Jesualdo Ferreira sente que o Braga se aproximou o suficiente para agarrar a sua conquista mais impressionante e descreve o trajeto de Salvador, abordando um objetivo de vida bem escudado nas valências.
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António Salvador propõe-se a mais um mandato para conduzir o Braga nos próximos quatro anos, alargando o seu poder no clube a uma espécie de bodas de prata. Os horizontes pintam-se gloriosos, sendo legítimo espremer tentações de grandeza que não serão meros sonhos. As palavras do presidente na apresentação das próximas metas mereceram vigorosa aclamação da nação bracarense e sustentam uma qualificação de recursos vibrantes com vista à conquista inédita de um campeonato, soprado como um objetivo e não um desejo. Homem com currículo impressionante à frente dos minhotos, Salvador entendeu chegar a hora de querer mais, afirmando essa vontade, sem depender de circunstâncias ou conjeturas. Atacou, sem medo e como nunca, o objetivo, colocando-se como refém das palavras, de peito aberto às balas, mas seguro da obra paralela à contagem de títulos. Salvador falou e fez-se um eco estrondoso, dividindo sensibilidades, mas derrubando qualquer indiferença, passando um convite à mobilização e acenando com a catarse coletiva. Os desejos do presidente multiplicam-se entre proveitos variados, na busca do dobro de adeptos na Padreira, no aumento a 50 por cento dos sócios, e numa estimativa de 400 títulos entre todas as modalidades para os próximos quatro anos, 16 deles imputados à responsabilidade do futebol e do futsal.
A mensagem foi sintomática e constituiu um abanão na mentalidade daqueles que andam íntimos do sucesso guerreiro. Quem compreendeu bem as palavras de António Salvador foi Jesualdo Ferreira, o primeiro técnico contratado pelo então jovem presidente, em 2003. “Ao Braga e a Salvador só falta ser campeão. Entrei com ele, conheço este trajeto de 22 anos. Ele fez uma equipa, depois um clube. Estruturou-o por completo e fixou-o num patamar alto, sem oscilações. Passou a ser o quarto grande, sendo segundo classificado, terceiro, ganhando títulos internos e chegando a finais europeias”, observa o técnico, que cumpriu três épocas completas, sempre no top-5, após selar uma permanência. Ainda voltaria mais tarde para uma segunda passagem.
“Foi o Salvador que carimbou tudo isto. No plano desportivo podem ou não dizer que é o quarto grande, mas, no plano estrutural, já é um dos grandes de Portugal. Cresceu como clube estável e reconhecido na Europa, que valoriza e aproveita jogadores e treinadores. Entendo a sua cabeça, é um homem ambicioso. Ele sabe que tendo uma equipa competitiva de ano para ano, sempre a rentabilizar jogadores, vendendo saúde financeira, o destino é esse. Pressentiu que ser campeão é aquilo que os sócios lhe iram exigir”, destaca.
Jesualdo Ferreira não duvida do alcance do desafio. “É um plano realista, é aquilo que o Braga pode perseguir, além de fortalecer o que já conseguiu. Ser campeão é atingir o máximo dentro do país. Já o dissera antes, podia ser sempre o quarto por mérito, ser terceiro ou segundo por demérito dos outros. Mas, como esses, o Braga também se fez grande, construiu a sua história. Pode pensar em mais...”
O técnico, de 78 anos, resume a caminhada de Salvador para lá das duas Taças de Portugal e três Taças da Liga. “Ele teve sonhos, impulsionou um clube, ergueu infraestruturas e fez uma academia. Sobra-lhe o objetivo de vida: manter o que tem e ser campeão”.