Frente ao Benfica, não é um resultado desportivo o que está em causa para o Dínamo Kiev. Por esta equipa brilham os olhos de milhões de ucranianos afetados pela guerra, à espera de algo que minimize a dor
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O Dínamo Kiev tem, além do fator desportivo, uma motivação extra que pode ajudar os jogadores a extraírem o melhor de si próprios nos 90 minutos da partida a decorrer no Estádio Miejski: o apelo patriótico resultante do facto de estarem a representar um país e um povo atormentados pelo drama da guerra. Praticamente todos os elementos desta comitiva devem ter familiares, amigos ou no mínimo conhecidos que foram afetados diretamente pela tragédia, pelo que neste jogo não haverá, por certo, lugar a facilitismos da parte do emblema de Kiev. Sangue, suor e lágrimas é o que o Benfica pode esperar por parte dos 11 jogadores que vão iniciar o encontro, assim como dos suplentes.
O próprio clube, através de mensagens no site oficial, tem apelado diversas vezes ao fervor patriótico dos jogadores e dos adeptos. "Todos sabem que falta apenas um passo para a fase de grupos", diz Silvério.
"É um fator que pode ser galvanizador em termos de motivação. Eles vão sentir que estão a ser quase uma bandeira de todo um país", comenta, a O JOGO, Jorge Silvério, psicólogo do desporto, sobre um fator que já foi visível nos jogos da seleção ucraniana, que nos últimos cinco compromissos perdeu apenas um, apesar de ter sido afastada do Mundial com uma derrota frente ao País de Gales. Mas mesmo nesse encontro foi visível a atitude "como se não houvesse amanhã" por parte dos jogadores, que sentem qualquer desaire como se fosse eles mesmo um ataque ao seu próprio povo.
"Mas também pode funcionar ao contrário", porque pode ser um fator desestabilizador, caso algum dos jogadores viva neste momento uma situação delicada, acrescenta Silvério. De qualquer forma, é de esperar que a equipa "tenha mais valor do que seria normal" caso não houvesse guerra. E do ponto de vista emocional vamos percebendo cada vez mais o peso que fatores como este podem ter no desenrolar de um jogo", acrescenta o psicólogo, aludindo a um jogo que, de um lado, terá uma equipa com forte apoio do público.
"Eles vão sentir que estão a ser uma bandeira de todo um país"
A Polónia é vizinha da Ucrânia e é um dos países europeus com mais refugiados daquele país. Em Lodz, particularmente, são mais de cem mil ucranianos na cidade, esperando-se que o estádio Miejski esteja lotado por um público fervoroso, na expectativa de ver uma equipa nacional a disputar a fase de grupos da Champions e, dessa forma, funcionar como bandeira do país. 18 mil lugares é a lotação do recinto, esperando-se que cerca de três quartos desse valor esteja a vibrar em sentido único.
E bem consciente da potencial importância desta questão está o próprio clube, que no site oficial tem apelado por diversas vezes ao fervor patriótico dos jogadores e dos adeptos. "O fervor e a motivação aumentam, pois todos compreendem que falta apenas um último passo para a fase de grupos do torneio de clubes mais prestigiado da Europa, que vão querer oferecer à sua Pátria e ao seu Povo", lê-se no site oficial do Dínamo, lembrando-se ainda que nas mãos dos atletas está a possibilidade de jogarem "pelo bem dos nossos heróis". "Precisamos de nos preparar com muita responsabilidade e de trabalhar com essa consciência", numa peça a propósito da ida da equipa para Lodz, onde tem estado nos últimos dias a preparar o encontro.