Thomas Militão, proprietário de uma empresa de jardinagem, decidiu deixar o futebol aos 33 anos para poder estar mais tempo com a família. Apesar da goleada contra a Académica, viveu dia espetacular
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Thomas Militão fez o último jogo caseiro pelo Caldas na última sexta-feira, frente à Académica, e foi recebido em festa pelos cerca de 3000 adeptos que marcaram presença no Campo da Mata para se despedirem. O capitão diz adeus ao único clube que conheceu na carreira, numa ligação de 24 anos. O resultado, que culminou numa pesada derrota por 4-0 para a equipa de José Vala, ficou para segundo plano, tal como o futebol. O central, de 33 anos, pretende dedicar mais tempo à família, especialmente ao filho.
Já tinha definido que esta seria a sua última época ou foi uma decisão recente?
—Era algo que ponderava desde a época passada, mas acabei por não abandonar por querer ajudar a nova Direção do clube. Depois, comecei a ponderar retirar-me no final desta época e em dezembro decidi que assim seria.
Não equacionou jogar mais uma época e fazer as bodas de prata no Caldas, dado que só tem 33 anos?
—Foi algo que também me passou pela cabeça. Não tanto pelos 25 anos no clube, mas também por gostar de jogar futebol e ainda desfrutar bastante. Contudo, valores mais altos se levantaram. Não há nada mais importante do que a família, ou seja, o futebol passa para segundo plano, porque queria passar mais tempo com o meu filho, que já tem quase quatro anos. Não sou só profissional de futebol, também tenho outro trabalho, numa empresa de jardinagem, e o tempo é muito escasso. Treinamos ao final dia e, por vezes, só conseguia estar uma hora com o meu filho.
A despedida ficou manchada com uma das derrotas mais pesadas da época, frente à Académica. Isso custou-lhe?
—Sim, não foi um dia perfeito pelo resultado (4-0), mas sendo um pouco egoísta e não pensando tanto no clube, para mim foi um dia espetacular, memorável, que vou guardar para sempre no coração. Ter 3000 pessoas na minha despedida significa que fiz bem as coisas enquanto jogador e também quero salientar o carinho que senti por parte da Académica e dos seus adeptos. É algo que vou guardar para sempre.
Quando foi substituído (84’) os adeptos fizeram-lhe uma homenagem. Como sentiu esse momento?
—Os adeptos aplaudiram-me e os jogadores das duas equipas abriram alas junto ao túnel para eu passar. Foi algo muito emotivo e bonito. Houve muitas homenagens no fim, no início e a meio do jogo. Estou muito grato a todos. Fizeram-me sentir muito orgulhoso e feliz por tudo o que consegui atingir.
No fim, o António Montez, que foi eleito homem do jogo, entregou-lhe o prémio. Que significado teve esse gesto?
—Ele e o capitão da Académica, o Leandro Silva, fizeram questão que o prémio fosse para mim. Foi uma pequena homenagem de ambos, uma espécie de prémio de carreira e uma demonstração de respeito por tudo o que fiz no futebol.
Como avalia esta temporada, foi a mais difícil em contexto de Liga 3?
—Foi dura e difícil como todas as outras. Apesar de termos conquistado a permanência há algumas jornadas, algo que noutras temporadas não conseguimos fazer, tenho a sensação que foi dura para o nosso plantel. Ficámos sem grandes jogadores no início, como o Leandro [transferido] e o João Rodrigues [lesionado], o que fez mossa.
Vai manter-se ligado ao clube ou deixa o futebol de parte?
—Ligado ao clube vou ficar sempre. Uma pessoa que passa 24 anos a jogar no mesmo clube parece que tem um cordão umbilical, que não dá para cortar. Não faz sentido terminar a minha carreira aos 33 anos e depois assumir outra função, que me iria ocupar tempo.
Qual a melhor recordação que leva do único clube que representou?
—Foi a minha despedida. Ver mais de 3000 pessoas no estádio foi a minha melhor recordação. Além disso, as meias-finais da Taça de Portugal, subidas de divisão e manutenções. Em 24 anos, seria injusto estar só a nomear um momento.
Chegou a ter propostas para sair?
—Este ano não, mas anteriormente tive propostas para sair. Optei por ficar, não fazia sentido mudar para um clube que fosse do mesmo nível do Caldas.
Vê José Vala como treinador ideal e deseja que continue no clube
Desafiado a comentar se José Vala, que está no comando do Caldas há nove anos, é a pessoa certa para liderar o clube na próxima época ou se já há algum desgaste entre o treinador e a estrutura, Thomas Militão não tem dúvidas. “Como adepto e sócio do clube, faço força para que fique. Não há outro treinador que esteja tão bem preparado e seja tão bom como ele para este cargo”, sublinha o central. “O sucesso do Caldas nestes últimos anos deve-se muito à liderança do José Vala, pelo treinador que é. No dia em que ele sair, o Caldas vai sentir muito. Ninguém tem a noção do que ele trabalha e do que passa aqui. É o treinador de sonho para este clube”, defende Militão, que em relação aos colegas que teve ao longo destes 24 anos não quis destacar nenhum, pois, diz, “houve vários que foram marcantes”.