Nélson Pereira, ex-guardião, salienta a O JOGO que o espanhol não tem culpas nas derrotas, porém que foram notórias as debilidades físicas.
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No final de julho, uma lesão no ligamento lateral interno do joelho direito deixou Adán de baixa durante uns dias, mas o espanhol foi capaz de recuperar para estar no início de temporada do Sporting, com um arranque logo em Braga e no Dragão (1.ª e 3.ª jornadas). Nélson Pereira, figura incontornável do Sporting, foi operado seis vezes aos joelhos e assinalou a O JOGO que Rúben Amorim tomou uma decisão arrojada.
Com mais de 23 anos de Sporting, Nélson explica como um problema no joelho limita na forma como o guarda-redes tem de se estirar e como tem de sair da baliza. Assinala risco calculado de Amorim.
"Há sempre uma dose de risco em colocar em campo um jogador que vem de uma lesão destas. É um risco grande também no caso do guarda-redes, porque qualquer golo que ele sofra tem logo um grande impacto. Foi uma excelente recuperação em tempo e o clube estava ciente de que nas primeiras aparições o Adán poderia não estar a 100%. Houve risco, mas este risco foi tomado de forma consciente", afirma Nélson, que, conhecedor dos movimentos do guardião, sentiu diferenças: "A lesão que teve no início de época condicionou-o um pouco. Sentia alguma falta de confiança, o que não é normal nele. Foi uma forma de se defender do problema físico, porque não se consegue esquecer a dor ou a lesão. E isso limita. O Adán, porém, com a experiência que tem, optou por atalhos."
Nélson esteve nove temporadas no plantel do Sporting. Foi ainda treinador de guarda-redes dos leões de 2011 a 2019, sendo ainda coordenador de formação de guarda-redes e diretor dos sub-23 na parte final da sua aventura em Alcochete. Conhece como poucos o que deve um guardião fazer para contornar problemas físicos.
"A lesão que teve condicionou-o, um pouco. Sentia alguma falta de confiança. Foi uma forma de se defender do problema físico"
"A parte explosiva fica limitada. A questão dos apoios não se faz da mesma forma. Tudo o que exija força de pernas implica estar bem dos joelhos: a forma como se estira à bola, o salto, os arranques para sair da baliza", enumera o natural de Torres Vedras, descartando que o espanhol, apesar de longe do melhor momento no arranque do ano, tenha comprometido. Não lhe atribui responsabilidade pelos 13 golos sofridos na temporada, recordando que o espanhol foi criticado depois da derrota no Dragão, por 3-0, após ter cometido um penálti e ter falhado alguns cruzamentos, um deles, que, com algum infortúnio, deu o primeiro golo ao FC Porto:
"Transmite muita experiência e a equipa sente isso. Não faz sentido dizer que tem responsabilidade nas [três] derrotas. Não começou no seu melhor momento, mas, aos poucos, tem voltado a ser o Adán. A equipa subiu de rendimento também com ele."
Experiência para debelar lesão e estatuto ímpar
Adán cumpriu 45 jogos na última temporada pelo Sporting, o ano com mais jogos numa só época na carreira. Essa longevidade residiu no cuidado físico que o atleta tem. Aos 35 anos, um problema no joelho direito poderia ameaçar e ditar uma longa paragem. No entanto, a equipa médica confiou na avaliação do jogador e recomendou-lhe o uso de uma fita kinésio, uma proteção quente, para minimizar o desconforto, e que é para manter, tal como Coates faz, há muitos anos, devido a um problema crónico num joelho.
Adán cumpriu 45 jogos o ano passado, o máximo que fez em toda a carreira sénior numa só época. Vai chegar aos dez guardiões mais utilizados nos leões
Adán é já o 11.º guarda-redes com mais jogos no clube (91) e deve entrar no top-10 ainda em 2022 (está a 13 dos de Costinha). "É difícil comparar porque o Sporting tem um histórico de títulos e esses títulos fazem com que um guarda-redes seja mais ou menos apreciado. Depois do Rui Patrício, o Sporting ganhou Taças. O que posso dizer é que Adán seguiu o legado de Damas, de Carvalho. Construiu já um legado e deu estabilidade e foi campeão, o que muitos não conseguiram", advoga Nélson Pereira.
Espanhol joga "à Coates"
A 29 de julho, o Sporting comunicou que Adán tinha uma lesão no ligamento lateral interno do joelho direito. Uma semana depois era titular na Pedreira, para surpresa de todos. Um dos segredos passa pelo uso de uma fita kinésio, exatamente como a que usa Coates pela lesão de longa data num joelho.
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