Benfica dá "licença" para rematar e problemas identificados ainda aguardam solução
Estoril disparou por 15 vezes à baliza de Trubin e, desde a chegada de Roger Schmidt à Luz, apenas mais duas equipas superaram este número: Braga (em dois jogos) e, esta época, o Inter
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Roger Schmidt já levantou a ponta do véu, mas deixou nas generalidades as explicações para uma realidade que tem colocado muitas dificuldades à equipa encarnada. Esta época, e os números comprovam-no de forma cabal, os adversários do Benfica têm tido maior liberdade para alvejar a baliza benfiquista. Viu-se isso mesmo no último jogo, na visita ao terreno do Estoril, mas também tem sido contabilizado estatisticamente em outros jogos da presente temporada e em maior volume do que na anterior.
Da época passada para a atual, o Benfica tem permitido mais remates. Saída de Gonçalo Ramos não é única explicação...
Antes de abordar explicações já debatidas a nível interno, convém colocar os números em cima da mesa e vários são, no mínimo, expressivos. Começando pelo mais cristalino, o Benfica já disputou onze jogos em 2023/24, tendo permitido dez ou mais remates em sete, o que corresponde a uma percentagem de 63,6 das partidas realizadas. O número, por si só, pode não dar a verdadeira dimensão do problema, mas comparando com 2022/23, desde que o técnico alemão assumiu o comando das águias, percebe-se o impacto. Então, em 55 encontros realizados, apenas em 15 foram consentidos dez ou mais disparos, o que equivale a 27,3 por cento dos jogos. Ou seja, de mais de 27% passou a percentagem de jogos com essa quantidade de remates para uns expressivos... 63%.
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Olhando aos jogos com mais tiros sofridos, e num top-10 que passa a 12 pela igualdade, o Benfica permitiu 15 disparos no último jogo, na visita ao Estoril, e só duas equipas fizeram melhor. O Braga em duas vezes na época passada e o Inter já na temporada em curso. Voltando à mesma lista, cinco destes jogos são já referentes à campanha 2023/24.
Há mais algumas estatísticas que sustentam a existência de um problema na Luz. A média de remates consentidos esta época é de mais quatro por jogo que na anterior (passou de 7,5 para 11,5), beneficiando o Benfica da menor pontaria dos adversários, pois o acerto destes na baliza baixou de 33,5% para 29,9. E podia a análise perder balanço caso a própria equipa de Schmidt estivesse muito mais rematadora, mas só melhorou de 15,6 remates por partida para 16,4, tendo a eficácia no alvo... baixado de 39,5% para 36,6. Resumindo, os adversários disparam muito mais (com menos pontaria) e o Benfica atira pouco mais (e também com menos acerto).
Problemas identificados ainda aguardam solução
Roger Schmidt já deu um toque no problema. Na antevisão ao jogo com o Estoril, admitiu que falta equilíbrio tático à equipa. "Não estamos no melhor nível e às vezes o equilíbrio entre atacar e defender não é perfeito. Este ano estamos com mais dificuldade em jogar 90 minutos de alto nível taticamente e é por isso que os adversários têm mais oportunidades", disse na véspera da sua equipa conceder os já referidos 15 remates ao Estoril.
Segundo O JOGO apurou, o tema foi já motivo de várias conversas a nível interno entre a estrutura do futebol encarnado e a equipa técnica e vários têm sido os argumentos esgrimidos como explicação para a mudança evidente da primeira para a segunda temporada da era Roger Schmidt. A saída de Gonçalo Ramos é um deles, a ausência de resposta dos substitutos é outra razão anexa a esta, mas o rendimento do trio à frente da dupla de médios e... Aursnes também estão neste cardápio.
Recuo de Aursnes para a defesa é uma das razões que aponta para a diminuição do equilíbrio da equipa e da pressão na linha da frente
"Taticamente era um jogador de topo, trabalhava muito", disse o técnico alemão antes da Supertaça ganha ao FC Porto sobre a saída de Gonçalo Ramos. O ponta-de-lança era, de facto, peça fulcral no sistema de Schmidt, pelos golos marcados mas, sobretudo, pela pressão intensa sobre a saída de bola dos adversários e a inteligência na ocupação de espaços à saída do meio-campo. Musa, Arthur Cabral e Tengstedt não têm mostrado esse perfil, o que faz abanar a estrutura.
Por outro lado, com João Mário menos interventivo, Rafa mais isolado e Di María sem capacidade de pressão defensiva - tal como David Neres, também já lançado -, o tridente à frente dos médios filtra menos jogos e deixa Kokçu e João Neves (ou Florentino e Chiquinho) mais expostos às transições rápidas dos adversários.
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Na temporada passada, Aursnes jogava muito mais partidas num dos vértices laterais desse triângulo formado atrás do ponta de lança e garantia maior equilíbrio à equipa, mas Schmidt, por opção ou necessidade, tem-no desviado para as laterais de um quarteto defensivo obrigado a jogar mais atrás e mais em duelos do que em antecipação, sendo este então outro dos problemas identificados, procurando agora o técnico soluções.