"A Sandra Madureira insurgiu-se contra um miúdo que publicou algo nas redes sociais"
Testemunhas com "medo de represálias" pediram ausência dos arguidos
Corpo do artigo
Duas testemunhas pediram que as suas imagens não fossem vistas pelos arguidos da Operação Pretoriano por "medo de represálias", afastando-os temporariamente da sala de audiências, no Tribunal de São João Novo, no Porto.
Na sexta sessão do julgamento, a primeira depoente, uma técnica administrativa do FC Porto à data da assembleia geral (AG) extraordinária de novembro de 2023, solicitou, no momento, em videochamada, que os arguidos não a pudessem observar.
Uma vez que a testemunha seguinte, que depôs presencialmente, também havia solicitado o mesmo, a presidente do coletivo de juízes acedeu ao pedido, ditando a saída dos 10 de 12 arguidos presentes para os dois primeiros depoimentos, apesar da manifesta discordância de parte da defesa.
A segunda testemunha, um associado portista que compareceu na reunião de novembro de 2023 e se assumiu como "primo do João Begonha Borges, [atual] vice-presidente do FC Porto", descreveu um ambiente opressor no Dragão Arena, com uma "clara tentativa de coação" concertada para impedir que os desacatos fossem filmados.
"Sempre que alguém tirava um telemóvel, existiam altercações e berros. Ouvi pessoas a ameaçar para que não se filmasse. A Sandra Madureira insurgiu-se contra um miúdo que publicou algo nas redes sociais. Isso foi audível e, para mim, é inequívoco", acusou.
Nos depoimentos da parte da tarde, prestados maioritariamente por hospedeiras do clube, Fernando Madureira foi o mais visado.
O ex-líder da claque Super Dragões foi identificado a ameaçar Henrique Ramos, assistente do processo, para além de ter sido novamente acusado de envolvimento no alegado roubo de pulseiras credenciais, versões que contrariam o testemunho de Fernando Madureira, em 17 de março.
Depois de ouvidas sete testemunhas hoje, em 13 previstas, as diligências prosseguem na próxima segunda-feira, numa altura em que o atraso nas audições supera as 30.
Os 12 arguidos da Operação Pretoriano, entre os quais o antigo líder dos Super Dragões Fernando Madureira, começaram em 17 de março a responder por 31 crimes no Tribunal de São João Novo, no Porto, sob forte aparato policial nas imediações.
Em causa estão 19 crimes de coação e ameaça agravada, sete de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo, um de instigação pública a um crime, outro de arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda três de atentado à liberdade de informação, em torno de uma AG do FC Porto, em novembro de 2023.
Entre a dúzia de arguidos, Fernando Madureira é o único em prisão preventiva, a medida de coação mais forte, enquanto os restantes foram sendo libertados em diferentes fases.