Senador da Liga Portugal tem preferência pelo candidato Reinaldo Teixeira na corrida à presidência da Liga, mas avisa que, depois das eleições, tem de haver unidade. António Simões desafia os clubes a provarem que querem servir o país. E faz uma curiosa comparação com o momento… político.
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Figura histórica do futebol nacional, condecorado em fevereiro com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, António Simões olha para o futuro da Liga com a perspetiva de que é fundamental “a melhoria do produto”. Nesse sentido, e em vésperas da eleição para a presidência deste organismo, o senador da Liga Portugal, de 81 anos, destaca a O JOGO “a experiência, o conhecimento e o bom senso” do candidato Reinaldo Teixeira, mas sem deixar de sublinhar que todos os clubes têm, depois dos votos, de estar do mesmo lado.
Sendo uma personalidade há muito ligada ao futebol e em várias funções, como avalia as candidaturas que se apresentam para a presidência da Liga?
— Revejo-me no perfil de Reinaldo Teixeira para presidente da Liga. Está há muito tempo no futebol e isso fala por si, não precisa de apresentar currículo. Parece-me também ser uma pessoa com bom senso e este é necessário no futebol português. Além disso, ele tem a capacidade de congregar aquilo que é importante fazer na perspetiva de o futebol ter credibilidade e o jogo ter qualidade. A Liga tem a responsabilidade de procurar melhorar o produto de modo a que este seja vendido e deve ter um presidente capaz de perceber isto. Todos têm de perceber que o futebol hoje é verdadeiramente um negócio. Então, façam o favor de se darem todos bem.
O candidato José Mendes não terá também esse perfil? Em que diferem?
— Na minha perspetiva, o outro candidato não tem o capital de conhecimento e experiência que este tem e é isso que me faz rever mais em Reinaldo Teixeira do que em José Mendes. Como o primeiro está há mais tempo ligado ao futebol, isso permitiu-lhe adquirir mais conhecimento e, com isso, acredito que possa trazer bom senso ao futebol. Tendo estas qualidades, entendo que pode fazer um bom trabalho na Liga.
Em entrevista a O JOGO, João Braz Frade, antigo dirigente do Benfica, apontava para o benefício da existência de apenas uma lista. Concorda com esta visão?
— Vejo, por exemplo, que um PSD e um PS deviam sentar-se à mesa e, se é verdade que querem servir o País, então deviam chegar ambos a um consenso. Mas não é isso que têm feito. Vivemos em Portugal há mais de 50 anos numa democracia que não chegou para todos. Neste caso concreto das eleições da Liga, também é um ato político, mas nenhuma democracia consegue ser de qualidade se não houver competição de ideias, dá a possibilidade da escolha e do debate, que só é conseguido se houver mais do que um candidato. Um debate aporta qualidade, um consenso não. Como se percebe a qualidade de cada um se ninguém combater? É por isso que tenho sempre reservas em relação a consensos. Da mesma forma que não admito jogadas de bastidores, quero independência no poder e isso só é conseguido com a apresentação de ideias que permitam a escolha consciente a quem vai votar.
Não se corre o risco de termos um conflito interno posterior por termos clubes grandes divididos no apoio a dois candidatos?
— Respondo com uma pergunta. Querem todos prestar um serviço ao futebol português ou estão a pensar naquilo que é o poder de cada um? Estaremos a correr o risco de estarem dois de um lado e dois do outro, mas isso obriga a que estejam uns contra os outros? Ou apenas têm ideias diferentes? O futebol português tem de estar acima de isto tudo, embora o passado nos dê outro exemplo de conflitos entre os clubes, chegou o momento de acabarmos com isso. Têm todos de servir o futebol português, independentemente de terem ideias diferentes, porque só assim se consegue melhorar o produto.
Quer isso dizer que é imperioso que os clubes sejam parceiros nos gabinetes da Liga e só adversários nos relvados?
— Se todos vendem o mesmo produto, não há razão para que não sejam amigos. Temos de combater a ideia de que não chega ganhar e que é preciso matar o opositor. A rivalidade só tem de se ver dentro do campo. Fora dele têm de ser parceiros de negócio, como o próprio Pedro Proença disse aos clubes na primeira reunião depois de ter sido eleito… em 2015!
E acredita que Reinaldo Teixeira conseguirá esse caminho de união entre diferentes visões dos clubes mesmo depois de ter sido noticiado eventual conflito de interesses devido a um negócio com Rui Costa?
— Isso é só para lançar confusão. Acredito que tem experiência para isso e acho que os clubes vão aceitar que ele governe. E que, independentemente de ser ele ou não o escolhido, todos eles têm de ter esta visão sobre a melhoria do produto. Todos têm de perceber que a loja é diferente, mas o produto é o mesmo, é o futebol português.