Todos condenam o que se passou no relvado, mas sublinham que não houve qualquer agressão por parte de jogadores, treinadores ou dirigentes do FC Porto. Palavras de Varandas reprovadas por unanimidade.
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Indignação e revolta. Os portistas discordam da narrativa que está a ser passada do clube na sequência dos incidentes no jogo de sexta-feira.
O clássico continua a fazer correr muita tinta depois dos tumultos no relvado, que tem motivado diversas publicações dos dois clubes nas redes sociais, e do incidente com Frederico Varandas na sequência das declarações deste a culpar Pinto da Costa pelo que se passou.
Entretanto, Sporting e FC Porto tomaram posições oficiais através de comunicados e a verdade é que mais de 48 horas depois do empate, que deixou tudo na mesma na frente do campeonato, discute-se quem empurrou quem, quem atirou a primeira pedra, mas quase não se fala dos quatro grandes golos marcados no Dragão. A ressaca vai longa e O JOGO ouviu onze adeptos do FC Porto que nos deram a sua leitura dos incidentes e todos condenam o que viram no relvado depois do apito final. Contudo, apontam o dedo, sobretudo, ao comportamento dos jogadores e staff do Sporting, com Frederico Varandas à cabeça pela forma como "atacou" Pinto da Costa no auditório do Dragão. Mais do que isso, consideram injusta e premeditada a imagem que, dizem, estão a tentar passar do clube nos últimos dias.
"O FC Porto não é uma organização criminosa, como as vacinas não são uma experiência científica", refere Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell e o homólogo dos Blind Zero, Miguel Guedes, concorda. "A imagem que está a ser passada é aquela que grande parte da comunicação social centralista salivava por passar: é uma imagem serôdia e centralista contra a qual grande parte do país luta", atira. O comentador político Paulo Baldaia diz que "tratam o FC Porto e as pessoas do clube como bandidos" e o escritor Carlos Tê considera que "quem é capaz de incendiar assim o ambiente, como Varandas fez, é capaz de fazer outras coisas".
"Sporting não ganhou o jogo, tenta ganhar a luta"
"No fim do jogo há uma descarga de toda essa intensidade e nervosismo que resulta em comportamentos que não são admissíveis em nenhuma das equipas, mas cuja gravidade maior só consigo encontrar em jogadores e elementos do staff do Sporting. A imagem que está a ser passada é aquela que grande parte da comunicação social centralista salivava por passar. O Sporting vinha preparado para ganhar um jogo ou ganhar uma luta, como não ganhou o jogo está a procurar ganhar a luta."
Miguel Guedes, músico e comentador de O JOGO
"Não é um bando de criminosos"
"Foi vergonhoso o que se passou, acho que os stewards envolvidos deviam ser substituídos por outras pessoas que percebem a que o futebol é só um jogo. É tanta a estática, o ruído, que já não se consegue ver nitidamente onde acaba o futebol e começa a confusão. Há uma série de mal-entendidos em Portugal, colocados a uma dimensão absurda pela televisão, essencialmente, pelos seus programas de discussão e gritaria. O FC Porto não é um bando de criminosos."
Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell
"Atitude inqualificável de Varandas"
"Sentimento de vergonha. Todos têm culpa, mas quem provocou este ambiente incendiário foram os jogadores do Sporting. Sabemos bem que a Imprensa lisboeta é muito facciosa, não convive bem com o sucesso do FC Porto nas últimas décadas e, sempre que pode, tenta rebaixar um pouco o clube. Mas julgo que os adeptos do FC Porto são mais inteligentes do que isso, percebem que a atitude do presidente do Sporting é inqualificável, é de falta de nível."
José Fernando Rio, ex-candidato à presidência
"Quem é capaz de incendiar assim..."
"O que aconteceu no relvado após o apito final é um caso típico de sururu, de ânimos quentes, com toda a gente de cabeça perdida. Há, inevitavelmente, culpados dos dois lados. Não sei o que aconteceu ao certo, é a palavra dos dirigentes do Sporting, mas, a ter em conta a atitude inadmissível de Frederico Varandas na conferência de Imprensa, não sei se devemos acreditar nela. Quem é capaz de incendiar assim o ambiente, como Varandas fez, é capaz de fazer outras coisas."
