"Amorim demonstrou, como Lage, que a aposta na prata da casa não é em si mesma um risco"
A JOGAR FORA - A opinião de Jaime Cancella de Abreu, agora aos domingos n'O JOGO.
Corpo do artigo
Se há área onde os benfiquistas se podem sentir tranquilos - e a entrevista de Domingos Soares de Oliveira à TVI voltou uma vez mais a demonstrá-lo - é a da gestão do clube e da SAD.
13882001
Pelos sucessivos exercícios lucrativos, pela solidez da estrutura financeira e dos capitais próprios, pela recente renovação contratual com os principais patrocinadores. Argumentos decisivos em vésperas do lançamento de mais um empréstimo obrigacionista.
Contudo, o que nós queremos saber é do futebol, sempre do futebol. Não entrando nos detalhes de questões técnicas que não são do seu pelouro, Domingos Soares de Oliveira referiu, entre outros, três pontos que vale a pena realçar:
1. Apontou irrefutáveis fatores externos que empurraram a equipa para o insucesso, como a Covid e os erros arbitrais, mas assumiu por igual a existência de erros internos, nomeadamente o despropositado lançar de altas expectativas (como "vamos arrasar" ou "jogar o triplo", acrescento eu). Reconhecer erros próprios é o primeiro passo para evitar repeti-los.
Rúben Amorim demonstrou, como Bruno Lage o havia feito em 2018/19, que a aposta na prata da casa não é em si mesma um risco
2. Assegurou que a importantíssima estabilidade do grupo vai ser uma realidade para a próxima época. Fica a dúvida se se trata de uma opção estrutural ou tão só o resultado das limitações conjunturais impostas pelo quadro pandémico. O fecho do mercado e a utilização que vier a ser feita de jogadores da formação ajudar-nos-ão a esclarecer esta questão. Rúben Amorim demonstrou, como Bruno Lage o havia feito em 2018/19, que a aposta na prata da casa não é em si mesma um risco. Será bom que o Benfica, que tem a melhor formação de Portugal e uma das melhores do mundo, saiba dela tirar continuado proveito - desportivo em primeiro lugar, económico depois.
3. Admitiu que o não apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões terá inevitáveis implicações sobre a massa salarial, seja através da redução de salários, seja pela diminuição do quadro de jogadores - pontos que logo foram aproveitados para especulações várias. Sabendo que os salários dos jogadores dificilmente serão indexáveis a insucessos desportivos, sobra a não desejada venda de jogadores.
Posto isto, e deixando para já de lado as preocupantes indefinições do plantel - admissíveis quando estamos a dois meses do fecho do mercado e com o Euro a decorrer -, considero que o Benfica possui um quadro de jogadores competitivo o suficiente para garantir o acesso à fase de grupos da Champions, primeiro objetivo da época, a que se soma um treinador que não pode ter desaprendido durante o voo que o trouxe do Rio de Janeiro até Tires tudo o que reconhecidamente sabe de futebol.
Em suma: confio na gestão - pelo que vou subscrever o empréstimo obrigacionista - e acredito que a equipa disputará a Champions. O resto vamos ter oportunidade de semanalmente ir tratando nesta coluna.