Beunardeau rescindiu com o Aves depois de ter estado três meses sem receber ordenado. O guarda-redes acredita que o último lugar na I Liga não se deve apenas ao atraso nos pagamento, mas garante que isso afetou.
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O incumprimento salarial manifestado desde dezembro condicionou o foco dos futebolistas do Aves, embora não explique por completo o último lugar da I Liga, analisou à agência Lusa o guarda-redes francês Quentin Beunardeau.
"A direção dizia que íamos receber, nós pensávamos que sim e nada acontecia. Não podemos dizer que o último lugar se deve aos salários em atraso, mas isso mexe um pouco com a cabeça do jogador. A concentração não estava a 100% no jogo e, inconsistentemente, começamos a pensar noutra coisa. Quando estamos bem de cabeça, certamente jogamos de forma diferente", observou o ex-titular da baliza avense.
Na quarta-feira, a Comissão Arbitral Paritária da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) deu razão à rescisão contratual apresentada por Quentin Beunardeau em 7 de abril, cinco dias após o emblema do concelho de Santo Tirso ter falhado a regularização dos ordenados de atletas e funcionários entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020.
"A equipa deste ano é muito boa e tem jogadores de qualidade, mas quando não estamos com sorte nem confiança fica complicado. Não vou dizer que a culpa é deste ou daquele. A culpa é nossa. Fizemos bons jogos e o futebol é mesmo assim. Espero que os meus colegas consigam a manutenção. Vai ser complicado, mas ainda é possível", apontou.
Suspensa desde 12 de março devido à pandemia de covid-19, a I Liga deve ser reatada à porta fechada a partir de 30 e 31 de maio e o Desportivo das Aves entra para as 10 jornadas finais com 13 pontos, nove abaixo da zona de salvação, tendo uma visita ao terreno do Sporting de Braga entre as receções ao líder FC Porto e ao campeão Benfica.
"Fizemos jogos muito bons e perdemos contra FC Porto e Benfica, mas na nossa casa pode ser diferente. Temos qualidade para colocar dificuldades aos grandes e vencer todos os clubes. Se começarmos a ganhar, olharemos para a frente e o [penúltimo] Portimonense e o [antepenúltimo] Paços de Ferreira irão olhar para trás", projetou.
Contratado aos franceses do Metz em julho de 2018, após representar Le Mans, Nancy e os belgas do Tubize, Quentin Beunardeau assumiu-se como dono da baliza avense nas últimas duas épocas e participou em 54 encontros até à paragem de um "campeonato competitivo", em que "todos podem ganhar contra todos".
"Fiz boas épocas no Aves, que significaram o melhor momento da minha carreira. Este ano foi muito complicado. Não conseguimos ganhar muitos jogos, mas os adeptos estiveram sempre connosco e trataram de nos ajudar. Só posso falar muito bem deles e é fantástica para um clube daqueles ter adeptos assim", elogiou.
Admitindo ter recusado convites de outros clubes no verão para dar "prioridade" ao "bom momento" protagonizado na Vila das Aves, como atestou a extensão do contrato original até 2022, Quentin Beunardeau valoriza a experiência passada em solo português, onde viu nascer a filha e gostava de continuar a trabalhar.
"Aprendi uma língua nova e vou guardar Portugal no meu coração. O meu país é muito bom, seguro e tranquilo, mas estou muito feliz por cá. Fiz duas épocas, tenho nome e as pessoas conhecem-me. O meu agente trabalha muito bem e vamos ver o que podemos fazer juntos. Estou confiante em encontrar a melhor oportunidade para mim", afiançou à Lusa.
O guarda-redes, de 26 anos, continua isolado com a esposa e a filha numa residência em Braga, a manter a forma física com "ginásio e corrida", a quase 990 quilómetros da cidade natal Le Mans, o quinto país mais afetado pelo novo coronavírus (25.531 mortos em mais de 170 mil casos), onde permanece a restante base familiar.