Extremo fez duas assistências contra o Trofense e Glen Riddersholm exalta a capacidade de “remar sozinho” do espanhol
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Qual furacão, Borja Sainz entrou a “matar” no FC Porto de Francesco Farioli. Ao primeiro jogo de preparação para a nova época – 4-0 ao Trofense, anteontem, no Olival –, o extremo contratado ao Norwich bisou nas assistências, deixando claro que vem para impor rapidamente a visão da magnitude da respetiva aquisição, espelhada no investimento feito pela SAD azul e branca. O cartão de visita da última época é impressionante: 19 golos pelos “canaries” numa época sofrida a nível coletivo, com a equipa a não ir além de um dececionante 13º lugar. Valeu quase sempre o basco a remar contra a maré.
Glen Riddersholm, adjunto de Johannes Thorup no clube inglês em 2024/25, acompanhou o ano de “explosão” do ala espanhol e revela, a O JOGO, como o reforço portista fez crescer a alma ofensiva da equipa. “Fez uma época fantástica num Norwich que lutou muito contra lesões e suspensões. Manteve o alto nível durante vários meses e mostrou qualidades individuais incríveis. Mesmo no nosso contexto problemático, exigia a marcação de dois ou três adversários”, atesta o técnico dinamarquês. “Muito forte no um para um, a fugir de fora para dentro e senhor de grandes remates, sempre muito bem colocados. Além do mais, tem olho para assistir os colegas”, corrobora Riddersholm, que realça a desfaçatez de Borja em reclamar protagonismo. “Em vários jogos, foi a nossa única real ameaça. Se tivéssemos sido mais poupados em termos de lesões, penso que ele teria sido ainda mais eficiente e dominante. Tinha esse dom de desafiar os adversários diretos”, assegura, não tendo dúvidas na hora de apontar Borja Sainz como estrela do Championship. “Foi um dos melhores da competição e é merecido o passo que está a dar. Merece isso e já o felicitei. E vou continuar atento, porque ele tem muito por onde crescer. Pode subir ainda mais o nível. Apenas acabou de fazer a melhor época da carreira e, agora, vai lidar com mais pressão e expectativa, diferente do que tinha no Norwich. O FC Porto é um clube de muita tradição e muito forte. Como se diz agora, foi um ‘match’ perfeito”, remata.
Um rapaz temperamental
Glen Riddersholm adorou a experiência de trabalho com Borja Sainz e gaba-lhe o caráter. “É um bom rapaz, mas também é temperamental. Vejo nisso algo importante, difícil de encontrar no futebol moderno. É uma força que tem caído em desuso e ele mostra muito a emoção de querer ganhar. Depois, todos temos forças e fraquezas, mas contem com uma personalidade forte no balneário. Mas não causa problemas”, ressalva o dinamarquês de 53 anos. “Nunca se lesionou connosco e treinou sempre no máximo. Ficava 15 ou 20 minutos a mais a praticar nos treinos, fosse dribles ou finalização”, recorda o ex-adjunto do Norwich.
“Treina imenso, adora o treino e tem capacidade física para lidar bem com os jogos. Nunca se magoou e acho que todos sabem o quão brutal é o Championship, pela carga de jogos e longevidade de prova”, regista Riddersholm, reforçando a dimensão competitiva de Sainz. “Se queríamos poupá-lo ou lhe dizíamos para não treinar, não ficava satisfeito. É um apaixonado por desenvolver o talento e o jogo da equipa também o seduziu, porque tínhamos posse. É uma marca que vai ser importante no FC Porto, vai estar numa equipa dominante e ele tem essas caraterísticas”, exalta.
“Não pode recuar sempre...”
Borja Sainz, extremo-esquerdo de raiz, decifrado pela lupa de Glen Riddersholm, pelos treinos e pelo rendimento. “Ele joga preferencialmente na esquerda, mas também à direita, podendo ainda funcionar como segundo avançado. É versátil e completo para jogar em diferentes posições na frente”, relata, falando ao coração dos adeptos portistas. “Podem esperar um jogador capaz de ir para cima e com vontade de definir a partir do último terço. Ele procura a baliza, eu gostava muito daquele estilo, quando se rompe com a posse mais trabalhada. O Borja é muito dinâmico e enfrenta cara a cara os rivais que lhe aparecem. Adora finalizar as jogadas com os seus grandes remates”, refere. “Fizemos com que ele exprimisse o talento e aceitámos que não podia recuar a cada processo defensivo. Podia falhar um ou dois, tínhamos de arriscar pelas expectativas no rendimento ofensivo dele. Sentiu esse conforto para ser fiel ao seu estilo”, analisa o técnico, sublimando o profissionalismo do espanhol. “Quer sempre mais e também cuida do corpo. É um jogador preparado para fazer muitos jogos por época. Dele é de esperar ação, agora é tempo de pensar na nova realidade, pôr toda a atenção no FC Porto. Focado e com rendimento, não será surpresa que chegue a todo um outro nível”, antevê.
