Tudo começou com apoio logístico e monetário em 1976. Dias da Cunha, em 2003, avançou com o primeiro protocolo. Godinho Lopes meteu-as no avião com jogadores e Bruno de Carvalho manteve.
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A proximidade das várias direções do Sporting às suas claques, hoje denominadas como Grupos Organizados de Adeptos (GOA), foi crescendo ao longo dos tempos, estreitando-se ao ponto de algumas das decisões dos últimos presidentes terem sido tomadas precisamente de acordo com os humores dos seus membros.
Rutura: Frederico Varandas tenta acabar com o poder influenciador das claques no momento em que é contestado
Pois bem, Frederico Varandas lançou agora um ataque feroz sobre a Juventude Leonina e Diretivo Ultras XXI - que mereceram a solidariedade de Torcida Verde e Brigada, claques legalizadas que completam o leque de quatro que o clube possui - quebrando unilateralmente um protocolo reativado pela anterior Comissão de Gestão, na transição levada a cabo por Sousa Cintra e Artur Torres Pereira.
Juventude Leonina e Directivo Ultras XXI estão na mira do presidente leonino, mas as outras duas claques legalizadas do clube, a Torcida Verde e Brigada, mostraram-se solidárias com os colegas de bancada
Varandas - alvo de contestação pelas mesmas e de dedo em riste responsabilizando Juve Leo e Directivo pelos recentes episódios de violência - eliminou o acesso às Gamebox (estádio e pavilhão), retirou o acesso a preços especiais de bilhetes (cerca de 50% do valor inicial), a possibilidade de os mesmos serem adquiridas em mais prestações do que para os restantes sócios, assim como os subsídios de viagens em jogos regulares e extraordinários (referentes a fases a eliminar). Também o direito de participar em coreografias comuns e o acesso a bilhetes com o preço resultante do protocolo caiu por terra, pelo menos a avaliar pelo comunicado do Conselho Diretivo e conselho de administração da SAD.
A verdade é que desde a criação da Juventude Leonina, em 1976, a mais antiga claque nacional foi tendo apoio monetário ocasional e logístico, concretamente com o alugar de autocarros para deslocações. Mais tarde, já com Dias da Cunha, no princípio de 2003, com três claques, e com o novo José Alvalade, estabeleceram-se as primeiras regras (ver peça à parte) que permitiam regular a ligação entre clube e adeptos organizados. Soares Franco pouco facilitou e Bettencourt seguiu a mesma bitola, algo que não se verificou com Godinho Lopes, por influência de Paulo Pereira Cristóvão, então vice-presidente.
Elementos das claques passaram inclusive a viajar no mesmo avião fretado para transportar a equipa nos jogos internacionais. Bruno de Carvalho deu seguimento, dialogando permanentemente com os GOA, cujos elementos até foram buscar reforços, como Nani, ao aeroporto, zelando pela "segurança" dos mesmos. Visitas à Academia para "apertar" ou "incentivar" os jogadores do plantel principal viraram moda, até aos acontecimentos de maio de 2018. Hoje Varandas tenta o que nunca foi feito e, a partir de novembro, será testemunha no julgamento que envolve o antecessor e 43 elementos da Juventude Leonina acusados, entre outros crimes, de terrorismo.
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Retirada das sedes em equação
Uma das questões que está em cima da mesa dos dirigentes leoninos, sabe O JOGO, é a possibilidade destes partirem para a retirada das sedes da Juventude Leonina - conhecida como a "Casinha" - e do Directivo Ultras XXI. A decisão não será tomada até à receção ao Rosenborg, quinta-feira, mas a verdade é que subsistem dúvidas quanto à possibilidade de tal medida ser executada na Juventude Leonina. É que não é claro quem é proprietário, pois está localizada fora do estádio, em terreno alegadamente da Câmara Municipal de Lisboa.
Curiosidades
- Carolice inicial com João Rocha
João Rocha era o mítico presidente do Sporting quando a Juventude Leonina se formou, em 1976. Vivia-se à base da carolice dos adeptos e vieram os primeiros apoios monetários e logísticos, a nível do transporte. Amado de Freitas, João Gonçalves, Sousa Cintra, Santana Lopes e José Roquette pouco acrescentaram.
- Primeiro protocolo por Dias da Cunha
Em 2003, Dias da Cunha, antes do novo José Alvalade, regulou a ligação com a Juventude Leonina e as outras duas claques entretanto criadas: Torcida Verde e Directivo Ultras XXI. As claques ficavam com 50% da quota dos sócios que se sentassem nos setores de cada uma e recebiam 50 mil euros anuais a dividir pelas três à proporção (45% Juve Leo, 30% Directivo e 25 % Torcida). Não havia bilhetes de borla ou mais baratos.
- Prejuízos eram descontados
Entre as obrigações das claques estava a responsabilização pelas multas e estragos feitos nos estádios. Por exemplo, em 2005, na final da Taça UEFA, o Directivo abriu uma tocha e a UEFA aplicou 10 mil euros de castigo. A claque ficou um ano sem receber o quinhão dos 50 mil euros.
- Soares Franco adicionou Gamebox
Com Soares Franco as claques puderam aceder a 200 lugares Gamebox, que eram levantados jogo a jogo.
- Cristóvão leva claques no avião
Paulo Pereira Cristóvão, vice-presidente de Godinho Lopes, tornou ténue a linha entre direção e claque. As viagens de elementos das claques com a equipa era regular.
- Bruno até ao tribunal
Bruno de Carvalho está a ser julgado como mandante do ataque à Academia , feito por elementos da Juve Leo.
MOMENTOS
- Chegada apoteótica com escolta
A 19 de agosto de 2014, deu-se o impensável: Nani chegava por empréstimo do Manchester United. Mustafá não faltou à chamada e fez e escoltou o craque.
- Consoada antecipada em nome do leão
A 11 de dezembro de 2015, a Juve Leo de Fernando Mendes e Mustafá recebeu no seu jantar de Natal com Bruno de Carvalho e vários jogadores do plantel de Jesus.
- Todos juntos para o mesmo lado
A 25 de julho de 2018, Torres Pereira e Sousa Cintra juntaram as claques do Sporting e falaram em uníssono.
- Capitães com Mustafá após Alcochete
A foto remonta a 18 de agosto de 2018 e mostra Mustafá com Nani e Bruno Fernandes, capitães leoninos, três meses após o ataque à Academia, a 15 de maio.