Desde que António Salvador e Júlio Mendes se encontraram como presidentes dos respetivos clubes, o líder bracarense venceu oito dos 16 jogos; quatro terminaram empatados.
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A rivalidade entre o Braga e o V. Guimarães estende-se das bancadas ao campo, passando ainda pela tribuna presidencial. É lá que vão estar amanhã os presidentes António Salvador e Júlio Mendes, num sinal de cordialidade, isto independentemente de estarem em campos opostos. As guerras de palavras entre os dois têm sido uma constante ao longo dos tempos, mesmo depois de já terem feito as pazes em 2014. O acordo de cavalheiros foi patrocinado por Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, antes de mais um dérbi disputado no dia 10 de janeiro de 2014. No final desse jogo, o Braga venceu por 3-0 e Salvador comemorou uma das oito vitórias nos 16 jogos em que teve Júlio Mendes como rival. Com os dois como líderes, o saldo nos duelos diretos é claramente favorável a Salvador, que viu o Braga vencer oito jogos e empatar quatro, tendo Mendes ganho quatro vezes. Isto, curiosamente, apesar de dez desses jogos até terem sido realizados em Guimarães, palco da maior vitória dos bracarenses nos duelos entre ambos. Tal aconteceu a 18 de fevereiro de 2018, dia em que os arsenalistas venceram por 5-0.
Independentemente da rivalidade, António Salvador e Júlio Mendes vão sentar-se lado a lado em Braga
Foi ainda no D. Afonso Henriques o primeiro confronto entre os dois presidentes. Eleito pela primeira vez a 31 de março de 2012, dia em que sucedeu a Emílio Macedo da Silva e derrotou Pinto Brasil, Júlio Mendes fez de anfitrião no dia 28 de setembro desse mesmo ano e viu o Vitória ser derrotado por 2-0.
Mas Júlio Mendes não teve de esperar muito para ver a equipa ganhar. A 16 de janeiro de 2013, novamente em Guimarães, o Vitória derrotou o Braga, no prolongamento, naquele que foi mais um passo rumo ao Jamor e à conquista da Taça de Portugal. Na final, os vitorianos derrotaram o Benfica e fizeram a festa.
Na presidência de António Salvador e de Júlio Mendes, a Taça de Portugal já foi parar a Braga e a Guimarães. Com mais anos de presidência, o bracarense soma mais troféus
Meses antes, a 31 de março de 2013, António Salvador já tinha festejado a conquista da Taça da Liga. Alan, de grande penalidade, bateu o FC Porto, e os bracarenses levaram o troféu para o Minho. Mas o presidente do Braga queria mais e tinha o sonho de vencer a Taça de Portugal, feito que conseguiu em 2016, tendo novamente como finalista o FC Porto.
Os troféus são, aliás, a face visível do trabalho dos presidentes, mas tanto António Salvador, ligado à construção, como o engenheiro Júlio Mendes bem podiam ser gestores, tal é a capacidade que têm para gerir os respetivos clubes. E se o líder bracarense assumiu pela primeira vez os destinos do Braga no dia 24 de fevereiro de 2003, numa altura em que os arsenalistas lutavam pela permanência na I Liga e com graves problemas financeiros, Júlio Mendes chegou à liderança nove anos depois e com um passivo a rondar os 20 milhões de euros. O objetivo imediato foi arrumar a casa, recuperar a capacidade financeira e apostar novamente na vertente desportiva.
Ambos apostaram em Sérgio Conceição e José Peseiro
António Salvador e Júlio Mendes têm em comum a visão para contratar bons treinadores, alguns deles com passagens pelos grandes do futebol português ou até para o estrangeiro. O líder arsenalista apostou em nomes como Jesualdo Ferreira, Domingos Paciência, Paulo Fonseca, Jorge Jesus, Leonardo Jardim e Carlos Carvalhal, enquanto o presidente do V. Guimarães escolheu Rui Vitória e Pedro Martins. Em comum têm ainda a aposta em Sérgio Conceição e José Peseiro, dois treinadores com passagens pelos grandes de Portugal.
Oito décadas de equilíbrio
No sábado, em casa do Braga, o V. Guimarães vai tentar igualar, de novo, o registo de vitórias no dérbi. Em oito décadas de um dos encontros mais apaixonantes do futebol português, o equilíbrio é a nota dominante: os arsenalistas comandam com 54 vitórias em 136 jogos, enquanto os vimaranenses só têm menos um triunfo.
Caso vença em Braga, no dérbi 137, o Vitória empatará o histórico de jogos entre os dois clubes
As duas últimas décadas de dérbis têm sido dominadas pelo Braga, que desde 2000 conquistou 19 triunfos, contra 11 do Vitória. Curiosamente, nas duas décadas anteriores foram os vitorianos a rir do rival, vencedores de 19 dérbis e vencidos em 11. Figura incontornável nesse período de 20 anos em que os conquistadores mandaram no jogo mais desejado pelos minhotos foi Pimenta Machado, presidente eleito a 10 de março de 1980, e que se manteve no cargo durante 24 anos, muitos de ouro para a história do clube com uma Supertaça conquistada, em 1988/89, dois terceiros lugares, em 1986/87 e 1997/98, e vários apuramentos para as competições europeias. Zahovic, antigo jogador do Vitória, recordou recentemente em O JOGO que, em vésperas de dérbi, o histórico líder do clube "gostava de provocar os adeptos do Braga ao dizer que uma camioneta chegava para os trazer até Guimarães". É que não há mesmo jogo como este...
Quando Pimenta saiu de cena, António Salvador era um recém-chegado à presidência do Braga. De então para cá os arsenalistas cresceram de tal forma que, para além de terem supremacia nos dérbis, jogaram a Liga dos Campeões, conquistaram taças, diminuíram a distância para os "grandes" e mantêm o sonho de chegar ao título nacional.
O domínio nas restantes décadas foi alternado, com o Vitória a superiorizar-se nos anos 40 do século passado, sucedendo-lhe os arsenalistas nos dez anos seguintes. Aliás, um dos triunfos mais gordos alcançados em casa pelos bracarenses sobre o vizinho e eterno rival remonta, precisamente, à época 1959/60, com um indigesto 5-0. E foi precisamente com o mesmo desfecho que os arsenalistas festejaram a histórica goleada em Guimarães na época passada. Mão-cheia foi também conseguida pelos vitorianos, em casa, em 1980/81, enquanto em Braga nunca conseguiram vencer por mais de dois golos.