Árbitro de 17 anos agredido num jogo de juniores da AF Porto terá perdido 70% da audição. E este é apenas um dos 84 casos registados pela APAF em pouco mais de duas épocas da gestão de Luciano Gonçalves
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É uma verdadeira guerra contra a violência nos recintos desportivos aquela que Luciano Gonçalves pretende travar. Mas quer o envolvimento dos outros organismos desportivos, como a FPF e a Liga. O presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) tornou pública a sua intervenção na assembleia geral da FPF, em que abordou os temas da classe e fez contas aos casos existentes no seu mandato, desde 30 de maio de 2016.
O caso mais recente a indignar o dirigente foi com um árbitro de 17 anos, na semana passada. "Os nossos jovens não precisam de ir para o hospital por se lesionarem ou ficarem sem 70% de audição, como foi o caso de um jovem de 17 anos que foi agredido na passada semana", informou, numa alusão a agressões num jogo de juniores da AF Porto.
"A arbitragem distrital está a ficar delapidada", acusa Luciano Gonçalves, considerando que se "desvaloriza o que continua a afastar pessoas do futebol". E o que é desvalorizado são precisamente as agressões.
Em 84 processos-crime abertos, 55 dizem respeito a ofensas à integridade física. O dirigente da classe dos árbitros ressalva que em todos os casos em que a APAF representou as vítimas, existiu sempre condenação dos agressores, destacando alguns casos mais mediáticos (ver caixa ao lado). Contas feitas, as indemnizações pagas aos lesados já ultrapassam os 50 mil euros.
A causa deste flagelo, no entender do líder da APAF, advém de uma sociedade "onde valores como o respeito e a educação vão perdendo o seu sentido".
"Eu não quero, de forma nenhuma, aproveitar estas autênticas vergonhas com que nos deparamos semanalmente em benefício próprio, na defesa da classe que represento, quero apenas que este motivo não seja mais um dos que teimam em afastar os jovens desta nobre atividade", apelou na reunião, onde estiveram dirigentes da FPF e Pedro Proença, da Liga, apontando os receios dos jovens árbitros.
Casos mais relevantes
Sobrado
Dois árbitros do Porto - Pena efetiva superior a três anos aos quatro agressores; indemnizações superiores a 30 mil euros aos dois associados.
Viseu
Agressão a árbitro - Pena suspensa de oito meses; indemnização de mil euros.
Beja
Agressão a árbitro - Pena suspensa de um ano e sete meses e outro de um ano e 15 dias; indemnização de dois mil euros
Lisboa
Agressão a árbitro - Pena efetiva de sete meses; indemnização de 2590 euros
Ameaças graves e injúrias a árbitro - Indemnização de mil euros
Ponta Delgada
Agressão a árbitro - Pena suspensa de seis meses; indemnização de 1750 euros
Castelo Branco
Agressão a árbitro - Pena suspensa de seis meses; indemnização de 1681,45 euros