Leões negoceiam cedência de créditos do contrato com a NOS para liquidar passivo bancário e pagar a fornecedores.
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O elenco diretivo liderado por Frederico Varandas, segundo O JOGO apurou, está a negociar o desconto de créditos na ordem dos 200 milhões de euros (M€) do contrato celebrado com a NOS em dezembro de 2015, então por 515 M€. De acordo com informações recolhidas pelo nosso jornal, é convicção dos dirigentes leoninos que o processo ficará concluído no final do próximo mês, isto depois de negociações demoradas face à complexidade do processo, que está a ser encabeçado pelo administrador financeiro, Francisco Salgado Zenha. O objetivo principal dos leões é o de reestruturar toda a sua dívida bancária, obtendo igualmente liquidez para fazer face ao pagamento de dívidas a fornecedores e responder aos problemas de tesouraria, que, no limite, podem conduzir a um atraso no pagamento de vencimentos, cenário que está, até ver, afastado.
Frederico Varandas espera concluir o processo no final de março. Sociedade acerta custos com os encargos, que podem variar entre 6% e 8%, incluindo todas as comissões e custos legais
Esta é, de algum modo, mais uma forma de financiamento que a sociedade encontrou, depois de o recurso à banca ter terminado por força das restrições conhecidas do Banco de Portugal e do Banco Central Europeu, mas também devido à incapacidade de recorrer com sucesso ao mercado pela via dos empréstimos obrigacionistas - por exemplo, a SAD apenas conseguiu 25,9 M€ dos 30 M€ que pretendia com a emissão de novembro último. A StormHarbour, que esteve envolvida em idêntico processo no FC Porto (ver peça à parte), e a Seaport Global são as duas entidades que têm mantido conversações com os leões, algumas delas iniciadas no último ano do mandato de Bruno de Carvalho. Uma percentagem entre 6% e 8% - entre 6 M€ e 8 M€ por cada 100 M€ descontados -, incluindo comissões e custos com advogados, da verba descontada está a ser negociada pela SAD.
A confiança dos dirigentes leoninos na consumação do acordo é elevada, e olham para o mesmo como vital para a governação da sociedade nos próximos anos, dado o quadro complexo em termos financeiros. Olhando para os números em setembro de 2018, os últimos divulgados pela SAD, a sociedade apresenta uma dívida financeira de 112,2 M€ - a qual em junho de 2017 era de 127,3 M€ - e uma dívida a fornecedores para pagar até ao prazo de um ano de 51,1 M€, aí se incluindo, por exemplo, clubes ou empresários cujas comissões de intermediação estão por pagar, sendo que o total do passivo é de 283 M€, com o passivo corrente a ser superior ao ativo corrente em cerca de 137 M€.
Porém, recorde-se, a 20 de setembro de 2018 o montante global de receitas previstas até ao final do contrato celebrado com a NOS ascendia a 353,7 M€, dos quais já foram igualmente descontados 44,1 M€. Deste montante, 24,5 M€ são referentes à presente época e 19,6 M€ correspondentes à época 2019/20, representando cerca de 88% e 64% do total do contrato por cada época desportiva, que ronda 27,8 M€ e 29,6 M€, respetivamente. E a SAD, ainda no decurso do mandato de Bruno de Carvalho, recorreu ao factoring, ou seja, à antecipação de receitas televisivas na ordem dos 85,6 M€, que não estão englobados nos 353,7 M€ que ainda constam como receitas até ao fim do contrato com a NOS, em 2028. Varandas e o seu elenco procuram assim ajustar a sociedade às condicionantes financeiras.
FC Porto e Benfica fizeram idêntica operação
O Sporting será, ao que tudo indica, o último dos três grandes a ceder créditos futuros referentes aos contratos televisivos que celebraram. O primeiro foi o Benfica, que em abril último recorreu a cerca de 100 M€ dos 400 M€ contratualizados com a NOS para reduzir em 97,3 M€ o valor da dívida bancária junto de Novo Banco e Millennium BCP. Em maio foi a vez do FC Porto, ao ceder 100 M€ em créditos do acordo com a Altice, que serviram para "colateralizar a emissão de obrigações até ao reembolso" das mesmas.