Alenichev recorda conquista da Champions: "Mourinho pediu-me que tomássemos a iniciativa"
Russo saiu do banco quando estava 1-0. Mourinho pediu mais iniciativa e combinações com Deco, Derlei e Maniche. Médio entrou para fazer a assistência para o segundo e assinar o terceiro golo. Tornou-se no primeiro jogador russo a jogar, marcar e ganhar na final da Champions. Mónaco foi difícil apesar do desnível.
Corpo do artigo
Alenichev foi um farol sublime dos anos de José Mourinho no FC Porto, deixando a sua pintura de classe, a sua aura esplendorosa de inteligência em movimento, nas duas finais europeias conquistadas sem piedade pelos dragões. Uma história que começou na Taça UEFA e acabou na Liga dos Campeões. Celtic, em Sevilha, e Mónaco, em Gelsenkirchen, foram adversários e destinos gravados para a posteridade com golos adornados por molduras de culto. O arreganho maior desta odisseia foi o trono da Europa, aquele que o Dragão tomara de assalto em 1987. Aleni ou Dimitri, tantas vezes cantado sem freio nas Antas, rebobina, em exclusivo a O JOGO, uma fita com 20 anos com um Mónaco cilindrado num 3-0 sem discussão, nem por isso sinónimo de facilidades. “Não éramos favoritos a vencer a competição, mas o FC Porto jogou de forma fantástica durante todo o torneio. Na Rússia também tinha toda a gente preocupada com esse jogo, a torcer por mim. Fui o primeiro russo a jogar a final da Champions, a marcar e a ganhar!”, recorda.
Carlos Alberto e Deco já haviam marcado, o Dragão já caminhava firme para abraçar a taça tão desejada, mas faltava um carimbo bem especial, colocado por Alenichev, chegado ao FC Porto vindo de experiência no futebol italiano, entre Roma e Perugia. “Quando faturei, o marcador ficou em 3-0 e só aí todos entenderam que o FC Porto não iria perder essa final. Fiquei muito satisfeito pelo golo, mas nunca pensei num sucesso pessoal naquele instante. A equipa é que importava. Sou grato a ter tido o FC Porto como destino, onde conheci colegas, treinadores e adeptos fantásticos”, recua.
O antigo médio-ofensivo russo recorda também a ação inspiradora de Pinto da Costa e José Mourinho perante o plantel num momento que pedia transcendência individual e coletiva. “Foi um dia especial para ambos, porque era uma final importantíssima. Queriam que nós, jogadores, cumpríssemos apenas o plano de jogo. Quando entrei, a trinta minutos do fim, o resultado estava em 1-0, o Mónaco vinha reagindo, ameaçando empatar e o Mourinho pediu-me que tomássemos a iniciativa. Que me aliasse e interagisse com Deco, Maniche e Derlei para chegar ao segundo golo. Tudo correu ainda melhor do que ele esperava”, desvenda o russo, desmentindo qualquer final mais pobre pelo adversário em questão.
“Foi uma grande vitória e não deixou de ser um jogo muito difícil, num estádio magnífico, com um enorme ambiente e com apoio fantástico dos nossos adeptos. O jogo foi, simplesmente, perfeito”, descreve Alenichev, ainda hoje acompanhado de saborosas memórias de Gelsenkirchen. “É algo que fica para o resto da vida. Quando encontro os meus colegas e amigos no Porto, falamos sempre do dia histórico de 26 de maio de 2004. Eu, aliás, voo três vezes por ano para a cidade para passear e os adeptos chegam sempre junto de mim para me agradecer pelos anos que passei na equipa. Não podia ser mais feliz... graças a esse jogo”, admite.
Um remate para a história
Minuto 75 em Gelsenkirchen. Pouco depois de ter oferecido a Deco o 2-0, Alenichev fuzila e bate Flavio Roma, fixando o resultado final. Já tinha marcado em Sevilha na final da Taça UEFA. Um russo para eternidade.