O Atlético Clube de Portugal subiu das distritais até a Liga 3 sob o comando técnico do treinador Tiago Zorro. Resiliente e motivador são as palavras a que os jogadores recorrem para descrever o homem por trás das últimas vitórias. Os mesmos adjetivos que servem como uma luva neste histórico, mas renovado clube.
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Quem chega a Lisboa vindo da ponte 25 de Abril depara-se com a “Tapadinha”, a casa do Atlético Clube de Portugal. Fundado a 18 de setembro de 1942, é uma instituição desportiva histórica, resultado da fusão entre o Carcavelinhos Futebol Clube e o União Foot-Ball Lisboa. Localizado no bairro de Alcântara, o clube rapidamente se tornou um ícone do desporto nacional, especialmente no futebol.
Conhecido carinhosamente como "Atlético" e pelas cores azul e amarelo, o seu percurso futebolístico é marcado por períodos de glória e desafios. Dificuldades financeiras e estruturais ao longo dos anos 70 e 80 levaram a equipa a enfrentar descidas de divisão. Apesar dos obstáculos, o Atlético Clube de Portugal sempre demonstrou resiliência.
Recentemente, tem trabalhado para recuperar posição no futebol nacional, investindo na formação de jovens talentos e na melhoria das infraestruturas. Com uma forte base de adeptos e um legado histórico significativo, o Atlético CP sonha em voltar a figurar entre os grandes do futebol português. Em 2011, os alcantarenses subiram à segunda divisão nacional, onde se mantiveram até 2016. No entanto, os anos seguintes levaram a uma nova decadência do clube e regressaram às distritais.
Temporada de mudança
Depois de alguns anos a treinar as camadas jovens e posteriormente as equipas seniores do Alverca, Casa Pia e Sintrense, Tiago Zorro Sá Oliveira, 43 anos, chegou ao Atlético na temporada 2020/2021 com muita vontade de conquistar, substituindo João Pedro no comando técnico, a um mês e meio do final. Não foi uma época fácil e muito menos triunfal, o clube acabou por terminar o campeonato em 7º lugar. “Foi um ano difícil, ano de covid. Nesse fim de época, o objetivo foi começar a preparar a temporada seguinte e assim foi”, conta o treinador.
A época de 2021/2022 começou com um novo fulgor. O Atlético iniciou a temporada com uma série de 13 jogos sem perder. Após uma derrota frente ao Lourinhanense, o clube de Alcântara só voltou a sair derrotado de um jogo cinco meses depois, na penúltima jornada, frente ao, curiosamente, último classificado, Negrais. Sagrou-se assim campeão da primeira divisão distrital de Lisboa com 82 pontos, seis de vantagem sobre o segundo classificado, 1º de Dezembro. Desde essa primeira conquista, algumas caras foram-se tornando conhecidas na Tapadinha. É o caso de, por exemplo, Daniel Almeida, Pipas, Nélson Pinhão e Diogo Santos, conhecido por todos como “Didi”. Didi chegou ao Atlético na primeira época completa de Tiago Zorro e assumiu imediatamente o compromisso de capitão. “Responsabilidade, compromisso e exemplo” foram os valores que foram pedidos ao jogador assim que vestiu a braçadeira.
O regresso ao futebol profissional
Depois da conquista nas distritais, veio uma epopeia com fim no Jamor. O Atlético terminou a série D do Campeonato de Portugal em primeiro lugar com 52 pontos, seguido pelo Lusitano de Évora, com apenas um ponto de diferença. Enfrentaram mais uma batalha: o apuramento de subida. Durante cerca de um mês, o tempo que durou essa fase da competição, os alcantarenses somaram três vitórias e três empates, apenas consolidando o primeiro lugar na penúltima jornada, um ouro no pódio que levou a equipa de Zorro à final no Estádio Nacional.