Carlos Tê, escritor
"Tratam o FC Porto e as pessoas do clube como bandidos"
"A responsabilidade é dos jogadores e dirigentes dos dois clubes. Não havia necessidade. É insultuoso que procurem passar a ideia de que houve um responsável pelo que aconteceu no Dragão, onde eu estive. Não é a primeira vez que isto acontece e é insultuoso não só para o FC Porto como também para as pessoas do norte. Tratam o FC Porto e as pessoas do clube como bandidos. Toda a gente viu a mesma coisa, jogadores e dirigentes de ambos os clubes comportaram-se mal, não é possível a narrativa de que a responsabilidade é do FC Porto porque costuma ser do FC Porto."
Paulo Baldaia, comentador politico
"Só contam um lado da história"
"Há uma atitude provocatória e premeditada por parte do Sporting e vejo a comunicação social de Lisboa a enfatizar um só lado da história, que é o costume: uma mentira dita 1000 vezes passa a ser verdade. Qualquer desculpa serve para chamar grunhos e iletrados às pessoas do norte. De um lado vi uma única agressão, a do senhor dos coletes azuis, que nem faz parte do FC Porto, e vi várias do Sporting, sendo que a mais grave de todas foi a do Coates, quando foi expulso. Eu estava lá e as coisas não foram como querem fazer passar. É uma imagem injusta, sectária, tendenciosa e divisionista, cujo objetivo é instigar ao ódio. Haja coragem para analisar as atitudes dos dois clubes."
Marta Massada, médica
"Imagem é justa para os dois clubes"
"Há culpa dos dois lados e a punição para os culpados, sejam eles dirigentes, elementos do staff ou jogadores, deve ser igualmente severa. A imagem que tem passado, e digo o que sinto, é justa, tanto para FC Porto como para Sporting, porque é igualmente má para os dois. Não me parece que haja só um culpado, a condenação tem de ser dos dois lados, porque houve responsabilidades dos dois lados. Ninguém escapou à vergonha, que mancha os dois clubes."
Manuel Serrão, empresário
"Faz parte da estratégia para prejudicar o clube"
"Nunca vi um antijogo tão planeado e encenado. Aliado aos ânimos quentes, acabou por ter um resultado explosivo. Varandas foi ao Dragão com uma intenção tática de se vitimizar e tentar prejudicar o FC Porto. O que se passou no fim foi exagerado, mas incidentes têm acontecido e todos têm culpa no cartório, deve ser feita uma reflexão conjunta. A imagem que querem fazer passar faz parte de uma estratégia para tentar ganhar na secretaria o que não conseguem no campo."
Carlos Abreu Amorim, professor universitário
"Varandas criou clima de guerrilha"
"O que se passou no Dragão é fruto de um clima de guerrilha que Varandas criou. Vir à nossa casa fazer tamanha crítica a Pinto da Costa foi extremamente provocatório. Rúben Amorim diz que onde vai um, vão todos e nós não ficamos atrás. Pelo que sei, não houve agressões, mas ambos os clubes têm culpa. O que o Sporting pretende fazer é colar os 40 anos de Pinto da Costa a coisas maléficas e vis. E isso é algo que não considero justo, nem correto."
Jorge Amaral, ex-jogador e comentador
"Muito injusto para o mais titulado"
"Reprovo as atitudes, sejam do FC Porto, sejam do Sporting. Não devia ter acontecido. Ouvi Frederico Varandas a dizer que isto representa os 40 anos de Pinto da Costa e isso é muito injusto, está a menosprezar todos os títulos que aquele homem conquistou. Se daqui a 40 anos, Varandas tiver muitos títulos e houver um jogo em que favoreçam o Sporting e ponham em causa tudo o que fez, quero ver se ele gosta."
Fernando Rocha, humorista
"Varandas incentiva ao ódio"
"Houve muitas provocações e um dos responsáveis tem um rosto: Frederico Varandas. Teve uma atitude vergonhosa com o que disse sobre o FC Porto e Pinto da Costa. Está a incentivar ao ódio. É um absurdo, uma estupidez, um crime o que estão a escrever. O FC Porto tem culpa de quê? Basta ver o Sporting-Famalicão, uma confusão brutal, tudo aos empurrões. Aqui foi igual e falam de quem? Do FC Porto. Vamos ter dois jogos para a Taça e quem manda no futebol tem de pensar de maneira diferente."
Nuno Lobo, ex-candidato à presidência do FC Porto