Mika retirou-se dos relvados na época que recentemente terminou, aos 37 anos, com a camisola do Leça. Para trás ficou uma carreira que, aos 25 anos, teve a ascensão travada por mazelas graves
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Chegou ao fim a carreira de Michael Figueiredo, ou Mika, como ficou conhecido em quase duas dezenas de anos de futebol sénior. Nascido em Lyon, França, filho de emigrantes naturais de Santa Maria da Feira, o defesa-central olha para trás e regozija-se por ter “alcançado alguns sonhos”, embora considere que poderia ter ido mais além, não fossem duas lesões graves que sofreu quando estava no melhor momento. “Consegui o sonho de menino de chegar à I Liga. Depois de lá estar, gostava de ter jogado nas competições europeias, mas também tive duas lesões graves que me impediram de dar o passo seguinte”, recorda.
Estávamos na temporada 2013/14, quando o Arouca de Pedro Emanuel arrancou, à 12.ª jornada, um empate histórico a dois golos no Estádio da Luz. Apesar do desfecho memorável, o encontro deixou más recordações a Mika, substituído aos sete minutos devido a uma lesão que se confirmou grave. “Fiz uma rotura dos ligamentos cruzados. Tinha sido titular na época de subida do Arouca, continuava a jogar na I Liga e sinto que estava perto de dar o passo seguinte. Tive de ser operado, faço a recuperação e, entretanto, o meu contrato com o Arouca acaba e volto ao Feirense. No ano seguinte, no primeiro jogo que faço, tenho uma recaída, torno a parar e a ser operado. Foi um ponto de viragem”, lamenta.
O sonho da I Liga esfumou-se, apesar de ter recebido “alguns convites” para voltar. Para a história ficaram 36 presenças no principal escalão do futebol português e 86 na II Liga. Depois disso, fez uma carreira sustentada no Campeonato de Portugal, onde disse adeus, com 135 encontros, ao futebol. “Após a segunda lesão consegui voltar a jogar no Feirense, com o Pepa como treinador, mas depois entrou a SAD e houve complicações, não foi possível continuar”, explica. Mudou-se depois para o Trofense, clube pelo qual se sagrou vencedor do Campeonato de Portugal em 2020/21, e passou, ainda, por Freamunde e Lourosa antes de chegar a Leça da Palmeira. “Fiquei várias épocas nos clubes onde estava. Desde cedo preferi estar em projetos ambiciosos, mesmo que fosse numa divisão inferior, do que estar num clube por estar. Gostava de jogar para ganhar, de ter objetivos”, elucida. “Além disso, após as lesões comecei a desfrutar mais e a dar outro valor ao futebol”, sublinha.
Para trás ficou a infância e adolescência passadas em França. A vinda para Portugal “custou muito”, mas o tempo fez Mika dar-lhe valor. “Deixei a vida com os meus amigos de infância. Vir a Portugal era espetacular, mas era só nas férias de verão. O primeiro meio ano foi muito complicado, mas depois de ter-me adaptado nunca mais quis voltar a França”, conta o defesa que começou a jogar federado com a camisola dos sub-17 do Feirense. Agora, espera fazer carreira nos bancos. “Consegui, ao longo da carreira, especialmente na fase final, tirar os cursos de nível I e II de treinador. Gosto muito da parte do treino e o futuro será por aí”, revela, disposto a queimar etapas nesta nova vida. “Não quero, nem me sinto preparado, para ser treinador principal, por isso gostava de encaixar numa equipa técnica”, termina.
Pepa e Pedro Emanuel marcaram
Desafiado a responder rapidamente a algumas perguntas de O JOGO sobre a carreira, Mika nomeou Pepa e Pedro Emanuel como “os treinadores mais marcantes” com quem trabalhou no futebol. “O melhor jogador? Escolho o Hélder Sousa, com quem joguei no Trofense. Qual o de maior potencial, mas sem tanta sequência? Vou pelo Ludovic, que apanhei no Feirense”, atirou. “Onde teria chegado se não fossem as lesões? Na altura houve abordagens de clubes de outra dimensão em Portugal, mas também gostava de ter ido para o estrangeiro, para uma liga mais competitiva”, contou ao nosso jornal o central de 37 anos.