O Estádio Nacional já é conhecido por receber finais emotivas e calorosas. Esta não foi diferente. O Atlético jogou na sua cidade contra um adversário de longe, o Vianense, que disponibilizou transporte para os seus adeptos virem apoiar o emblema de Viana de Castelo. Já o clube lisboeta contou com cerca de 3500 adeptos no Jamor. O jogo manteve-se com o marcador a zeros até ao intervalo. Porém, a segunda parte tinha muita história para contar. Luís Rodrigues com quatro minutos de jogo abriu o marcador, o segundo do Atlético chegou aos 60 minutos por Filipe Assunção, com Lénio Neves a fechar as contas, aos 62 minutos, com um forte remate de fora de área a deliciar os muitos adeptos
presentes, naquela tarde de domingo. Lénio, agora jogador do Länk Vilaverdense, recorda com carinho o momento que viveu nessa tarde: “Foi um momento único com misto de emoções muito fortes. A cereja no topo do bolo, depois de uma grande época.” O jogador lembra ainda as palavras ditas pelo treinador, no pós jogo. “Sem ti não, era possível.” Depois de uma época de triunfos e para orgulho de tantos, o Atlético seguiu assim para a Liga 3. Em dois anos, Zorro trouxe o histórico de volta ao futebol profissional. Ao longo desta temporada, este grupo de técnicos conseguiu ainda levar o Atlético à fase de subida para a Liga 2, na qual terminaram em sétimo lugar.
A 21 de abril de 2024, o clube informou os adeptos e simpatizantes através das redes sociais que a equipa técnica iria encerrar funções, no final da época. Após anos de altos e baixos, o Atlético Clube de Portugal emergiu com uma força que não só trouxe vitórias nos relvados, como também uma nova identidade e um novo propósito. Ao longo destes três anos, o clube não apenas subiu das distritais até à Liga 3, mas reacendeu a chama de orgulho e paixão nos corações dos adeptos. Muitos são os treinadores que não têm impacto ou acabam por sair pela porta pequena, mas Tiago Zorro terá sempre um espaço nas páginas de honra dos alcantarenses.
O legado de Zorro
Tiago Zorro saiu do clube, mas deixa muito na Tapadinha e nos jogadores que ficam. Pedro Nunes, guarda-redes, o jogador mais novo o plantel, descreve a experiência do primeiro ano como sénior, em 2023/2024. “Foi, sem dúvida, um grande motivo de orgulho para mim. O mister e a respetiva equipa técnica ajudaram-me muito a evoluir, tanto como pessoa como jogador. O mesmo digo sobre o grande grupo de jogadores que temos, foi sem dúvida alguma o melhor grupo que já apanhei e vou recordar-me sempre deles.”
São largos elogios que Pedro Nunes deixa ao treinador, que diz ter sido importante além de na parte técnica, também na parte psicológica. “Foi o mister que me deu as bases do que é estar num plantel sénior, tanto no aspeto psicológico em que temos que ser fortíssimos, como no aspeto tático em que temos que ser rigorosos, pois cada detalhe faz a diferença.”
A pedagogia do treinador não ficará apenas marcada nos mais novos. O capitão “Didi” destaca o método “humano” de trabalho: “Para mim, é um excelente treinador porque também sabe o que é a parte humana e isso é transmitido no grupo de jogadores e nas vitórias alcançadas pelo Atlético Clube de Portugal.” O jogador reforça que a melhor parte de trabalhar com Zorro foi a sua capacidade de ligar um atleta à pessoa que ele é fora das quatro linhas. “É um treinador que antes de olhar para nós como apenas jogadores de futebol, salienta a parte humana e os valores de cada um.”
O sonho americano chega a Alcântara
O Atlético está agora com a missão de continuar a onda de conquistas e conta agora com a ajuda de um novo investidor, Gifford Miller. O norte-americano e o seu grupo detêm 90% das ações do clube. Está, inclusive, prevista uma injeção de cerca de um milhão de euros por época. A prioridade neste momento é a remodelação da Tapadinha, com modificações nas bancadas e melhoramento de condições para os jogadores e imprensa. Apesar de o Atlético já ter tido uma experiência malsucedida com investidores chineses, há confiança de que, desta vez, todas as precauções foram tomadas para que seja um sucesso. Para a próxima época, já contam um novo treinador. O recém-contratado Nikola Popovic, luso-sérvio de 50 anos, ambiciona um futebol mais atrativo. O treinador conta com passagem por dez países e chega, novamente, a Lisboa para este desafio.
Autora
Francisca Ferreira de Castro
Francisca Ferreira de Castro tem 19 anos e é aluna do curso de Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social (ESCS). Apaixonada por futebol e motociclismo, desde muito jovem que os conteúdos digitais que cria e publica nas suas contas de instagram e tik-tok atraem milhares de seguidores. Por ser conhecida nas redes sociais, já foi convidada pelo jornal Record para uma entrevista a propósito do clássico Benfica x Porto. No futuro, ambiciona trabalhar num meio que junte as suas duas paixões: a comunicação e o desporto.