TEMA - A próxima época, alguns jogos das competições profissionais serão dirigidos por juízes estrangeiros. Na Grécia, fazem-no há anos e com sucesso. As polémicas baixaram de tom.
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As competições de futebol profissional em Portugal, Liga NOS e Liga SABSEG, terão árbitros estrangeiros a partir da próxima temporada, tanto no campo como no VAR. A medida ainda não foi anunciada, mas a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) tem uma estratégia definida de intercâmbio de árbitros com um país europeu, ainda desconhecido, para entrar em vigor já em 2020/21.
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A APAF contesta esta solução, justificando a sua posição com a competência dos árbitros portugueses, mas a experiência vivida noutros países demonstra exatamente o contrário. Já lá vamos...
A medida não é inovadora nem tão-pouco recente. Há 20/30 anos, já os franceses se relacionavam com os luxemburgueses e os holandeses com os belgas. No norte e leste da Europa este método também era utilizado com frequência, uns avulso, outros mais organizados.
Mas é a Grécia que a partir do verão de 2017 avança para esta medida de forma mais sistematizada, recorrendo ao serviço externo a partir de dois modelos: intercâmbio, em perfeita paridade, e convite, situação pontual. Num processo complexo, desde logo pela análise qualitativa dos juízes (avaliação para justificar a chamada), e de coordenação com a UEFA por causa das solicitações aos árbitros internacionais para evitar sobreposições, na primeira época foram requisitados 12 árbitros, na segunda 19 e na terceira 24.
A desconfiança, os jogos de bastidores e permanente pressão sobre os árbitros levou a que o antigo dirigente e árbitro português, Vítor Pereira, então presidente do Comité de Arbitragem da Federação Grega de Futebol (HFF), tomasse medidas extremas para eliminar o ruído em torno dos árbitros antes, durante e depois dos jogos grandes, os mais mediáticos - só para estes. O ambiente mudou substancialmente e o futebol deixou de ser um vulcão em erupção. O impacto da presença de árbitros estrangeiros nos principais jogos da liga grega foi grande, como explica a O JOGO o jornalista Jorge Mazias, do "Sport Day".
"O jogo é diferente. Não há paragens, não há antijogo, há um maior respeito na relação entre árbitros e jogadores. Protesta-se muito menos"
"Chegávamos a ter árbitros a rejeitarem a nomeação durante a semana, depois de sofrerem fortes pressões. Arranjavam uma desculpa qualquer para não apitarem determinado jogo. O ambiente agora é diferente, é muito mais limpo. Antes dos grandes jogos era uma guerra e os dirigentes tentavam sempre encontrar uma relação suspeita entre o árbitro e o clube adversário. Ou era adepto ou a mulher trabalhava na empresa do dono do clube, havia sempre qualquer coisa que vinha a público durante a semana. Era horrível", comenta, falando nos benefícios da medida. "Vocês vão perceber rapidamente a diferença. O ambiente à volta de um jogo será muito mais calmo. Os jogadores dentro do campo terão também um comportamento mais respeitoso entre eles e com o próprio árbitro. Os clubes quando jogam nas competições europeias têm um comportamento normal, chegam a casa é tudo diferente... As pessoas à volta do futebol têm atitudes infantis, pressionam os árbitros como se estes fossem criminosos", atira, perspetivado, contudo, dias complicados para José Fontelas Gomes, presidente do Conselho de Arbitragem (CA). "Deixa de haver pressão no árbitro do jogo, mas o responsável pela arbitragem passa a ser o alvo das críticas porque será ele o responsável pela vinda de árbitros do exterior. É o que acontece aqui na Grécia com o Mark Clattenburg [antigo árbitro inglês é presidente do CA grego] ".
Menos protestos e mais tempo de jogo
Há quatro anos no AEK, Hélder Lopes, só vê vantagens na presença de juízes de outra nacionalidade. Para o antigo lateral-esquerdo do P. Ferreira, a medida foi bem sucedida na Grécia. "O jogo é totalmente diferente. Não há paragens, não há antijogo, há um maior respeito na relação entre árbitros e jogadores. Protesta-se muito menos", explicou, acrescentando que o ambiente também melhorou. "Não há pressões sobre este ou aquele árbitro. Não se ouve tanto os dirigentes dos clubes durante a semana, não canaliza a pressão para os árbitros. Por outro lado, os árbitros também estão totalmente distantes da realidade dos clubes, o que é bom".
"Há muito menos gente a falar com os árbitros durante os jogos. No futebol português, por exemplo, há muita perda de tempo, muita pressão dos bancos sobre os árbitros. O tempo de jogo é reduzido, há muitas paragens e não há a devida compensação", acrescenta Hélder Lopes.
O lateral-esquerdo admite que os jogos apitados por árbitros gregos são "menos fluidos", com "mais faltas". "No fundo, acho que há uma maior imparcialidade, é melhor para as duas equipas. O que é para marcar, marca-se. O que não é para marcar, não se marca. Há um maior rigor e equilíbrio".
A fatura dos "big five": de 18 a 20 mil euros
O preço a pagar pela federação grega aos árbitros varia em função do seu estatuto, experiência e proveniência. Em termos médios, recrutar uma equipa de arbitragem de uma das cinco principais ligas para um jogo na Grécia custa entre 18 e 20 mil euros. Neste valor está incluída a diária, a viagem, a alimentação, o hotel, os transportes, entre outros. Quem está fora do circuito Mundial e não pertence às principais ligas do velho continente recebe valores mais baixos, em alguns casos não chegando aos 10 mil euros. Estes valores contrastam com os pagos aos juízes gregos. Uma equipa de arbitragem helénica receberá por jogo cerca de cinco mil euros, sendo a maior fatia (dois mil euros) para o árbitro principal.