Arthur lança o pagode e agarra-se à religião: os segredos do avançado do Sporting
Extremo espantou a Europa com um golo na estreia pelo Sporting e na Champions e O JOGO conta-lhe os hábitos do brasileiro no balneário e a gratidão divina que pratica desde cedo
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Arthur Gomes saltou para a ribalta europeia frente ao Tottenham. De forma descarada, pegou na bola e arrancou para um lance individual que lhe valeu um golo nem um minuto depois de estrear-se pelo Sporting e na Liga dos Campeões. O momento espelha o seu perfil.
Ao nosso jornal, o ex-guarda-redes do Estoril, Thiago Silva, lembra a adaptação rápida a Portugal, as noites de conversa de um jogador "diferenciado". Jesualdo Ferreira fala também do ex-pupilo.
"Não tem problemas em ir para cima do adversário. Não posso dizer tudo porque senão ficam a saber tudo dele, mas é diferenciado", afirma, entre risos, Thiago Silva a O JOGO. O ex-guardião do Estoril passava tempo com o extremo, com quem diz que travava um duelo "equilibrado". "Ele marcava e ia lá gozar o pedaço. Era folgado [brincalhão]. Jogávamos cartas. Morava na Parede e jantávamos muitas vezes", revela.
Com ele, partilhava uma tarefa importante no balneário. "Ele era o rapaz do pagode e do "rap". Metíamos música os dois e ele dá um bom DJ", explica, revelando que ficou encantado quando soube que Arthur Gomes ia aterrar no Estoril. "Já o conhecia. Vem de uma grande escola, com nomes como Robinho, Neymar, Rodrygo e Gabriel Barbosa. Adaptou-se muito bem. Foi sempre um jogador de grupo e era muito competitivo", pormenoriza.
Arthur sempre foi educado e atento a conselhos. Apesar de saber que os clubes grandes estavam atentos e o tinham referenciado, nunca fez pressão para sair. "Trabalhava para que acontecesse, mas ninguém o ouvia a dizer que ia sair", assevera Thiago Silva.
Os dois irmãos de Arthur, Caio e Ricardo Júnior, abandonaram o futebol quando perceberam que o mais jovem precisava de acompanhamento. Desde que foi ao Mundial de sub-17, Arthur Gomes entrou no radar de grandes clubes e, aos 18 anos, fez uma subida vertiginosa para o plantel principal do Santos, somando 11 golos em 97 jogos no Peixe. No entanto, não conquistou os adeptos, porque era considerado um brinca na areia. Foi cedido à Chapecoense e ao At. Goianiense.
"Infelizmente, a 'torcida" do Santos não ia muito à bola com ele e isso é crucial no Brasil"
"Chegou com 21 anos depois de um empréstimo, começou como titular e fez grande parte do Paulistão. Apontou três golos, um deles contra o São Paulo. Infelizmente para ele, a "torcida" não ia muito à bola com ele... e no Brasil essa avaliação é fundamental para o futuro, seja ela boa ou má. No caso dele, foi a saída", testemunha a O JOGO Jesualdo Ferreira, ex-treinador do Santos que hoje se encontra no Zamalek.
Logo aos 10 anos, o São Paulo detetou-o e levou-o para cidade mais populosa do Brasil, mas a mudança de Uberlândia, município a 600 km, durou pouco. O atacante, agora com 24 anos, ia de mês a mês a casa e pediu para voltar. Foi decisivo o esforço da mãe, solteira, que levou os filhos para habitar em Santos dois anos depois. Tudo pelo sonho do benjamim que ingressou no clube de Vila Belmiro. Desde as noites na pousada, sempre acompanhado das imagens divinas e com a tradicional reza antes de ir dormir, Arthur Gomes responde, ainda hoje, com um "graças a Deus" a cada pergunta e usa a palavra "gratidão" para falar do caminho. A Dona Nilda ainda se agarra à religião nos jogos do filho, a quem Jesualdo Ferreira vaticina sucesso.
"O Arthur precisa de espaço e de tempo e pode ser um elemento interessante na dinâmica ofensiva do Sporting. É potente, muito rápido com bola, joga dos dois lados e é forte no 1x1", anota.
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Dona Nilda convenceu Bebeto e Arthur foi atrás do pai de Neymar
Três filhos de pais diferentes obrigaram a mãe, Nilda, a esforços redobrados. Os mais velhos ajudaram a limpar a pousada onde habitavam para que se aligeirasse o preço da estadia. Isto quando a família saiu de Minas Gerais para habitar perto do Vila Belmiro.
Vendo o benjamim infeliz por ter saído do São Paulo, Dona Nilda convenceu Bebeto, coordenador da formação do Santos, a dar-lhe uma chance aos 12 anos. Anos depois seria o próprio jovem a correr atrás do pai de Neymar, que é hoje o seu empresário.
"Parabéns, estamos a torcer por ti", escreveu na quarta-feira o agente. "Boa, moleque. Golaço", comentou o jogador do PSG. "Felicidade", desejou Rodrygo, ex-colega e futebolista do Real Madrid.
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