Em fase de expansão do futebol feminino em Portugal e não só, os encarnados apostaram em força e as recentes goleadas deixam à vista a qualidade existente no plantel das águias.
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À primeira vista, pode parecer um número pouco significativo, mas a presença de 8126 espectadores no jogo de apresentação aos sócios e adeptos do Benfica é um sinal do crescente interesse que o futebol feminino vem suscitando em Portugal. Disputado em pleno Estádio da Luz, diante do Corunha, no mês passado, as meninas e mulheres do recém-formado plantel mostraram-se ao público que tem assistido a goleadas neste arranque de 2018/19. À semelhança de gigantes europeus, como o Manchester United ou o Milan - onde joga a portuguesa Mónica Mendes -, que iniciaram a aventura esta época, também o Benfica partiu para o futebol feminino com uma equipa composta por muitas jovens e outras atletas mais experientes. É o caso de Patrícia Llanos, que festejará o 28.º aniversário em dezembro, ou de Andreia Faria, 18 anos. Com Taças Libertadores no palmarés, a médio encarnada cumpre o primeiro desafio fora do Brasil e já tem o nome gravado na história das águias, pois foi a autora do primeiro golo do Benfica na Luz. E que golo, com um grande remate de fora da área. "Foi um momento muito feliz na minha carreira. Nunca tinha jogado perante tanto público. A bola vinha alta, acertei no remate e fiz um belo golo", lembra Patrícia Llanos, em conversa com O JOGO. Municiadora de jogo, a centrocampista adaptou-se com facilidade à capital portuguesa e nem hesitou ao ser convidada para o projeto. "Disse na hora que aceitava, por ser um grande grande, com bastante história no futebol masculino", conta, acrescentando que a presença de outras compatriotas brasileiras nas águias também pesou.
"Assinar pelo Benfica? Disse na hora que aceitava, por ser um grande, com bastante história no futebol masculino"
Natural de Vila Real, Andreia Faria é mais jovem e começou a jogar com rapazes a partir dos nove anos, algo que lhe permitiu atingir um nível elevado. No Benfica, depois do Vilaverdense, a médio, internacional sub-19 lusa, encontrou as condições ideais para evoluir, e a exigência imposta a cada treino realizado na Tapadinha é uma mais-valia.
É que na II Liga têm sido notórias as diferenças para os restantes adversários: em três jogos, as águias, que no domingo venceram o Sintrense por 10-0, têm 57 golos marcados e nenhum sofrido. "A falta de competitividade não tem afetado a motivação do grupo, porque para além de subir à I divisão, também queremos ganhar a Taça de Portugal. Por isso, também treinamos com equipas masculinas para nos mantermos a um nível competitivo superior", realça a estudante de Economia.
E no horizonte do Benfica está um possível jogo com Sporting ou com o Braga, primodivisionários e, na teoria, os principais candidatos a vencerem a Taça. Patrícia Llanos concorda com a companheira de sector: "O Benfica é muito superior. Quem assiste aos jogos vê que temos mais posse bola, velocidade e resistência."
Vieira provoca nervosismo e honra
Na estreia oficial com a camisola do emblema da Luz, o presidente Luís Filipe Vieira esteve presente no balneário da Tapadinha, algo que motivou. "Fiquei ansiosa e nervosa por estar a ver o jogo, mas claro que feliz pelo apoio manifestado", refere Patrícia. Honrada, Andreia Faria destaca a importância da confiança transmitida. "É um sinal de que acredita em nós e na obtenção de grandes feitos. É a demonstração de que a aposta no futebol feminino é para valorizar", analisa a jovem médio.
Patrícia já admira Pizzi
Há pouco tempo em Lisboa, Patrícia Llanos já pôde assistir a jogos da equipa masculina e, mesmo sem lhe perguntarmos, responde que admira o camisola 21 encarnado. "Gosto bastante do Pizzi, articula bem jogo e não erra passes", diz, resumindo praticamente as próprias características. De médio para médio, Andreia Faria é clara: "A Patrícia é uma jogadora fantástica, com enorme experiência e grande ritmo competitivo. É inteligente, tem uma visão de jogo excecional e boa qualidade de passe, algo que pretendo desenvolver para ser uma referência no futebol feminino." Do outro lado, Patrícia elogia a jovem, que tem "um grande futuro pela frente". "É uma atleta muito boa e, mesmo nova, já tem experiência. É habilidosa e tem visão de jogo. Vou tentar ajudá-la a evoluir", garante Patrícia.
Patrícia Llanos assume que gosta de "driblar e de futebol alegre" e a Luz já assistiu a uma finta que ficou na retina: na linha de fundo, picou a bola sobre a adversária e cruzou para a área. "Só faltou o golo, teria sido perfeito. Pensei no que ia fazer, porque no Brasil também já costumava fazer essa jogada; fiz umas duas ou três vezes", conta Patrícia, que jogou com Marta em 2009, quando representava o Santos. Encarando com agrado as palavras de apoio que a melhor de todos os tempos deixou em entrevista a O JOGO, Patrícia ambiciona voltar a ser chamada à canarinha. Por cá, já passeou por Belém e Sintra e tornou-se fã do pastel de Belém. "É muito bom, não dá para resistir. Não dá para comer só um", atira, com um sorriso aberto.