MULHER DA SEMANA - Só visto. Exibição heróica da guarda-redes do Braga empurrou as campeãs nacionais rumo à qualificação inédita para a Women's Champions League - e não esteve sozinha na bravura
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Esta é uma história que começa pelo fim. Um fim que nunca mais chegava. Estava-se nos descontos, intermináveis descontos do jogo com o Apollon, do Grupo 7 da qualificação para a Champions League feminina.
O Braga vencia, desde o minuto 10, e o caminho para o apito final reclamava todas as forças das cipriotas para anular a vantagem no confronto directo que significava o apuramento das campeãs portuguesas. De um lado e do outro, as forças estavam no limite e era essa exaustão, mais do que a capacidade mostrada, que poderia pôr em risco mais um passo histórico na carreira do Braga.
O Apollon carregava, não tinha outra saída. Jogava-se de dentes cerrados. No meio-campo, Daniuska vira a coxa esquerda ceder a uma dor que um adesivo denunciava já não ser novidade. Saiu, a três minutos dos 90, e entrou Inês Maia, com uma serenidade impressionante para o caldeirão de emoções em que era lançava. Depois dela, Jana discutiu um lance de altíssimo risco na área e teve de ser assistida. Voltou ao campo, mas já não à defesa - e até poderá falhar o último encontro do grupo, com o Riga. A terceira a cair, com estrondo e susto, foi Rute Costa.
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A guardiã, 25 anos, saiu corajosa a uma bola que podia dar golo de Hardy. Defendeu com todas as forças. Nalgum ponto do cérebro, talvez soubesse que todas seriam poucas para evitar o impacto que a atirou ao chão. Foi um momento violento. Não foi bonito de ver. No entanto, foi essa bravura que ficou como imagem da vitória do Braga, a certeza com que saiu a um lance em que só o coletivo tinha algo a ganhar.
Claro que ficou no chão com dores nas costelas, teve de ser assistida e o cronómetro estendeu ainda por mais alguns minutos o apito final, mas, impressionou aquela sensação de que Rute Costa sabia o que fazia, quando avançou. "Não me permito abandonar um único sonho que seja", declarou, recentemente, numa entrevista. Todos os que assistiram ao encontro com o Apollon tiveram a oportunidade de constatar que é mesmo assim.
É assustadoramente verdade, e não é tudo na história desta estudante de Ciências do Desporto, com mestrado em ensino de educação física nos ensinos básico e secundário. Na ronda anterior, com o Sturm Graz (2-0), foi ela quem, num pontapé de baliza, iniciou o lance do golo de Shade Pratt.
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Rute Costa tem 25 anos, e na entrevista ao 11, por altura do Europeu, contou que começou por jogar voleibol, depois experimentou futebol e foi ponta-de-lança, até a equipa precisar de uma guarda-redes. Quando assumiu esse lugar, fez a escola do futebol feminino português: Albergaria, Boavista, e chegou com naturalidade ao projeto que, no sábado, fez do Braga a segunda equipa portuguesa a qualificar-se para a Champions League, com uma tremenda exibição coletiva de disciplina tática, entrega e carácter. Um orgulho para o Braga como para qualquer emblema. Para o futebol feminino português.