi-campeonato como o maior momento da história das águias. “Os jogadores que conseguiram ser bicampeões europeus devem sempre estar na história e ser lembrados. Foram os momentos maiores, o Benfica passou a estar no mundo por causa disso, até aí era um clube nacional. Isso foi o que fez o Benfica crescer tanto e, neste momento, nem sabemos bem o seu tamanho...”, concluiu.
Atualmente, António Simões reconhece que o clube vive uma situação ímpar ao ter como presidente um antigo jogador, mas não é por aí que não deve haver exigência para com Rui Costa. “Havia a expectativa e um ex-jogador seria capaz de gerir um clube da dimensão do Benfica. A expectativa dá um sinal de exigência. É preciso deixar trabalhar os que estão, mas é preciso haver crítica”, atirou, perspetivando uma “semana com dois jogos importantes” [Sporting e FC Porto] que podem ter influência, a curto prazo, “no destino do clube ao nível da confiança”.
Defendendo sempre a honra àqueles que criaram o Benfica, o campeão europeu vê um “futuro risonho” para os lados da Luz, caso se continue a apostar na formação. “É muito difícil conseguir ser campeão europeu enquanto os modelos beneficiarem os mais fortes, os que têm mais dinheiro. No Benfica temos menos dinheiro, mas temos uma vocação para o jogo e uma organização com jovens que trabalha muito bem. Não podemos desperdiçar isso. Se não o fizermos, o futuro pode ser risonho”. Reconhecendo legitimidade para sonhar mais alto, garante: “Acho bem que a conquista europeia esteja nos horizontes. Era o que faltava num clube com a dimensão do Benfica não ter a legitimidade de pensar em conquistas europeias. Mas é difícil ter condições para isso. Não é difícil dizer que podemos ser campeões europeus, mesmo na Liga Europa, mas precisamos de um nível competitivo e um espírito muito forte para chegar lá”.
Momentos altos de 120 anos
De 28/02/ 1904 a 27/02/ 1924
Do início e da estreia em jogo oficial até à primeira conquista do palmarés
Fundado em 1904, o Benfica participa no primeiro jogo oficial a 4 de novembro de 1906, com uma derrota frente ao Carcavelos, por 3-1. Cerca de dois meses depois, a 22 de janeiro de 1907, chegava a primeira vitória frente ao CIF, por 1-0. Seria o início das conquistas no futebol, que culminaram em 8 campeonatos de Lisboa, o primeiro em 1909/10. Nesses primeiros 20 anos, dá-se o início das modalidades, com a conquista do primeiro campeonato nacional de corta-mato, em 1913.
De 28/02/1924 a 27/02/1944
Do primeiro tricampeonato até à dobradinha e vitórias nas modalidades
O Benfica abriu a contagem como campeão nacional em 1935/36 e chegou ao primeiro tricampeonato da sua história em 1937/38, com Lipo Herczka. Seria neste período que ganharia a primeira dobradinha, em 1942/43, com Janos Biri. No que às modalidades diz respeito, houve festejos no ciclismo (José Maria Nicolau venceu as Voltas a Portugal em 1931 e 1934) e no basquetebol (campeonato em 1939/40).
De 28/02/1944 a 27/02/1963
O “nascimento” de Eusébio e a glória europeia com as Taças dos Campeões
Foi nestes 20 anos que o Benfica se tornou num clube europeu com a conquista das duas Taças dos Campeões Europeus em 1960/61 e em 1961/62, tendo depois a primeira final perdida em 1962/63, frente ao Milan. Foi também nesta altura que Eusébio se estreou com a camisola das águias, num jogo da Taça de Portugal frente ao V. Setúbal. Os encarnados perderam, mas a Pantera Negra marcou na estreia, algo que viria a fazer por 471 vezes.
De 28/02/1964 a 27/02/1984
Máximo de campeonatos, a tripleta e um enguiço europeu a aumentar
Se dividirmos os 120 anos do Benfica em períodos de 20, este foi aquele de maior sucesso no que ao campeonato diz respeito, pois as águias venceram 13 títulos nacionais. Festejaram ainda a primeira tripleta, com Liga, Taça de Portugal (que Nené levanta na foto) e Supertaça em 1980/81. Houve três finais europeias (duas na Taça dos Campeões Europeus e uma Taça UEFA), mas o jejum foi aumentando.
De 28/02/1984 a 27/02/2004
Escassez de títulos, uma nova Luz e modalidades a darem cartas lá fora
O Benfica foi campeão apenas por cinco ocasiões, tendo dado início ao seu maior jejum de títulos. Ficou marcado pela inauguração de um novo Estádio da Luz, no âmbito do Euro’2004. Se no futebol houve mais duas finais europeias perdidas (1988 e 1990), nas modalidades houve sucessos lá fora. O hóquei em patins venceu a Taça CERS, a sua primeira conquista europeia, e no atletismo houve cinco Taças dos Campeões de Estrada. Clube viveu momentos dramáticos com a detenção do seu ex-presidente Vale e Azevedo.
De 28/2/2004 a 27/2/2024
Fim da maior seca de troféus e o único tetra da história
Em 2004/05, a equipa de Trapattoni venceu o título de campeão nacional ao fim de 11 anos de seca. Houve ainda a primeira Taça da Liga, em 2015, e o primeiro Tetra com a conquista do campeonato em 2016/17. Durante estes anos, Luís Filipe Vieira foi constituído arguido na “Operação Cartão Vermelho” e demitiu-se. Rui Costa assumiu a direção encarnada em outubro de 2021, tendo conquistado um campeonato, na época passada, e uma Supertaça.