Ministério Público analisa suspeitas de tratamento preferencial por parte de Vítor Pataco, líder do IPDJ, às águias.
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O início da semana do Benfica foi abalado pelas buscas realizadas no Estádio da Luz no âmbito do processo Mala Ciao, assim como pela alegada fuga ao fisco relativa à transferência de atletas, mas o Ministério Público (MP) investiga também a relação entre o emblema encarnado e o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), suspeitando de favorecimento por parte do líder desta entidade, Vítor Pataco, ao Benfica. De acordo com o "Jornal de Notícias", o MP, na passada segunda-feira, esteve na Luz e nas instalações do IDPJ para recolher documentação de forma a analisar a atuação de Vítor Pataco em processos de contraordenação das águias por apoio a claques não legalizadas.
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O caso surge na sequência de declarações de Augusto Baganha, antigo responsável do IPDJ, que, após ter sido exonerado do cargo, no verão de 2018, acusou Vítor Pataco, que tinha sido seu vice-presidente e que viria a ser o seu sucessor, e o secretário de estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo, de quererem beneficiar o Benfica, nomeadamente nos casos relativos à falta de cumprimento do regulamento de segurança do Estádio da Luz e ao apoio às claques No Name Boys ou Diabos Vermelhos, e que, por 14 contraordenações em oito jogos entre setembro de 2016 e setembro de 2017, levaram à interdição da Luz. E se no primeiro processo foi anulada ao fim de quatro dias, por regularização por parte das águias, o segundo valeu mesmo um jogo à porta fechada e uma multa de 56250 euros, num caso que tem decorrido nos tribunais.
Demitido do cargo simultaneamente à decisão - o despacho foi de 20 de agosto -, Augusto Baganha chegou a sublinhar que teve de assumir o processo para que este ficasse resolvido. "Quando se dá a interdição do campo, tive de avocar o processo. É algo que está na competência do meu ex-colega que agora vai ser presidente, mas fui eu que tive de avocar. Estava retido incompreensivelmente. É que não pode haver entidades beneficiadas", disse, dias depois, à SIC, reiterando: "Ao reter esse processo, o Benfica, de facto, beneficiou com isso, porque continuou e continuava a praticar a ilegalidade."
Líder do Instituto Português do Desporto e Juventude foi acusado por Augusto Baganha, de quem foi vice, de querer beneficiar o Benfica por apoio a claques ilegais. Houve buscas na Luz e no IPDJ
Em setembro, presente perante a Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, atirou: "Uma pessoa pode ter dúvidas, mas não pode ter dúvidas durante dez meses. Poderemos falar de um caso de incompetência ou de falta de isenção, beneficiando uma entidade, o que é grave."
Acusações "infundadas" a quem "não teme"
Considerando que a acusação "é totalmente infundada" e desmentindo "cabalmente" qualquer favorecimento ao Benfica, Vítor Pataco, que chegou a ser diretor-geral da Benfica Multimédia, confirmou, à Antena 1, as buscas por parte do MP. "De facto, houve uma abordagem, fizeram uma visita ao Instituto, levaram o que quiseram, os processos que quiseram. Agora estou expectante para que as autoridades competentes façam a sua investigação. E como estou absolutamente tranquilo em relação a isso estou é ansioso para que a verdade venha ao de cima", assegurou, reforçando: "Quem não deve não teme, não tive nenhum envolvimento no processo, não beneficiei ninguém, nenhum clube, não fui corrompido e não roubei."
Augusto Baganha "sem favor"
Na sequência das acusações de Augusto Baganha, Vítor Pataco apresentou queixa contra este por difamação. "A minha expectativa é que a verdade venha pelos dois lados", atirou Pataco, mostrando-se "satisfeito" por ver "as autoridades competentes estarem a investigar". Sem ter sido procurado, Augusto Baganha, a O JOGO, frisa que "a verdade é como o azeite, virá ao de cima". "Posso garantir que estou de consciência tranquila pela forma, nomeadamente neste caso, como procedi", disse, realçando: "No exercício da minha função nunca decidi a favor ou contra clubes. Muitos foram investigados e sancionados, além de Benfica também Sporting, FC Porto ou Braga." E sobre a informação do Benfica aos seus sócios sobre a necessidade de terem o cartão de adepto para assistirem aos jogos, atirou: "É natural que possa haver uma evolução positiva para que de facto a situação não venha a ter o impacto que teve antes."