A MULHER DA SEMANA - A partir de janeiro, a Premier League passa para as mãos da mulher que tem gerido a nível global o Animal Planet, um dos canais de maior sucesso da Discovery Communications. É uma opção inédita no futebol inglês, que procura adaptar-se aos novos desafios do negócio.
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Um desenho a ilustrar a regra do fora de jogo, universalmente tida como fora do alcance da compreensão feminina - no fundo, todos concordamos que não faz sentido tirar piada ao jogo, certo? - ou a alusão à ironia de a Premier League ser entregue a alguém que torce pelo penúltimo classificado foram algumas das manifestações humorísticas da fauna do futebol ao anúncio da votação unânime de Susanna Dinnage para diretora executiva (Chief Executive Officer) do campeonato mais valioso do mundo, a partir de 2019.
Será a primeira vez que uma mulher assume o cargo que, nas últimas duas décadas, Richard Scudamore transformou no mais poderoso da modalidade, a este nível. A surpresa ultrapassa a questão de género, por não se tratar de alguém ligado ao futebol, mas à televisão - em rigor, ao negócio da televisão, que o antecessor transformou na galinha dos ovos de ouro da liga inglesa. Nessa área, Susanna Dinnage, que se despede do Discovery, onde foi a primeira a assumir a gestão, a nível global, do canal Animal Planet, é um nome respeitado e até temido nos gabinetes onde se jogam os milhões.
A criatividade é uma palavra-chave para o sucesso da mulher de negócios que fez transferir da sede norte-americana do Discovery para os escritórios Londres
Na hora de apresentar a mulher que trocará o logótipo fofinho do elefante azul pelo leão da Premier League, uma fotografia em plano aproximado que mostra uma mulher a desafiar os 51 anos, com um sorriso decidido, e uma outra em que o traje de executiva dá lugar uma alegre blusa colorida é, aparentemente, tudo o que a imprensa internacional tem nos arquivos para dar a conhecer Susanna Dinnage. Isso e uns poucos detalhes que ela própria revelou, há uns anos, quando aceitou o desafio de uma revista para contar na primeira pessoa uma semana de trabalho. Foi quando contou que é adepta do Fulham com lugar anual e que a encanta a zoologia, por entender a natureza como principal fonte inspiradora.
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A criatividade é uma palavra-chave para o sucesso da mulher de negócios que fez transferir da sede norte-americana do Discovery para os escritórios Londres, de onde é natural, o desafio da gestão de uma marca a nível global. É nesse ponto que está Premier League, consciente de que não será apenas a televisão a alimentar o negócio (um sinal evidente dessa tendência foi a descida do valor do último contrato de transmissão para o Reino Unido com a Sky e a BT). Há que adaptá-lo às plataformas digitais. A Amazon já tem uma fatia da Premier League e é preciso começar a torná-la igualmente valiosa nos novos suportes que os adeptos utilizam para acompanhar os jogos. Esse é o talento que acrescenta ao de negociadora feroz. Que o diga a Sky, um dos principais parceiros da Premier League: perdeu no braço de ferro, quando ela ameaçou retirar os 12 canais Discovery do menu daquela empresa e conseguiu um contrato melhor.
A partir de janeiro, Susanna Dinnage troca o mundo dos animais por um outro em que as mulheres em cargos de liderança ainda são raras, mas, nem por isso estará sozinha: a liga francesa é presidida, desde 2016, por Nathalie Boy de la Tour. Em Portugal, o ex-árbitro Pedro Proença é quem lidera o futebol profissional, com três mulheres nos demais quatro postos executivos: Sónia Carneiro, Helena Pires e Susana Rodas.