"Enquanto Rui Pinto espera na cadeia, as suas revelações arrasam clubes e jogadores", escreve a New Yorker
Revista norte-americana conta toda a história do Football Leaks e do denunciante Rui Pinto, com muitos detalhes sobre episódios do futebol português e de outras paragens.
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A revista The New Yorker, dos Estados Unidos, publicou hoje online (sairá na edição impressa no dia 3 de junho) uma extensa reportagem sobre o Football Leaks e a detenção, em Portugal, do denunciante Rui Pinto, assumido colaborador da plataforma que trouxe à luz do dia uma soberba quantidade de informação que resultou em sentenças, inquéritos e algumas acusações ainda em curso, em diversos países, sobre vários casos de ilegalidades no futebol ou relacionadas com os seus protagonistas.
Assim aparece sugerido, desde logo, no título e pós-título da reportagem, assinada pelo jornalista, correspondente em Londres, Sam Knight: "Como o Football Leaks está a expor a corrupção no futebol europeu - Enquanto Rui Pinto espera na cadeia, as suas revelações estão a arrasar os mais famosos clubes e jogadores".
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Destacando ser esta a semana da final da Liga dos Campeões, "a mais prestigiada competição entre clubes, uma das maravilhas do desporto mundial", argumenta que o lado dos negócios do futebol tem dado "origem a uma mistura densa de táticas feudos e dinheiro" Um cenário que o jornalista vê como agravado face às intervenções financeiras de oligarcas russos, fundos de soberanos do Médio Oriente e consórcios chineses.
Um dos primeiros exemplos na reportagem aponta para Bruno de Carvalho, ex-presidente do Sporting, que começou por se afirmar contra os acordos com parte terceira (que permitem a um clube adquirir parte dos direitos associados a um jogador noutro clube) , conhecido por TPO (Third-Part Ownership), mas acabou denunciado pelo Football Leaks como tendo, também ele, usado o mesmo procedimento com os angolanos do Recreativo de Caála. Seguiu-se a revelação de contratos confidenciais de FC Porto e Benfica, prossegue a reportagem, nomeadamente o facto de, daquela forma, se ter ficado a saber que Jorge Jesus ganhava no Sporting cinco milhões de euros anuais.
Referindo práticas idênticas noutros clubes e ligas europeias, a New Yorker "passa a bola" ao jornalista Rafael Buschmann, da alemã Der Spiegel, que há mais de 10 anos investiga situações de crime organizado e financeiro na área do desporto: "Fiquei completamente eletrizado quando me chegou às mãos tanta informação", revela o germânico, na altura contactado por "John", o pseudónimo de Rui Pinto quando atuava sob anonimato.
Seguiram-se as revelações do contrato de imagem de Cristiano Ronaldo. E o momento em que Rui Pinto, ainda com 27 anos (há três anos), se encontra em Bucareste com o repórter alemão e lhe passa mais de quatro terabytes de informação digital, quase o dobro de outro caso de denúncias internacionais: os Panamá Papers. Neles encontram-se documentos que revelam alegada evasão fiscal relacionada com transferências e contratos, empresários, jogadores, administradores e dirigentes desportivos.
Sobressaem na reportagem os casos de alegada agressão sexual de Cristiano Ronaldo, os incumprimentos do Manchester City e os planos de uma série de poderosos emblemas no sentido de se criar uma competição internacional de elite para substituir a Liga dos Campeões. A sua detenção já em janeiro deste ano, as acusações de que é alvo (tentativa de extorsão), o seu quotidiano, as suas origens e o que pensa sobre "o recreio de corrupção de uma elite internacional" preenchem grande parte da reportagem.
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É referida ainda a revelação, por Rui Pinto, do contrato de Gareth Bale com o Real Madrid (2016), contrariando o clube espanhol, que terá anunciado a sua contratação ao Tottenham, em 2013, por uma verba inferior aos poucos mais de 100 milhões de euros mostrados no Football Leaks. Os madridistas, escreve o jornalista, esconderam o real valor para não ferir suscetibilidades a Cristiano Ronaldo (adquirido por 94 milhões).
A reportagem segue com outros casos relacionados com o futebol português e não só: mais Ronaldo, com o caso da fuga aos impostos em Espanha, Paul Pogba (da Juventus para o Manchester United, em 2016) e o caso dos e-mails do Benfica, assim como todos os seus episódios, conforme foram tornados público pela Imprensa, desde a alegada influência na classificação dos árbitros portugueses aos planos de influência das esferas político-sociais, alegadamente desenhados num power-point por responsáveis do clube lisboeta.
A New Yorker recorda ainda a passagem da Polícia Judiciária pela Luz e a detenção de Paulo Gonçalves, antigo diretor jurídico do clube encarnado, assim como os processos movidos pelo Benfica ao FC Porto. A este propósito, insere uma declaração de Rui Pinto: "Nunca houve nenhuma declaração da polícia ou das autoridades portuguesas a relacionarem-me com isso".
Os processos relacionados com incumprimento de fair-play financeiro do Paris Saint-Germain e do Manchester United são também atribuídos ao denunciante português pelo periódico norte-americano, assim como os planos da Superliga europeia.
A reportagem termina contrastando o facto de as autoridades portuguesas terem Rui Pinto sob custódia e acusado de crimes, enquanto é considerado cooperante da Justiça em França, na Bélgica e noutros países.
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