ENTREVISTA O JOGO E TSF, PARTE I - André Villas-Boas, líder da lista B candidata às eleições, sócio 7616, não esconde a preocupação com o que pode encontrar se for eleito, mas mantém a crença num FC Porto renovado na estrutura e na ambição
Corpo do artigo
Numa extensa entrevista a O JOGO e à TSF, André Villas-Boas, líder da lista B candidata às eleições do FC Porto, falou de todos os temas que têm marcado a campanha e até deu algumas notícias, como a da sondagem que lhe aponta a vitória com uma margem “confortável”. Sem embandeirar em arco, apela aos sócios para atualizarem as quotas para que a mudança possa ser uma realidade e promete ser implacável com quem lesou o clube.
André Villas-Boas sublinha que o FC Porto não pode adiar mais uma mudança que devolva, desde logo, a estabilidade financeira ao clube, avisando que adiá-la para 2028 pode ser demasiado tarde.
Quando foi treinador do FC Porto, disse que essa era a sua cadeira de sonho. Ser presidente do FC Porto, que cadeira é para si?
-Eu acho que é a mesma na interpretação emocional do que significa liderar todo e qualquer projeto do FC Porto. Fosse como treinador das camadas jovens e seja também como presidente. Tem essa carga e esse sentido de exigência e responsabilidade que se intensifica por uma pessoa ser sócio do clube há mais de 40 anos.
Ou seja, é uma segunda cadeira de sonho, ainda com maior responsabilidade?
-É a cadeira de sonho verdadeiramente, com o máximo de responsabilidades. Diverge no sentido que é, no fundo, a liderança que dita o destino e o rumo do clube. Portanto, sobre esse sentido caem ainda mais responsabilidades.
Para sermos diretos, porque é que o André Villas-Boas é a melhor escolha?
-Eu acho que o FC Porto chegou a um ponto de viragem absoluta. Nós tivemos rendimento desportivo muito díspar do que foi a gestão e, em particular, a gestão financeira do clube. Portanto, encontramo-nos num momento muito sensível relativamente ao futuro. O ecossistema do futebol também está sensível por si e é preciso uma gestão muito mais moderna, com um conhecimento profundo, que saiba adaptar as estruturas do FC Porto às necessidades de um clube de elite do futebol europeu. As pessoas que estamos a reunir têm estas competências e características e conseguirão responder a estas exigências. Daí acharmos, sinceramente, que este é um momento de grande oportunidade também para os sócios, porque se reúnem aqui, nesta candidatura, tantas e boas competências relativamente ao futuro.
O André já disse que espera resolver os problemas financeiros com boa governança. Mas isto é vago. Quer detalhar um pouco mais este aspeto?
-É evidente que boa governança é o que nós não temos visto, do ponto de vista da gestão. E aí voltamos à questão anterior, ou seja, temos uma grande disparidade de sucesso desportivo, que choca claramente contra o que se está a passar financeiramente. Tornou-se muito fácil acumular passivo e, agora, confrontamo-nos com a sustentabilidade enquanto clube de associados em risco. Tudo isso obedece a rigor orçamental, a uma gestão cuidada, a disciplina, a controlo de custos. A boa governança é precisamente isto, é enquadrar-se com a realidade e não pôr em causa a sustentabilidade do clube enquanto clube de associados.
Qual é o caso mais evidente dessa “desgovernança” de que fala?
-É a contínua antecipação de receitas futuras por conta da troca de operação diária do clube. Ou seja, quando o clube se encontra numa situação de tesouraria limite, cada vez mais antecipa receitas futuras, isso quer dizer que não tem cash flow operacional para continuar a sua atividade. E não tem porque a gestão atual colocou o clube nesta situação. Portanto, a situação é essa, exige boa governança, exige controlo de custos, exige também cultura desportiva ou olhar para a cultura desportiva de outra forma. E é tudo isto que nós temos de introduzir no futuro do FC Porto. Sim, será muito mais difícil porque é um desafio, mas estamos confiantes que este é o momento. Deixar passar este momento é que poderá ser deixar para demasiado tarde.
A situação desportiva do FC Porto é complicada, apesar do apuramento recente para a final da Taça de Portugal. Como é que prevê minimizar o impacto de uma ausência na Champions no próximo ano?
-A diferença é substancial, como todos bem sabem, e normalmente situa-se em 40 milhões de euros. O que nós temos de fazer é, provavelmente, antes de ir a mercado, saber perfeitamente que jogadores da formação é que podem ser aproveitados na equipa principal, para a construção do novo plantel, e depois ser altamente rigorosos e específicos nos investimentos a fazer. O que nos preocupa mais nos próximos três meses é um défice de tesouraria. Como é que em três meses iremos encontrar cash flow operacional para continuar a pagar salários e corresponder aos encargos financeiros que vamos ter do ponto de vista dos impostos, UEFA e salários de funcionários? A partir daí, evidentemente, abre o mercado e temos de ter tudo em consideração. Criar valor, criar mais valias, construir plantéis competitivos, porque é uma obrigação também desta Direção ser campeã no primeiro ano, tendo em conta estes últimos dois anos. O foco do FC Porto não se pode distanciar do título e, claro, não se pode distanciar do título à distância que está atualmente de 18 pontos para o primeiro lugar e 11 pontos para o segundo classificado. Portanto, tudo isto são sinais de perda de capacidade competitiva e nós temos de encurtar distâncias, mas queremos criar plantéis competitivos para sermos campeões.
Acredita que a situação financeira que vai encontrar pode forçar a saída de mais pérolas do FC Porto no verão? Diogo Costa, por exemplo…
-Aqui há sempre o conforto de quando as pérolas não saem, de se manter níveis competitivos elevados. Temos analisar o mercado, ver como é que se comporta. A agitação é sempre nos últimos dias de agosto também. Nós queremos ter planeamento desportivo e assegurar que o treinador possa ter um ordenamento e um planeamento do seu plantel de forma equilibrada e estruturada. Agora, a realidade é que os mercados agitam em agosto e podem levar a mudanças abruptas. Depende também muito de como é que pode correr o Euro. Depende também se poderemos estar em face de alguma pressão do ponto de vista do calendário, se o FC Porto não se qualificar diretamente para a Liga Europa. Portanto, tudo questões sensíveis na construção de um plantel.