Paixão nos ossos e cântico à “Cucu”
Emiliano Marcondes foi dos parceiros mais queridos de Borja Sainz nos tempos em Inglaterra, iniciando, como médio criativo, muitas das jogadas concluídas pelo basco recrutado pelo FC Porto. O dinamarquês, filho de mãe brasileira, com ritmo de samba nas pernas e longo percurso em terras de Sua Majestade, passando por Bournemouth e Brentford, traçou o retrato do atacante. “Ele adora futebol, carrega essa paixão até aos ossos. Não duvidem, é um verdadeiro vencedor”, explica Marcondes, exemplificando o que torna tão especial Borja dentro das quatro linhas. “Coloca em campo emoção e agressividade. Essa é a maior magia que tem. Os adeptos adoraram-no por todas as capacidades e golos que marca, além de ser puramente técnico e cheio de talento”, regista o dinamarquês.
Curiosos eram realmente os cânticos – inspirados nos que são dirigidos a Cucurella – dos adeptos “canaries” para Sainz. “’Ele come paella e bebe uma Estrella’ ou, nalguns casos, a frase reforçada com ‘… e odeia o Ipswich’”. “Estamos a falar de um grande caráter no balneário, um rapaz cheio de confiança, que nos enchia de brincadeira e diversão. Pessoalmente, tive uma grande relação com ele. O Borja tem aquele registo individualista, mas foi um prazer ter estado por perto, a contribuir para a melhor versão dele. Entendi o grande jogador que é”, prossegue Marcondes, atribuindo nota máxima à operação do FC Porto. “Asseguraram um extremo de grande qualidade, que pode passar por qualquer defesa no Mundo. Vai necessitar de adaptar-se a uma liga e um país diferente, claro”, atira, sentindo, ainda assim, que o espanhol partiu pronto a roçar o esplendor no Dragão. “Ele não precisa que lhe diga algo. Borja é Borja, ele sabe o que é melhor para ele e o que tem de fazer. Tem uma mentalidade fortíssima e lutará para ter sucesso em Portugal. É muito profissional, treina sempre no limite e faz horas extras para maximizar o talento, os desempenhos e a recuperação”, conclui Emiliano Marcondes.
Cultura espanhola ajudou
Glen Riddersholm exemplifica a sintonia do extremo formado entre o Athletic de Bilbau e o Alavés com o futebol preconizado por Johannes Thorup no Norwich. “A chave foi quando tivemos de mudar a abordagem. No aspeto tático, fomos ao encontro da cultura espanhola, a bola tornou-se mais importante. Mesmo numa época atípica, ficámos no ‘top 3’ em termos de posse. Descobrimos que ele é um individualista, que podia criar espaços e procurar áreas onde podia seguir o instinto e fazer aquilo em que é mais forte”, elogia, aludindo à dupla natureza de Borja.
“Marcou bastantes golos, mas também é justo dizer que, connosco, foi um grande jogador de equipa em termos de pressão. Pressionava com alta intensidade. Tem essa atitude agressiva que nos ajudou a moldar o estilo de sermos dominantes com e sem bola. Foi outro grande passo do Borja, vendo o jogador que começou a época e o que a acabou”, sintetiza, acreditando num atleta maleável à componente estratégica e com facilidade de integração.“Ele é inteligente e fica contagiado com a abordagem tática. Adapta-se às ideias e esta mudança assenta-lhe bem. Mas o FC Porto será o maior clube até agora. Ele vai aprender a lidar com um novo tipo de exigência. A carreira é isto, dar passos em frente e ficar mais forte. Vai levar o seu tempo e vai depender do treinador e dos seus sentimentos”, remata o treinador dinamarquês.