Artur Jorge, pelo Braga, estreia-se em finais contra Sérgio Conceição, que já esteve numa dezena, quase todas à frente do FC Porto.
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Domingo, o Jamor vai cruzar os caminhos de Sérgio Conceição e Artur Jorge em pontos diferentes das carreiras, mas que podem ser igualmente marcantes.
De um lado, o treinador do FC Porto prepara-se para a décima primeira final; do outro, o técnico do Braga estreia-se em jogos deste cariz a nível profissional - esteve na final da Taça Revelação pelo Braga, em 2020/21.
A Taça de Portugal já é especial por si só, não precisa que lhe emprestem mística, mas no desafio de domingo desaguam outras curiosidades que aguçam ainda mais o apetite.
Se Sérgio já ganhou muitas vezes, também sofreu e acumulou marcas de guerra. E o primeiro dos golpes mais duros deu-se justamente no Jamor, quando orientava...o Braga. Em 2014/15, os arsenalistas cavaram uma vantagem de dois golos, mas o Sporting empatou perto do fim e levou a melhor nos penáltis. À terceira final na Prova Rainha, pela qual demonstrou sempre carinho especial, Conceição venceu já ao serviço do FC Porto, em 2020. Voltaria a repetir o triunfo na época passada, num percurso que tem gravada uma marca fortíssima na história do clube. Entre campeonatos, taças e supertaças, Sérgio ofereceu nove troféus ao museu e tornou-se, em janeiro, com uma inédita vitória na final da Taça da Liga por parte dos dragões, no treinador mais titulado da história dos azuis e brancos.
Para desafiar tudo isto, estará um Braga de múltiplos recordes. Além do terceiro posto no campeonato, que vale a ida à terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões, assinou outras marcas de relevo. Alcançou a sua pontuação mais alta de sempre na I Liga (78 pontos), embalada pelo maior registo de vitórias (25) na competição. Na soma de todas as provas, foi a temporada com mais triunfos (35) e golos marcados (107). Argumentos fortes dos homens de Artur Jorge, que se juntam a outras dores de cabeça recentes provocadas ao FC Porto, já depois do triunfo sobre os dragões na final da Taça de Portugal de 2015/16: em 2020, o Braga ganhou a final da Taça da Liga, levou a melhor nas meias-finais da Taça de Portugal em 2021 e, em 2022, impediu a equipa de Conceição de tornar-se campeã invicta.
O resultado é imprevisível, mas a história está garantida.
3 questões a Luís Freitas Lobo
"Ambos apelam à agressividade"
1 Quanto vale a experiência dos treinadores nestes jogos de decisão?
-Pode valer muito em termos de dimensão estratégica. Neste caso, parece que isso se aplica mais ao Artur Jorge no Braga, mas penso que poderá ser ao contrário e ser ao Sérgio Conceição no FC Porto. Porque ambas as equipas se conhecem e é natural a maior estratégia de expectativa do seu momento no jogo por parte do Braga. O FC Porto é que tem de surpreender (além de entrar forte a atacar e pressionante) e anular o que pode ser o melhor Braga ofensivo.
2 Há dedo mais vincado do treinador numa competição longa, como a Liga, ou numa prova a eliminar, como a Taça?
-Claramente numa competição longa, para dar uma identidade de modelo de jogo. Esses são os grandes trabalhos de autor que deixam assinatura de estilo (de como querem fazer jogar as suas equipas). Um jogo, uma final, pode ser preparada por um treinador sem ter essa bagagem de trabalho. É então uma influência diferente por ser muito específica. Terá, no entanto, de basear-se no conhecimento profundo da equipa (e do adversário) para ter resultado. O que fizer nesse sentido nasce do primeiro "dedo" (o do campeonato) aplicado ao segundo "dedo" (o de um jogo a eliminar).
3 O que mais aproxima e o que mais diferencia Artur Jorge e Sérgio Conceição?
-Conceição está no FC Porto há seis épocas, Artur Jorge conhece bem o Braga, mas só dirige a primeira equipa há uma. Isso é decisivo para a criação de alternativas de jogo, além da marca do modelo geral que se incute desde o primeiro dia. Ambos são treinadores que apelam à agressividade das suas equipas. No túnel, nas bolas divididas e na posse, mas Conceição é diferente na maior vontade de pressionar. As equipas (jogadores) são diferentes e isso muda os treinadores. Dos médios até à ideia de jogo.