Com caras novas, entre as quais quatro jogadoras que deixaram o Futebol Benfica, a equipa de futebol feminino do Amora ambiciona subir ao principal escalão
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Prestes a iniciar-se - o campeonato arranca a 20 de outubro -, a II divisão apresenta-se com equipas que investiram com o intuito de subir ao primeiro escalão. O Famalicão, orientado pelo ex-Benfica João Marques e o Torreense que têm Nuno Cristóvão (ex-Sporting) ao leme, são dois desses casos, mas mais a sul surge o Amora com um projeto com igual ambição. Já com uma goleada na primeira jornada da Taça da AF Setúbal (12-0 sobre o EFF Setúbal), este domingo há novo jogo para a primeira eliminatória da Taça de Portugal com o Alverca.
Diretora da equipa sénior de futebol de 11, Rafaela Ventura jogou até há bem pouco tempo. Uma lesão no joelho forçou-a a duas intervenções cirúrgicas e na última temporada já exerceu funções fora do relvado. E ser segurança com turnos rotativos também lhe dificultava as tarefas de jogadora... "Há três anos, o Amora decidiu apostar no futebol feminino e este ano o presidente investiu mais. Apostou-se na formação com meninas pequeninas, juvenis que o clube tem pela primeira vez, juniores e seniores", conta Rafaela a O JOGO.
Praticou futebol durante 22 anos e agora diz-se empenhada em dar as melhores condições às atletas. "Quando me propuseram que fosse diretora do futebol sénior, disse que o objetivo era dar às jogadoras o que ambicionava para mim e não pude ter. Tínhamos pouco ou nada quando iniciei com rapazes e aos 13 anos já jogava com mulheres de 25 /30, quase com idades para serem minhas mães, porque transitávamos logo para seniores dada a ausência dos outros escalões", recorda.
Com o apoio da Câmara Municipal do Seixal, o Complexo Municipal do Serrado, nova casa da equipa feminina, está a ser dotado de novas instalações, entre as quais uma bancada coberta, um ginásio e um sintético já em utilização. Com o contributo de Rui Sota, responsável pelo departamento de imagem, comunicação e marketing do futebol feminino e também ele adjunto e preparador físico, surgiram alguns patrocínios, segundo nos diz Rafaela, que explica como se deu o processo de recrutamento de quatro jogadoras que trocaram a primeira divisão pelo Amora. Falamos de Carla Fernanda, Sofia Nunes e as internacionais portuguesas Andreia Veiga e Mafalda Marujo, todas ex-Futebol Benfica. "Tive de gastar muita saliva. São jogadoras com muita experiência e ambicionam sempre muito, não querem ficar pelo pouco. Só lhes falta mesmo ganhar o campeonato da divisão", justifica.
Amadoras, mas com a ambição de se tornarem semiprofissionais, para já, o Amora proporciona uma ajuda monetária às atletas para as deslocações e o foco está na formação, sem receio do vizinho Paio Pires, concorrente direto, também candidato à subida. "Acho importante que o Paio Pires invista, que as equipas da margem sul invistam no futebol feminino, independentemente de sermos adversárias, é um trabalho positivo para o futebol feminino", evidencia.
Militares em força e os momentos caricatos de Sofia Nunes
Orientadas por André Branco, polícia de profissão e que está a ter a primeira experiência no futebol feminino, as jogadoras fazem um esforço hercúleo para conciliar estudos/atividade profissional com os treinos, à semelhança do que sucede com tantos outros emblemas do primeiro escalão. O amor fala mais alto.
Osteopata e rececionista numa clínica, Sofia Nunes já ganhou tudo o que havia para ganhar no futebol português. Saiu do Fofó em busca de conseguir mais uma subida de divisão no palmarés, depois de já o ter feito no Odivelas e Fofó. "Espero conseguir ajudar o Amora a fazer o mesmo percurso de ascendência. É importante para o futebol feminino. Geograficamente continuamos a ter alguma discrepância entre Norte e Centro. Sul então é quase inexistente. E este panorama terá que mudar. Há certamente atletas a praticarem bom futebol no sul do país", projeta a lateral-esquerda, 32 anos, seduzida pelo projeto do Amora.
Muito experiente, Sofia, natural de Almada, já viveu momentos insólitos, como o dia em que ficou presa no interior das instalações do Fofó. "Foram todos embora e não deram conta que eu continuava lá a tomar banho. Demorei tanto que o resultado foi ter ficado fechada no clube. Tive que ligar ao responsável para poder ir para casa", conta.
Há episódios que permanecem envoltos em secretismo, mas a defesa recorda, bem humorada, outro. "Saí lesionada antes do término de um jogo e fui para o posto médico para ser tratada. Demorei tanto que a água quente acabou no balneário das jogadoras. Só havia no balneário das arbitras. Elas souberam e atenciosamente disponibilizaram o espaço para eu tomar banho. Fiquei tão envergonhada que me esqueci de levar os produtos de higiene. Só tomei banho com água", revela.
No grupo de trabalho, quis o destino que se juntassem várias mulheres militares.
É o caso da guarda-redes Carina Pintado, a extremo Andreia Mendonça e Mafalda Marujo, avançada e capitã de equipa. No ataque nota ainda para Liliana Venegas, internacional peruana. Licenciada em Educação Física, está a tirar mestrado e além de ser jogadora é treinadora da formação do futebol feminino do Amora.
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