"Até às eleições da Liga, os clubes deviam conversar e encontrar uma lista única"
Gestor e antigo vice-presidente do Benfica lança desafio aos candidatos José Mendes e Reinaldo Teixeira no âmbito das próximas eleições para a presidência da Liga. Especialista em gestão empresarial e com experiência como dirigente, enumera argumentos para que se apresente apenas uma lista, num “momento histórico”.
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Saiu Pedro Proença para a presidência da FPF, concorrem José Mendes e Reinaldo Teixeira ao lugar mais alto na Liga. Para João Braz Frade, gestor e antigo vice-presidente do Benfica com grande ligação ao fenómeno desportivo em Portugal, só há um caminho. Uma única lista com base no critério da competência, experiência e não a relação pessoal.
Como avalia a existência de duas listas para a presidência da Liga?
— O futebol português enfrenta desafios com que nunca se deparou no passado. A primeira grande mudança tem a ver com a alteração significativa dos quadros competitivos internacionais que pode ter impacto na organização das provas desportivas em Portugal. Há também a centralização dos direitos audiovisuais, a fixação de limites nos montantes das transferências indexados aos salários pagos e a propriedade de vários clubes pelas mesmas empresas, para além dos temas técnicos, como o aperfeiçoamento do protocolo do VAR, a adoção de novas tecnologias, a alteração de regras, a saúde dos atletas, o desenvolvimento do futebol feminino. Tudo isto se encaixa neste fenómeno de enquadramento do futebol na indústria do “entertainment”. E indicia que teremos tempos de grande debate entre os clubes, que terá de ser construtivo e profissionalmente orientado. Se assim não for, todos os clubes sairão prejudicados.
Parece-lhe, portanto, que seria muito mais produtivo para o futebol português a existência de apenas uma candidatura?
— Para que todos os clubes saiam a ganhar será necessário um consenso alargado que permita à Direção que for eleita encontrar soluções que conduzam a uma maior competitividade interna sem ser à custa da externa, que é de onde chega a maior quantidade de receitas. Seria preferível que os clubes tivessem consensualizado a escolha de uma lista que evitasse divisões futuras entre quem ganha e quem perde. Estamos perante um momento histórico do futebol em que a unidade dos clubes é muito importante para a afirmação internacional da nossa Liga. Tudo o que contribua para a divisão, irá enfraquecer o processo negocial.
Qual delas lhe parece estar melhor apetrechada, de profissionais e ideias, para suceder a Pedro Proença?
— Diria que a escolha de uma lista pelos clubes deveria ser orientada exclusivamente por critérios de experiência e competência, porque a responsabilidade das tarefas é enorme. Não podem surgir erros de casting nesta altura, tem de haver gente nas listas muito experimentada em negociar direitos, em lidar com o fenómeno desportivo. O critério não deve ser o conhecimento pessoal, o ser amigo, tem de ser profundamente profissional. Até às eleições, os clubes deviam conversar e tentar encontrar uma lista única a partir das duas atuais ou que uma desistisse em favor da outra. O futebol ganharia com isso. Quem vencer irá ter de se entender muito bem com a Federação, que já se mostrou disponível para colaborar com a Liga no processo delicado da centralização dos direitos audiovisuais.
Alguma das listas corresponde a esses critérios?
— Faço, desde já, aqui uma declaração de interesse. Sou sócio do Benfica e tenho pessoas amigas numa das listas e conheci o líder da outra lista. O meu propósito não é fazer campanha, mas sim alertar quem tem poder de decisão para a importância de haver unidade nos objetivos, na ação e depois a existência de uma equipa consensual que defenda objetivos comuns numa ação que seria fortíssima se defendida por todos os clubes.
Como antevê a sequência do processo caso não haja consenso?
— Talvez uma das listas decida não ir a jogo... A mudança da indústria do futebol é inexorável, tentar parar, atrasar ou adiar é impossível, isso seria tentar parar o vento com as mãos. É importante que todos percebam que, nos próximos anos, as fontes de receitas da Liga e dos clubes vão crescer de forma articulada, os patrocínios, as receitas da UEFA, os direitos televisivos, o merchandising, as apostas, o “matchday”, desde que seja sustentado num projeto consistente e feito por alguém que percebe do assunto. Caso contrário, corre-se o risco das receitas estagnarem ou até caírem.