A comparação de Rúben Dias a um ex-FC Porto e um aviso: "Vai sair para um colosso"

Rúben Dias, defesa-central do Benfica
Álvaro Isidoro / Global Imagens
Defesa-central cumpre este sábado o 100.º jogo e Hélder Cristóvão, que o treinou, não o vê muito tempo na Luz.
Rúben Dias completa este sábado, diante do Rio Ave, 100 jogos com a camisola do Benfica. O central, apontado por muitos, como um dos grandes valores do futebol português cresceu na equipa B com Hélder Cristóvão, durante dois anos. Aliás, foi com este treinador que realizou todas as partidas na segunda equipa do emblema da Luz: 59 (54 na II Liga e 5 na Premier League International Cup). Em entrevista a O JOGO, Hélder Cristóvão fala do percurso do central e do que este pode fazer no futuro.
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Alguma vez duvidou que Rúben Dias chegasse ao atual patamar na carreira, assumindo-se como indiscutível no Benfica e na Seleção?
-Nunca duvidei, mas principalmente ele nunca duvidou. Ele acreditava tanto que chegaria a esse patamar que era difícil alguém o desmentir. Percebeu-se pelo seu comportamento diário que seria um jogador acima da média. Se calhar o Rúben foi dos jogadores que saiu da equipa B para a equipa principal com menos jogos e, de todos, aquele que estava mais preparado. Com 40/50 jogos já se notava que estava pronto para a equipa principal. Era uma questão de timing.
Trata-se de um daqueles casos em que se vê o sucesso à distância?
-Sem dúvida. Desde muito cedo traçou o seu caminho, a linha que tinha para chegar ao profissionalismo e tem isso bem organizado na sua cabeça. É um plano que tem desde muito novo e está a segui-lo à risca, de uma forma meritória.
Quando o "agarrou" quais foram os aspetos que teve de melhorar nele? Como costuma dizer-se, foi preciso partir muita pedra?
-Não muita [risos]. O Rúben tem uma disponibilidade e uma aceitação para o trabalho, que prova um pouco aquilo que ele é. Nós insistíamos muito com ele no trabalho defensivo, nos apoios, na necessidade de jogar a 30/40 metros da baliza, na exigência de um central ligar o jogo por dentro. O Rúben tinha um jogo muito longo. Sempre defendi, porque fui jogador do Benfica e de clubes que jogavam em ataque continuado, que um central de topo tem de saber ligar o jogo por dentro, tem de entrar em condução, retirar um pouco o passe longo porque estamos a jogar em ataque posicional a maior parte do tempo.
Só foram necessárias mudanças a nível técnico?
-Não. Ele também tinha uma liderança muito abrangente e, numa conversa que tivemos, aceitou alguns ensinamentos. Nessa altura, expliquei-lhe que necessitava de mudar um pouco. Sendo o destino dele a equipa principal, disse-lhe que quando lá chegasse, quando jogasse com 50/60 mil espectadores no Estádio da Luz, o companheiro da linha ofensiva não iria conseguir ouvi-lo. Iria desgastar-se e perder o foco no seu trabalho. Por isso, deveria focar-se mais na liderança de quem está próximo dele, ou seja, dos colegas da defesa, e ele faz isso muito.
Antigo central não esconde que gostaria que o camisola 6 seguisse o percurso de outros defesas do Benfica, como Humberto Coelho e Luisão
Seguindo o percurso de outros centrais históricos do Benfica, será mais cedo ou mais tarde capitão?
-Seguramente. Ele já é, tem comportamentos de capitão, sempre foi assim, embora respeite a hierarquia existente. Eu gostaria que o Rúben seguisse o caminho de defesas-centrais capitães do Benfica, como Humberto Coelho ou Luisão.
O Benfica está a tentar a renovação de contrato, mas com tanta exposição será complicado mantê-lo?
-Sei que neste momento o mercado fala mais alto, o Benfica continua a ser um clube vendedor. O Rúben dificilmente vai continuar em Portugal. Gostava muito que ficasse, mesmo que para isso fosse necessário dar-lhe um salário ao nível daquilo que pagam nos grandes clubes europeus. Seria a referência máxima do plantel e passaria a mística que interiorizou desde criança aos novos jogadores. Mas conhecendo o nosso mercado e a qualidade do Rúben, vai chegar um poderoso europeu e vai levá-lo por valores astronómicos.
Em que campeonato se encaixava bem?
-Em qualquer um porque é um excelente jogador. Mas costumo dizer que ele é um central à italiana, encaixava perfeitamente bem no Calcio. Tem uma grande responsabilidade individual e coletiva e estaria preparado para assumir um papel de destaque numa equipa grande desse campeonato. Está completamente à vontade para qualquer missão tática defensiva.
"Vai ser sempre Rúben e mais alguém a seu lado e não alguém e Rúben... Será sempre a primeira opção e depois será escolhido um parceiro para ele"
Também trabalhou com Ferro. Quais são as principais diferenças entre este e Rúben Dias?
-O Rúben é mais líder. Mais decidido, mais contundente no que tem de fazer. Não duvida do que tem de fazer. Não estou a dizer que o Ferro duvide, mas é mais introvertido. No final, complementam-se muito bem. Aliás, o Ferro aceita a liderança e exigência do Rúben, o que permite que ele próprio cresça. Já na equipa B trabalhávamos esse aspeto com o Ferro, que foi capitão durante uma ano. Notava-se que tinha de se assumir mais como um líder. Agora, em termos técnicos, o Ferro tem uma melhor construção, assume o jogo de forma diferente, é um central que tem uma relação diferente com o jogo, muitas vezes pensa como médio enquanto o Rúben é um central que pensa como defesa.
Olhando para o panorama internacional, o Rúben tem semelhanças com que jogador?
-Falando em termos de prontidão para o jogo, disponibilidade para os duelos, disponibilidade para ajudar os colegas, penso que será um pouco parecido com o Otamendi. Atenção, não estou a dizer que têm características técnicas semelhantes, estou a falar da forma como abordam o jogo, na personalidade. Isso das características técnicas são questões mais complexas.
