André Cruz, Lourenço, Diogo e Niculae recordam a O JOGO o último título do Sporting e deixam louvor.
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Reunimos a turma de 2001/2002, o mesmo que dizer que O JOGO foi à procura de alguns dos últimos campeões pelo Sporting, isto quando o jejum de 19 anos está perto de cair com o intuito de perceber o que sentiram na época, qual o seu olhar para o presente e as comparações que lhes surgem na mente, mesmo que o coração seja marcado pelo verde das experiências vividas.
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André Cruz, Diogo Matos, Lourenço e Niculae são os testemunhos disso mesmo. "Quando fui para o Sporting sabia que era boa equipa, já falava muito com Boloni e tinha outras propostas, mas com ele fui logo assinar. Marquei ao FC Porto no meu jogo de estreia no antigo estádio, uma sensação única. Nunca tinha jogado com tantos adeptos", relembrou Marius Niculae, que chegou com pompa a Alvalade e ciente de que a equipa jogava para recuperar o troféu que perdera em 2001 para o Boavista: "Foi um ambiente espectacular quando fomos campeões. O Jardel marcava sempre. Se não, era o João Pinto, e antes era eu. Lembro-me da grande época de estreia do Quaresma. A equipa era muito forte, os suplentes e tudo. Tínhamos André Cruz, Babb, Sá Pinto, Paulo Bento, Rui Bento, Tello... só craques. É chato não terem espectadores e festejarem na rua como nós fizemos no Marquês."
Na penúltima jornada em 2001/02 o Sporting empatou com o V. Setúbal no Bonfim. Ficava com 69 pontos e o Boavista, que jogava na Luz no dia seguinte, tinha 64. "Ficámos à espera de um percalço deles com o Benfica. Estávamos num hotel perto do estádio, saímos a correr e percorremos do Campo Grande aos Paços do Concelho. Foi uma enchente total, uma loucura. O título e a Taça de Portugal desse ano são os meus melhores momentos da carreira. A Taça também foi uma excelente festa, mesmo com a chuva os adeptos não arredaram pé", explicou Lourenço, hoje treinador de nível II, ex-avançado dos leões, que não compara a equipa de Boloni com a de Amorim: "O técnico atual tem muito mérito por ter feito desta uma boa equipa. A nossa era grandíssima. Era fabulosa. O Jardel, o Pedro Barbosa, o Hugo Viana. Éramos a melhor equipa do campeonato. Desde o início que estava vincado que queríamos ser campeões. Tivemos a felicidade de ganhar ao FC Porto com um golo de Niculae e acreditámos que era possível."
Quarteto puxou das memórias e dos sentimentos que ainda perduram, fazendo uma analogia entre as duas equipas com 19 anos de diferença. Mérito atual cai, sobretudo, para Rúben Amorim
Diogo Matos, que foi jogador e dirigente, lembra-se bem do que viveu. "Identificaria dois jogos determinantes [para o título]. A vitória com o Beira-Mar, num jogo difícil, com um golaço do André Cruz e depois do empate 2-2 com o FC Porto. Tivemos três expulsões, mas conseguimos aguentar. Lembro-me que joguei os últimos minutos e só nos queríamos unir e trancar o resultado. Deixámos o FC Porto apertado [ficou a quatro pontos após essa 18.ª jornada] e mantivemos o primeiro lugar", recordou Diogo Matos, médio na altura com 25 anos e que tinha sido reforço vindo de Alverca, mas que saiu na época seguinte para o Las Palmas com a ambição de jogar mais: "Estivemos a maior parte do ano na frente. Tínhamos um grupo muito maduro, com muita qualidade. Foi uma grande noite, que consagrou o Sporting... o clube era duas vezes campeão em três anos. Tínhamos a sensação de que tínhamos uma base mais estável para o futuro. Muitas vezes diz-se que o Sporting tem menos adeptos, mas a verdade é que alguns jogadores, que foram campeões noutro lado antes de ganharem no Sporting, disseram que nunca tinham visto nada assim, que tinha sido de facto uma época especial."
André Cruz, esse, sempre viu um favoritismo da equipa de então. "Lembro-me de ter o cabelo pintado, da festa total. É importante competir, mas mais o é vencer, porque as pessoas lembram-se é dos vencedores. Nós éramos favoritos. Todos os golos, todas as defesas ajudam a decidir", avaliou o ex-defesa André Cruz, um dos mais determinantes para a época.
A forma como o Sporting venceu em Braga, depois de ter estado com menos um elemento desde os 18 minutos, devido à expulsão de Gonçalo Inácio, impressionou os antigos craques, assim como a união demonstrada
A juventude poderá trazer, com surpresa, não só o título como uma época invencível. "A comunicação e a motivação que o Rúben Amorim dá aos jogadores têm feito diferenças. Nota-se que o grupo está muito unido. O Matheus Nunes salta do banco e é decisivo, o Jovane igual e não reclama por não ser titular. O João Pereira, o Neto, o Antunes, jogadores com carreira internacional, não jogam tanto e fazem parte de um grupo unido, cujo mérito é muito do treinador", analisou Lourenço. Marius Niculae está sempre atento desde a Roménia. "Este Sporting tem a estrela de campeão. Vi os jogos mais importantes e acompanho os resumos. Vi com o Braga e foi impressionante. Com menos um jogador ninguém esperava ganhar, os sportinguistas já ficavam contentes com o empate. Há estrela nesta equipa. Aconteceu o mesmo com o Benfica. Têm muito mérito. Era mais fácil ganhar no nosso tempo, mas apesar de ser mais difícil agora podem mesmo terminar invictos. Seria incrível", vincou o ex-dianteiro, que ganhou tudo em Portugal. "Não acompanhei muito, porque estou como secretário de desenvolvimento económico estadual. Mas com o Braga ficou claro o espírito da equipa. Foi uma confirmação de uma equipa que tem de ganhar. Não gosto de falar em sorte em campeão. Há trabalho e competência", opina André Cruz. "Vou deixar de dar entrevistas como pertencente à última equipa campeã pelo Sporting", brinca Diogo, refletindo quanto aos plantéis: "Há chance de acabarem sem derrotas e não tem comparação com o grau de maturidade da equipa de 2001/02. O deste ano tem irreverência e um treinador que a soube gerir. Teve o pé dos jogadores, mas há muita mão do treinador. O padrão de jogo e os resultados dizem-no. Podemos comparar esta equipa com a nossa em relação ao espírito, mas nos jovens é bem diferente. O grupo era tão consistente que o Quaresma e o Viana integravam-se facilmente. Agora é mais complicado porque os agentes e os contratos são diferentes. Nenhum deles chegou a achar que sabia tudo. Até nisso o Amorim tem mérito", rematou.