"Amorim disse: 'ou somos campeões ou temos de sair do Sporting, porque não merecemos'"
De saída do Sporting, o guarda-redes Adán deu uma última entrevista à Sporting TV, despedindo-se do clube e dos adeptos
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O ano passado começaram a traçar o que ia ser esta época? "Sim, eu acho que o ano passado foi duro, porque tivemos um começo de época mais irregular, onde perdemos pontos e isso não nos permitiu estar na luta pelo campeonato. E depois tivemos momentos pontuais em que falhámos, em que não conseguimos conquistar o resto dos troféus. Mas isso também ajudou o grupo. Há vezes em que tudo corre muito bem, mas há momentos em que tudo corre mal e temos que nos unir. Acho que o ano passado, nas últimas jornadas, já se estava a criar esse ambiente de 'ok, este ano correu mal, mas somos muito bons, e no próximo ano temos que mostrar, desde o primeiro dia até o último, que somos capazes de voltar a conquistar um título'."
Foi uma época de tudo ou nada? "O primeiro a passar a mensagem foi o míster que disse: 'ou ganho títulos ou vou embora'. Chegamos à pré-época e a mensagem era igual: 'no ano passado fizemos uma temporada má, ou este ano voltamos a ser campeões, ou todos nós que estamos aqui temos que sair do clube, porque não merecemos estar'. Foi dia a dia, jornada a jornada, que se foi criando o espírito de 'somos muito bons e temos que conquistar outro título'."
Foi essa a chave? "Durante estes quatro anos, foi difícil encontrar uma equipa em que não tivéssemos perdido um jogo e que a equipa rival fosse muito superior a nós. Tínhamos sempre a percepção de que perdemos este jogo por uma coisa ou outra, mas nunca porque o rival fosse muito superior, sobretudo no campeonato. Então essa confiança estava lá. O míster também nos transmitiu que, apesar das derrotas e dos momentos maus, transmitiu essa confiança e fez com que voltássemos a acreditar que era possível."
Como é que foi encarar a lesão? "Há jogos em que passei francamente mal. Eram momentos muito decisivos. Aqueles jogos com o Benfica, tanto para a Taça quanto para o campeonato, foram decisivos. Graças a Deus, a equipa respondeu e deu um passo em frente para conseguir ultrapassá-los. São momentos difíceis, obviamente. Nunca uma lesão é bem recebida, em nenhum momento, nem no início, nem no final da época, nem no meio. Estou orgulhoso da parte que pude ajudar a equipa durante as primeiras jornadas, durante as 22 primeiras jornadas."
Conseguiu ter esse papel de saber que no fim de semana não ia jogar, mas que tinha que estar lá, que tinha que ter uma palavra, por exemplo, para o Franco que assumiu o lugar? "Eu acho que temos que saber estar em ambos os lados. E uma das boas coisas que tinha este balneário era que, mesmo podendo jogar um, podendo jogar outro, quem ficava de fora tinha uma boa cara, nunca uma má palavra, nunca um mau gesto para o colega que ia jogar."
Onde é que sentiu que já não havia hipóteses de fugir do título? "Eu acho que aqueles jogos que eram importantes eram com o Benfica. Aí sentes que ainda podem aproximar-se um pouco mais a nós, mas eu via a equipa muito bem, a jogar com uma confiança tremenda. O jogo do Estrela, que também parecia que se ia complicar, e acabámos por ganhar. Era claro que este ano ia dar para nós."
E depois a festa... "É uma coisa inacreditável, não é? Não esperávamos o ambiente como foi naquele dia. Eu, quando cheguei ao Marquês, só tinha uma preocupação que era ficar com aquela imagem de ver a Praça do Marquês cheia de gente. Desde o ponto mais alto possível que havia naquele momento, que era aquele andaime, e poder ver tanta gente junta."
Como é pertencer a este clube? "É diferente de tudo o que eu já tinha vivido antes. Eu já te disse que passei por grandes clubes, fiz formação no Real Madrid, estive 14 anos também lá. Mas o que eu vivi durante estes quatro anos... também se torna muito especial para mim por tudo o que eu conquistei, não só ao nível de títulos, mas também nas pequenas coisas que fizemos para que este clube e este projeto se sinta como um grande projeto, como um grande clube, como uma grande equipa que permite que cada vez cheguem jogadores também com outra importância."
O que é que vai deixar mais saudades em todo o trajeto? "O dia-a-dia, eu acho que dentro do balneário havia realmente uma família. Há um staff de fisioterapuetas, de médicos, de roupeiros, que no dia-a-dia nos fazem sentir que estamos numa família, que é nossa casa. Deixar de ver alguns amigos que, obviamente, fazemos no futebol, algumas pessoas especiais que formam parte deste clube, e isso vai ser o mais complicado. Agora começa outra temporada na minha carreira e vou seguir com muita atenção o que acontece no Sporting."
O que diria este Adán ao que assinou com o Sporting? Que o objetivo foi cumprido? "Agradecia-lhe muito por ter assinado este contrato, por ter dado o passo no momento certo. Porque tive a possibilidade de chegar a este clube antes e, na altura, senti que não era o momento. Desta vez sim, senti porque estava convencido de que este projeto, este clube e o momento em que chegava aqui nos iria dar muitas alegrias tanto a mim como à minha família. E foi assim. O que disse no último dia na despedida do clube, que pedia aos adeptos que não deixassem cair este clube. O que pedia era que continuassem com a união que têm hoje com este plantel, com esta equipa, com este corpo técnico. Mesmo nos momentos piores, mostraram uma união e uma força espetacular."
Agradecimento final: "Queria ter uma última palavra de agradecimento para todos, para estes adeptos, para o presidente, para o diretor desportivo e o míster que me trouxeram aqui, que confiaram em mim para estar aqui, que mostraram o respeito pelo meu trabalho. E aos adeptos, a todos que estão fora do clube, mas que também fazem parte deste clube, o staff, as pessoas que convivem com nós dia a dia na academia, os cozinheiros, todos os que trabalham lá, as pessoas da limpeza. Agradecer também aos meus colegas durante este tempo. Apesar de ter partilhado o balneário com jogadores historicamente muito importantes em grandes clubes, acho que este balneário foi especial durante quatro anos. E agradecer também a eles o carinho que me mostraram e o respeito."