Declarações de Helton Leite, guarda-redes que passou por Boavista e Benfica, em entrevista ao programa Bastidores, da Rádio Itatiaia, de Belo Horizonte
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Abel Ferreira e o sucesso no Palmeiras: “Não tenho acompanhado muito o futebol no Brasil, mas conheço bem o Abel Ferreira. Lembro até que, quando estava no Benfica, nós fizemos uma pré-eliminatória nas provas europeias com o PAOK, quando o Abel estava lá, e eles destruíram a gente, eliminaram o Benfica na pré-Champions, e ele com uma equipa com menos qualidade que a do Benfica."
Treinadores portugueses no Brasil: "Creio que em parte deve-se ao sucesso que o míster Jorge Jesus teve aqui, colocou o Flamengo a jogar de uma forma como há muito tempo não se via no Brasil, foi marcante e logo depois veio o Abel e teve muito sucesso. Abriram-se as portas para os treinadores portugueses. Em Portugal estuda-se muito mais tática, o modelo de jogo. Nós, no Antalyaspor, tivemos um auxiliar técnico português, o João Tralhão, que tem diversos cursos da UEFA, e você conversa 10 minutos com ele… é um conhecedor profundo de futebol, de todos os processos de treino. Aqui no Brasil, a primeira coisa de um treino é correr até cair para o lado. No Benfica, os treinos eram compostos por 30 minutos de ginásio, campo, um pouco de corrida e treino com bola. Desde o primeiro dia. Penso que lá trabalha-se mais. É por isso que uma equipa mais modesta, como por exemplo o Boavista que quase esteve para descer de divisão, vai jogar com o FC Porto e é um jogo super apertado. Porquê? Porque o Boavista joga com as linhas corretas, bem posicionadas, os jogadores sabem o que fazer no campo. Quando eu cheguei no Boavista, o futebol que comecei a ver não era o mesmo que se praticava no Brasil. Tive de aprender tudo de novo. Eu recebia uma avalanche de informação nova que acabava os treinos e precisava ficar a estudar tudo que recebia nos treinos. É por isso que o jogador português, ou quem passa por lá, como o brasileiro, tem uma facilidade muito maior de jogar em qualquer campeonato do mundo a seguir. No Benfica, por exemplo, os jogadores tinham que chegar às 7 da manhã, 7h30 café da manhã, 8h00 palestra, 8h30 ginásio, e às 9h00 relvado. E depois, se nos atrasávamos um minuto, 20 euros de multa, dois minutos, 40 euros… Ou seja, chegando um tempo você aprende disciplina, aprende futebol, fica pronto para qualquer equipa do mundo. E aí percebemos que o jogador brasileiro, já feito, quando vai para outro país ele não está pronto. Por isso começam a vir ao Brasil contratar cada vez mais novos para poderem crescer num contexto diferente na Europa."
Jogar com os pés para um guarda-redes: "Jogar com os pés é muito mais importante que a altura de um guarda-redes. Em Espanha temos guarda-redes com 1,85 e é suficiente, mas em Inglaterra já tem de ter mais de 1,90. Hoje todas as equipas iniciam o jogo a partir dos guarda-redes, se não tiver bom jogo de pés vai ter muitas dificuldades para jogar na Europa. Quando cheguei no Benfica, Jesus como treinador, eu falei que precisava de treinar especificamente o trabalho de pés, falei com eles e deram-me um programa específico para isso. Hoje é muito importante o jogo de pés… devia ser um complemento, mas é cada vez mais importante. No meu tempo, quando comecei, os centrais nem olhavam para os guarda-redes, mas hoje não é mais assim.”
Experiência na Turquia, no Antalyaspor: "Do ponto de vista profissional, a experiência na Turquia foi muito boa. Fiz mais de 50 jogos em 14 meses, foi muito bom. É um país desafiador, com uma cultura muito diferente. Futuro? Boa pergunta. Na Turquia não vou continuar, tenho o desejo de continuar na Europa numa grande liga, jogar competições europeias, estou aí à espera do que possa aparecer.”